sábado, 28 de maio de 2022

Novo artigo: Autismo e a Teoria das Colheres

 

Autismo e a Teoria das Colheres


Achou o título curioso?
Conhece a tal "Teoria das Colheres" ?
Então irei primeiro explicar sobre isto antes de me aprofundar no tema.
A "Teoria das Colheres" foi elaborada por uma moça que tinha Lupus , para tentar mostrar como era conviver com Lupus, e depois esta teoria foi muito usada por pessoas com doenças crônicas (físicas) em geral.Mais tarde, muita gente nas Comunidades de Autismo passaram a aplicá-la (equivocadamente, aliás) ao Autismo.
A "Teoria das Colheres" supõe que todas as pessoas tenham um número potencialmente infinito de colheres (simbolizando níveis de energia usados na vivência de cada dia) para usar no decorrer do dia. E que, entretanto , pessoas com doenças crônicas ou deficientes teriam um número limitado de colheres para usar como recursos para enfrentar o dia a dia, e que no final do dia, estas pessoas teriam sua colheres esgotadas, usando até a última, enquanto pessoas "saudáveis"/"normais" teriam ao fim do dia um estoque enorme de colheres ainda por usar.
Vai daí que pessoas que tem visão patologizante e deficientista do Autismo, tentaram aplicar isto ao Autismo, alegando que, supostamente, Autistas teriam um número de recursos bem menor do que os Não-Autistas e que sua energia, seus níveis de energia, seriam menores também e se esgotariam mais rápido.
Muito bem, agora sim podemos falar da relação do Autismo com esta teoria.
Primeiro, a "Teoria das Colheres" é uma teoria patologizante, psicofóbica, capacitista e preconceituosa quando se tenta relacioná-la ao Autismo. E evoca uma superioridade, uma Supremacia Não-Autista, que simplesmente não existe. É uma teoria que transgride as regras da Neurodiversidade por que compara (sempre desfavorávelmente) Autistas com Não-Autistas. É uma teoria que não leva em conta a imensa, quase infinita Diversidade Autística e trata todos os Autistas como se fossem um só.
E, quando aplicada ao Autismo, pressupõe e parte de um falso princípio: de que o Autismo seria uma "doença mental crônica" e/ou uma deficiência (ao atribuir um número menor de colheres, ou seja, supondo que Autistas fossem pessoas anormais, que tivessem colheres faltantes.
Porém, o Autismo não é nada disto.O Autismo é uma Diferente Natureza de Ser, que faz parte da Diversidade Natural Humana, como a própria Genética Molecular o atesta.
Nós Autistas temos o mesmo número , quase infinito, de colheres que os Não-Autistas, e não gastamos elas, ou seja, nossas energias, até a última ao fim do dia.
Primeiro, não existe um Autista igualzinho ao outro, para que todos gastem o mesmo número de colheres por dia.
Segundo, cada Autista gasta suas colheres em velocidades diferentes e de maneiras diferentes, com coisas diferentes, não há um padrão- justamente por que somos tão diversos !
Terceiro, por que todos os dias são diferentes entre si, cada dia acontecem coisas diferentes, os dias não são iguaizinhos uns aos outros, não há um dia padrão.
Quarto, por que ninguém parou para pensar, ao tentar aplicar esta teoria ao Autismo, que em muitos casos,nossas colheres podem ser diferentes das dos Não-Autistas, podem ter tamanhos diferentes, estilos diferentes, serem feitas de materiais diferentes das deles.Logo, esta comparação entre Autistas e Não-Autistas que esta teoria faz ao tentar ser aplicada ao Autismo, não é válida, não se aplica. O nosso próprio jeito de usar, o nosso próprio propósito em usar e a nossa própria velocidade de usar, podem ser diferentes dos/das Não-Autistas. E mais importante ainda:
Diferença não é doença ! Divergir não é ser doente!Divergir, ter um comportamento diverso, diferente não é ser deficiente !
Não nos falta colher alguma, nosso nível de energia e a variação de velocidade com que usamos estas colheres é a mesma dos Não-Autistas, então não somos deficientes em relação a eles.
Então, por que adotar e tentar aplicar esta teoria a nós, para que tentarmos nos inferiorizar, por que tentarmos nos comparar?
Certos Autistas precisam superar este complexo de inferioridade e aumentarem suas auto- estimas e auto-confianças.
Não somos inferiores, nem piores, nem doentes em relação a ninguém.
Por que somos Autistas.Somos Diferentes sim, somos Divergentes sim, sobretudo em nossos comportamentos, mas...
SOMOS DIFERENTES , PORÉM EQUIVALENTES !
Somos equivalentes aos Não-Autistas em tudo, inclusive em valor.
E temos de nos orgulhar da nossa Diferença.
Ela não destoa das outras pessoas, não nos tora "esquisitos", ela nos destaca 1Positivamente !
Nada mais sobre nós sem Nós !
Autistas, Unidos, jamais serão excluídos !

Cristiano Camargo

domingo, 21 de março de 2021

Autismo: Socialização não é Dever !

 Socialização não é obrigação nem dever de ninguém, assim como a interação social. É um direito, não um dever, uma opção a ser respeitada, seja qual for a decisão tomada (ser ou não sociável). Igualmente o não desejo/o não querer/o não gostar de socializar não deve ser não deve ser interpretado nem como "dificuldade de socialização, nem como déficit de socialização, nem como atraso de socialização, nem como sintoma de nada, nem como doença, nem como transtorno, nem como síndrome, nem como desordem, nem como disfunção, nem como perturbação, nem como condição, nem como deficiência de nada, nem como inferioridade em relação a nada, deve ser interpretado como uma escolha natural, parte da Natureza de Ser da pessoa. Autistas tem uma Natureza que é contemplativa por natureza e tem uma necessidade muito maior de Solitude em relação 'as demais pessoas.E isto são características intrinsecas da Natureza Autística, não doenças, sintomas, etc. Deve ser compreendida como natural e respeitada.Não quer, não quer, ok, acabou, não seja. É assim que as pessoas devem reagir quando o/a Autista resolve não ser sociável ou demonstra não estar 'a vontade com o ambiente social.Isto NÃO É EXCLUIR, vejam bem, isto é respeitar as Diferenças. É perfeitamente possível a pessoa estar inclusa na sociedade sem se relacionar físicamente (ao vivo) com ninguém e viver sozinha, isolada e FELIZ, trabalhando em home office, ganhando seu dinheiro, se sustentando, pagando suas contas, consumindo, portanto, estando perfeitamente inclusa dentro da sociedade.Sociabilidade pode ser oferecida (sem insistência), como convite, mas jamais deve ser imposta, exigida, ordenada, forçada - Para ninguém !

 

Cristiano Camargo

quinta-feira, 4 de março de 2021

Autismo: Opositor Desafiador a quem?

 

Opositor Desafiador a quem? A o quê?
A Psiquiatria chama de Transtorno Opositor Desafiador toda pessoa, sobretudo criança, seja ele/ela autista ou não,que não seja absolutamente obediente aos pais (ou 'a própria Sociedade) de modo absolutamente servil, que não seja totalmente submissa, cativa, calada, quietinha, e que não aguente todos os abusos arbitrários de autoridade sem reclamar, sem protestar, sem dar o troco na mesma ou em diferente moeda.
Não seria o comportamento "transgressivo" da criança mera resposta 'a transgressão e autoritarismo que sofre? Não será ela uma vítima?Não terá ela direito de reagir 'a altura, do jeito que sabe?E não se está falando só de pais: muitas vezes o sistema escolar pode ser opressor e autoritário, colegas de escola idem, funcionários da escola idem, parentada idem, vizinhos idem.E 'as vezes é simplesmente pressão demais de todos estes lados por sobre a criança e uma hora ela explode, e se as provocações autoritárias são sistemáticas e frequentes, mais frequente será o comportamento agressivo, "transgressor", "opositor", "desafiador".
Afinal, a quem a criança desafia?Não , não é a quem manda nela, é ao comportamento de mandar nela, o comportamento de abusar de mandar nela. O que é chamado de desafiador, é assim chamadom por que quem chama este comportamento disto se sentie pessoalmente desafiado(a) pelo comportamento da criança, e no fundo o "desafio" está em forçar na marra a obediência, a submissão, a servilidade e subserviência da criança 'a quem manda nela, seja com remédios psiquiátricos calmantes e dopadores, seja com "terapias"/"métodos", seja com "punições físicas exemplares" sistemáticas. Nunca é aventado que 'as vezes, muitas vezes, o problema não está na criança, e seu comportamento, mas em quem manda e abusa do poder de mandar.Nunca se manda quem manda para um acompanhamento psicológico, só a criança.Por que sempre pensam que o problema seja sempre ela, só ela.
Só que criança calada, quietinha, obediente demais, e que não dá trabalho, é criança doente. Criança dá trabalho sim, e tem o direito de dar trabalho, de desobedecer e errar, e todo pai e toda mãe precisam estar cientes disto e precisam aceitar este "trabalho" que a criança vai dar como natural e inevitável, e devem se certificar de que tem estrutura psíquica para suportar isto. Não dá para querer se pai ou mãe e ter esperança de que o filho ou a filha nunca vá desobedecer nem nunca vai dar trabalho nenhum, pois crianças não são bichinhos de pelúcia, que a gente coloca numa prateleira e ele fica lá quietinho, pela eternidade.Vai dar trabalho sim, vai desobedecer muito sim, vai quebrar as coisas sim, vai se machucar, se acidentar, vai cair da bicicleta tentando empinar, é simplesmente natural a criança desobedecer e aprontar, fazer bagunça, dar trabalho, fazer birra, é próprio da infância, esta fase de aprendizado, então o papel dos pais não é impedir que ela desobedeça, é se certificar que ela aprenda com seus erros e amadureça, é ensinar.E quanto maior o autoritarismo e punitivismo, e qto mais estes sejam sistemáticos, maior a revolta que causarão. Não se trata de "fazer todas as vontades da criança" (argumento típico dos autoritários), se trata de que disciplina tem limites, e autoridade dos pais também, há que se saber até onde se pode ir. E há que se entender que pais e mães são humanos como quaisquer outras pessoas e podem errar sim, quem não erra nunca?E assim como podem errar, podem aprender com seus erros também para acertarem na próxima vez. A autoridade tem de ter um propósito e este não pode ser o de conseguir o respeito das crianças pelo medo -aí é desrespeitar as crianças. O respeito precisa advir naturalmente e espontâneamente, quem gera o verdadeiro respeito é o Amor, não o Pavor.Por que quem ama, respeita! E isto vale tanto para o lado dos filhos como para o lado dos pais.
A Psiquiatria faz isto para tentar passar para estas pessoas e para a sociedade, que filho saudável é filho submisso, cativo, servil, calado ,subserviente, sem opinião nem vontade própria, sem visão crítica da realidade e de que é "normal" e "saudável" os que ela considera "normais" serem neuróticos, autoritários e impacientes, estressados . Sim, é uma questão política, não de psiquiatria.
Autoritarismo parental existe sim, sobretudo do membro masculino dos progenitores(mas não só dele, embora dele seja o mais comum), mais do que a hipócrita sociedade quer admitir.
E sim, vários psiquiatras são neuróticos, ansiosos, autoritários e estressados.Podem nem passar isto para seus clientes, mas tiram a máscara desumana de auto controle "divino" quando chegam em casa para suas famílias.Claro que nem todos, mas vários.
E vários deles passam esta neurose, este autoritarismo, esta ansiedade, este stress e esta ideologia absolutista para seus trabalhos científicos, para criar transtornos que, no fundo, são expressões da sua própria psiquê, da forma autoritária com que veem o Mundo, as pessoas. Outros, por ganãncia, para terem mais clientes e prescreverem mais remédios, terem mais lucros, patologizando o que é saudável e natural. Ainda assim,certos psiquiatras tem um ditador dentro de si (especialmente os que redigem o CID/DSM), que grita para se libertar e sair do armário e romper a camisa de força do autocontrole...então, quem é transtornado opositor desafiador mesmo?
 
Cristiano Camargo

segunda-feira, 1 de março de 2021

O Autista e seus interesses específicos:O que fazer?

 

O Autista e seus interesses específicos: o que fazer?

Está cheio de postagens nos grupos de Autismo tipo :"-Mamães, meu filho só se interessa por isto, só se interessa por aquilo, o que é que eu faço?"
(como se nos grupos só tivessem mães de Autistas lendo, nem lembram que muitas vezes tem Autistas lendo, pais, médicos(a0, terapeutas, uma infinidade de gente diferente que frequentam estes grupos)
Mas vamos lá:
Geralmente quem publica este tipo de postagem, está preocupada e tem a intenção de fazer o filho se interessar por outras coisas (e geralmente o assunto que o filho se interessa não costuma despertar o interesse da mãe por tal assunto) ou tentar fazê-lo parar de se interessar tanto por aquele assunto.
Ocorre que esta preocupação (que muitas vezes vira aflição e angústia maternas, enquanto o filho não está nem aí para se interessar muito por um assunto só, é uma fonte de prazer e alegria para ele) é descabida e fruto de pura desinformação sobre o Autismo.
As pessoas chamam de fixação,mania, obcessão, mas não é isto, não é nada disto. E o termo "hiperfoco" também é errado e inadequado para descrever, igualmente.
Autistas são extremamente diversos entre si, mas algumas coisas grande parte deles tem em comum.
Sim, Autistas muitas vezes tem interesses intensos e duradouros em assuntos específicos, mas ao contrário do que as pessoas pensam, eles não ficam presos a estes assuntos, nem ficam neles a vida inteira, sem se interessar por mais nada ao mesmo tempo.
Geralmente, Autistas tem fases de interesses por assuntos específicos, e é preciso deixar bem claro que não só crianças, mas estas fases perduram pela vida toda, mesmo na fase idosa da vida.
E um assunto de uma fase não substitui o outro, como as pessoas comumentemente pensam.Não. Eles vão sendo adicionados durante a vida e vão formando uma coleção.
É como a pessoa que lê um livro por muito tempo e depois vai organizando cada livro que lê em cada fase numa prateleira, todos enfileirados, e vão se acumulando ao longo da vida.
Sim, eles podem ficar vários anos no mesmo assunto, na mesma fase, assim como uma pessoa pode passar anos até terminar de ler um livro de 1500 páginas, por exemplo.É preciso que o assunto se esgote, ou o Autista enjoe daquele assunto um dia, para ele se interessar por outro, e pode acontecer de ele descobrir um assunto novo que seja fascinante para ele, e então coloque o velho assunto na prateleira, para sua coleção e inicie o novo, espontâneamente.
Isto tudo ocorre naturalmente, com o tempo, e 'a medida que a idade vai avançando, ele vai acumulando e colecionando assuntos preferidos e pode passar a se interessar sozinho, sem interferência de ninguém nem de nada, por diversos assuntos ao mesmo tempo. Uns mantém um assunto principal e diversos secundários a vida toda, outros diversificam seus assuntos sem ter nenhum principal, varia.
E a duração das fases varia muito, não só de indivíduo para indivíduo, mas para um mesmo indivíduo pode ter fases mais longas e mais curtas ao longo da vida, com durações aleatórias e imprevisíveis.

Também o modo de se concentrar e tratar seu(s) assunto(s) de interesse varia muito.
Então, muitas mães e muitos pais ficam preocupadas(os), aflitas(os), achando que o filho esteja encarceirado em um assunto só para sempre e que nunca mais vai se interessar por mais nada, por que para elas/eles, a fase "já está durando demais".
Porém, esta é uma visão contaminada pela desinformação e falta de informação sobre o funcionamento interno do Autismo, e também pela neura do imediatismo e ansiedade estressada muito comum nos Não-Autistas, e que na verdade não se fundamenta.
A aflição na verdade se origina na impaciência de muita gente para esperar a fase passar e entrar outra.
Muitas mães e muitos pais percebem, muitas vezes com certa mágoa (levando para o lado pessoal, quando na verdade isto não se aplica) , que muitos Autistas não apenas não estão nem aí para a preocupação dos pais com esta fase de interesse único (ou , muitas vezes, aparentemente único)como parecem não estar nem aí com eles (Autistas) próprios estarem nesta fase de interesse, o que aturde muitas mães e muitos pais, que não entendem como ele mesmo não se preocupa.Ou, pior, acham que ele não se preocupa por "ser doente", o que é totalmente errado da parte deles.
Na verdade, o Autista não se preocupa com ele estar naquela fase de interesse por que para ele isto é perfeitamente natural, não tem nada de mais, é algo que preenche sua vida e lhe dá prazer e alegria, então, por que se preocupar.
Mas não é verdade, como muitas mães e pais possam pensar, que ele sempre não esteja nem aí com a preocupação deles com ele.
Para os Autistas, como estar numa fase de interesse é algo natural e benéfico, muitos Autistas tende a pressupor que os pais também achem isto e vejam isto do mesmo jeito que eles veem.
Porém, quase nunca é assim, e muitos Autistas percebem esta preocupação dos pais, sem entender por quê (já que para eles é algo natural e pressuposto), e acabam sendo levados pela angústia, aflição , preocupação e ansiedade dos pais. No caso de muitos Autistas a aflição não é só a de ver os pais preocupados com eles (o que muitas vezes gera um sentimento de culpa), mas também não entender como é que algo que para ele é tão natural,tão benéfico, tão gostoso, tão pressuposto pode ser motivo de preocupação dos pais, e ele pode se perguntar se ele não estaria se comportando de modo errado, se não estaria fazendo algo feio, errado, pode ficar com medo de ser punido, enfim...a angústia pode assaltá-lo pela dúvida entre fazer o que gosta ou agradar aos pais e despreocupá-lo as custas do que o faz feliz.
Então, respondendo as perguntas destas mães: O que elas devem fazer?
Para ele parar de se interessar por este assunto específico e se interessar por outras coisas, NADA.
Devem sim incentivá-lo a continuar esta fase de interesse e ter paciência para esperar ele espontâneamente, sozinho, se interessar por outra coisa, que será tão específica quanto a primeira. E lembrar: nem todo garoto TEM QUE gostar de futebol, nem toda garota TEM QUE gostar de bonecas, fogõezinhos, etc, nem toda criança TEM QUE gostar de videogame o dia todo, nem toda criança TEM QUE gostar "do que todo mundo gostava quando era criança". Seu filho e sua filha tem nomes. Eles e elas não se chamam "Todo Mundo". Eles e elas tem direito a gostar de dinossauros, animais pré históricos, carros, astronomia, trens, navios, ficção científica, ou certos desenhos animados, programas de TV, séries, filmes de cinema muito específicos. Eles tem direito de preferir ler livros de papel ao invés de ficar na TV ou no videogame. Tem Autista com gosto para tudo, para todos os gostos, a variabilidade (diversidade) é imensa. E natural. E saudável!
E muitas vezes, sobretudo quando uma fase de interesse permanece a principal pela vida toda, estes interesses específicos podem ser o sinal de uma vocação forte para uma carreira profissional no futuro. Um Autista que ama dinossauros pode acabar virando um paleontólogo. Um outro que gosta de carros pode virar um engenheiro um dia. Outro que ama astronomia pode virar um astrônomo ou mesmo um astronauta no futuro.
Por tudo isto é bom incentivar, estimular.
Interesses específicos e concentrados são a grande alegria da vida dos Autistas, os fazem felizes. Vamos então deixá-los curtir suas felicidades e serem felizes. Estas auto realizações elevam o ego, afastam a angústia, a depressão, os surtos, a auto confiança, a auto estima, só fazem bem!
Então, não tentem tirar isto deles, não tentem cortar o barato deles. Vamos deixá-los em paz, por que mesmo se eles se isolando para curtir o que gostam e viverem estas paixões intensamente, eles não estão se sentindo sozinhos, nem solitários, eles estão felizes.
E entender isto neles é entender e aceitar as Diferenças !

Cristiano Camargo

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Um pouco sobre a Diversidade Autística

 

Quando a pessoa diz: "-Os Autistas tem grandes potenciais e capacidades, menos este grupo de Autistas aqui, porque este grupo de Autistas os médicos chamaram eles de "severos", é o mesmo que ela dizer :"-Separa este grupinho aí , dos demais Autistas, este grupinho não tem direito a ter capacidade nem potencial para nada, vamos deixar eles para trás, por último, dar tratamento privilegiado aos outros e deixar estes marginalizados e esquecidos." Esta pessoa está sendo capacitista, preconceituosa, e está segregando, marginalizando e criando uma Casta Mental que esta pessoa julga ser inferior ao resto.
E quando a pessoa diz " - Este grupinho X é de gênios, tem as melhores capacidades e potenciais, vamos dar as melhores chances e a melhor educação para eles, Já o grupinho Y , vamos separá-los do resto e deixar eles só recortando papéizinhos coloridos e colorindo desenhos prontos , por que é o máximo que vão conseguir aprender", a pessoa também está sendo capacitista, preconceituosa, está segregando, marginalizando, estigmatizando e criando uma Casta Mental de Afortunados e outra Casta Mental de Desvalidos, párias, já que a pessoa considera o grupo X superior ao grupo Y, então está privilegiando um grupo enquanto está desprezando e estigmatizando, marginalizando o outro.
Tudo isto é excluir.São formas de excluir Autistas. Alegar que sejam incapazes só por causa da classificação no diagnóstico da pessoa é excluir, marginalizar, desprezar, menosprezar, pré-julgar e estigmatizar.É negar chances e oportunidades a uns e dar todas as chances e oportunidades a outros.
Injusto, não é?
Pois é, é assim que o conceito de "espectro do Autismo" funciona. Quem acredita e pratica este conceito faz exatamente isto: cria Castas Mentais, favorece uns, prejudica a outros, privilegia a uns e marginaliza, exclui, joga para fora da sociedade os outros.
E quem foi excluído sempre terá muito menos chances de se desenvolver- e aí é que nasce o processo de infantilização de Autistas, um processo cruel, artificial, injusto , eugenista.
Por isto que a Visão Positiva do Autismo e da Neurodiversidade e seu conceito de Diversidade Autística é um conceito moderno, justo ,eficiente. Por que eliminando-se classificações, graus, níveis, categorizações e comparações enquanto se mantém as diferenças, e se coloca as diferenças só como diferenças, sem se preocupar em medi-las, dá-se a todos os Autistas as mesma chances, as chances justas, as oportunidades adequadas e favorece-se a todos para empreender o desenvolvimento deles, todos eles.Sem exceções, sem separações, sem privilegiados e se sem desvalidos.
Por isto o conceito de "espectro do Autismo" TEM QUE CAIR em desuso e ser substituido de uma vez por todas pelo conceito da Diversidade Autística !
Então, quando falarmos em capacidades e potenciais de Autistas, paremos de ficar falando:"-Ah, mas este não consegue!", "-Ah, mas este não tem capacidade para isto!" "-Ah, mas este aqui não tem jeito!" "-Ah, mas este aqui já está comprometido!" "-Ah, mas nada disto se aplica a aquele ali ! " "-Ah, mas aquele ali,nem consegue fazer isto ou aquilo ainda, nunca vi conseguir" .
Todos conseguem, todos podem conseguir. Todos tem potencial e capacidade . Não vamos mais discriminar ninguém e separá-lo do resto. Nenhum Autista é melhor que o outro, mas nenhum Autista é pior que o outro. Vamos parar de comparações entre Autistas, e entre Autistas e não Autistas. Vamos ser justos, democráticos, modernos. Vamos dar chances e oportunidade a todos.Todos ! Não importa como eles aparentem ser, todos ! Todos tem este direito, e não podemos negar a ninguém!
Viva a Diversidade Autística !
Autistas, unidos, jamais serão excluídos !
 
Cristiano Camargo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Tem medo que seu próximo filho seja Autista?Então leia aqui !

 

Para quem já é mãe de Autista e está grávida novamente ou vai ser pai de Autista de novo, ou tem medo de que o próximo filho seja Autista:
Ser Autista é um privilégio negado a muitos. Se ele for Autista, orgulhe-se e fique feliz com esta fortuna na sua vida ! E recomendo que deixes o diagnóstico para o mais tarde possível, para depois dos 30/40 anos de idade, enfim, deixe ele se decidir se quer tentar o diagnóstico ou não. pq diagnóstico só atrapalha, e vc evita de ele ter de ficar passando por tratamentos, métodos e remédios psiquiátricos, que só tem intenção de tentar transformá-lo em um não autista, e atrapalha o processo de desenvolvimento e amadurecimento autista dele. Mantenha-o o mais autista possível a vida toda e o incentive a se orgulhar de ser Autista. Mostre a ele que ser diferente não é destoar, mas se destacar positivamente, e que ser Autista é ser diferente para melhor. Eduque-o desde bem cedinho para a independência, autonomia e liberdade. Mostre a ele que ele deve se determinar a perseguir e conquistar seus sonhos e realizá-los. Sempre mostre a ele que ser Autista é ser Capaz, que Autistas são seres capazes, eficientes, não deficientes, e que ele pode conseguir tudo que ele quiser, mas que tem de se esforçar e se determinar, lutar. Deixe-o errar e faça com que ele aprenda com os erros e não o deixe se frustrar. Mostre a ele a importância de acreditar em si mesmo, na sua capacidade , no seu potencial, e acredite , aposte e invista nele e nos sonhos dele tanto quanto ele. Nunca o superproteja ! Faça tudo por ele, mas não faça tudo para ele, ensine-o e deixe-o tentar quantas vezes for necessário, até conseguir, nunca o deixe desistir, seja dele a maior torcida, o/a maior e melhor torcedor(a), vibre com as vitórias e conquistas dele, apóie-o e incentive-o após as derrotas, e mostre que só perdendo é que se ganha mais para a frente, e que as pessoas só aprendem errando, que ninguém aprende nada acertando sempre. Ensine-o que certos sofrimentos são necessários, mas que serão gratificantes no futuro. Ensine-o a enfrentar as pessoas, impor respeito, nunca se abater e a não ser passivo diante do bullying, ele precisa saber se defender. Mostre a ele do que ele é capaz, seja um exemplo e mostre do que você é capaz, dos desafios na vida que venceu e superou. Respeite a necessidade de solitude, não o pressione por sociabilidade, evite que outras pessoas o pressionem por sociabilidade e interação social, respeite a natureza contemplativa dele. Incentive a imaginação e a criatividade dele, incentive o crescimento do Mundo Interno de Fantasia dele. Evite autoritarismo, seja só o companheiro(a) dele -quando ele quiser compania. E lembre-se: o aprendizado autista é lateral, não de frente , olhando nos olhos, então o ensine sempre de lado, ao lado dele, olhando de lado para ele. Siga estas dicas e sejam felizes !
 
Cristiano Camargo

domingo, 14 de fevereiro de 2021

A invisibilidade Autista

 

Um Autista morre ao cair do décimo sexto andar, e o que é debatido nas redes sociais?
A mãe dele. Nem uma palavra sobre ele, sobre o que poderia ter levado ele a isto, se ele sofria bullying constante na escola, ou outras razões externas ao Autismo, que poderiam ser a causa, como em muitos casos, por exemplo o abandono do pai levando-o a se sentir profundamente rejeitado e a depressão, enfim.
Não se trata de buscar culpados, isto é bobagem, se trata de descobrir o que o levou a isto, para que novas mortes sejam evitadas no futuro.
Claro que é importante apoiar a mãe e saber o que ela passava, mas poxa, quem morreu foi o filho, então por que o que ele passava antes de falecer não é discutido, por que o que levou ele ao suicídio não é investigado por ninguém?Digo, as razões psicológicas...
Mãe e filho são vítimas, é certo. Mas não acho certo focar exclusivamente na mãe e fazer de conta que o filho não existe, não existiu, como se ele fosse (e tivesse sido a vida inteira) invisível.Alguém precisa falar sobre o filho, ele merece a atenção da sociedade também.
Autistas não são seres teóricos nas sombras de suas mães. Eles existem, e nenhuma mãe é mãe se não tiver filho, são os filhos que fazem da mulher uma mãe, a razão da existência dela e ela a razão da existência deles, uma bela dialética.Mas falando só da mãe, esta dialética fica incompleta. Vamos dar mais importância aos filhos!
E , por favor, ao falar do filho, não joguem o Autismo em um tribunal, nem o julguem, nem o condenem, ele é inocente (no sentido de não é culpado) no caso , no triste caso desde rapaz !
Não cabe culpa a ninguém, nem a nada, mas a corrente de acontecimentos psicológicos que levou a este desfecho precisa ser exposta !
Cristiano Camargo