O faz de conta que não é social como reflexo Autístico
Claro que crianças autistas sabem brincar de faz-de conta !Afinal, elas tem um mundo interno de Fantasia sofisticado que acompanhará a pessoa de criança a idoso, evoluindo e amadurecendo junto com ela.
Só que muita gente vem reclamar que criança autista não saiba brincar de "faz de conta" , e sabem por que?
Por que o "faz de conta" da criança autista , que ela quer e gosta e está acostumada a brincar (sobretudo com ela mesma) não é aqueeeeele "faz de conta" padronizado, convencional, imposto seja por adultos ou outras crianças (neurotípicas)!
Não é um "faz de conta" social, em que se deixa de criar o que se quer, o que lhe veio na mente para adotar o dos outros e se encaixar nos dos outros,, como em um quebra cabeças pré-determinado por quem propôs a brincadeira, pois não é (e nem deve ser) um "Faz de conta" social, muito menos para agradar a ninguém, é para se expressar e colocar o Mundo Interno de Fantasia para fora, é um "faz de conta" particular, singular, só dela, diferente de todos os outros e com orgulho de ser diferente!
Claro, muitos dirão:"- Ah, mas isto estraga a brincadeira,autistas não sabem brincar!"
Amigo(a), vem cá: Não é que Autista não saiba brincar, ele não quer. Sobretudo, ele não quer brincar do jeito que você quer que ele brinque, ele não quer brincar do seu jeito.E por quê?
Simples: por que ele já tem o jeito dele e ele acha o jeito dele melhor e mais divertido do que o seu!
Nunca parou para pensar nisto?É, é a lógica Autística, tão lógica, tão simples, que muita gente fica inventando mil teorias malucas mirabolantes complexíssimas nivel pós-doc, sem se atentar para uma resposta tão simples e que estava na frente do nariz, bem na cara o tempo todo,e depois que as pessoas entendem, se perguntam:como não percebi isto antes?
Não percebeu pq ficou perdendo tempo com visões patologizantes e espectristas do Autismo e não deu a devida dimensão humana a ele. Sobretudo, não perguntou ao próprio Autista, preferiu adivinhar junto aos seus diplomas- e o Autista lhe deu um baile !
Mas voltando a questão da brincadeira de faz de conta, esta nos Autistas não é social pq a Natureza Autística em si não é social,e não é pq não quer ser, não gosta de ser, e se considera auto suficiente e se basta a si mesma. Quando a gente se basta, deixa de procurar a si nos outros, e se conscientiza de que se est´completo, não precisa sair procurando quem o complete, e quando você se liberta de procurar a você mesmo nos outros e encontra em voc~e mesmo, você é mais feliz, mais independente, mais livre.Autismo é liberdade de ser quem você realmente é, por isto, uma decisão de se socializar é tão complexa e difícil de tomar para um Autista, pois se socializar significa perder uma parte de si para os outros , ou mesmo até, se anular.Por isto que tem Autista que quando decide por si próprio se socializar, o faz por uma pressão interna muito forte (por exemplo, uma necessidade de namorar, uma paixão avassaladora e irreprimível por alguém). Mas o que traz sofrimento, depressão e angústia a Autistas é a pressão, muitas vezes absurdamente forte e hostil, pela sociabilização, a sociabilização. E quem é feliz com uma multidão te cercando exigindo que você se socialize? Pode parecer aos outros que não seja assim, mas é como o Autista sente e interpreta esta pressão.E se ela for constante e sistemática, pode ocorrer de ele internalizar esta pressão- e aí o sofrimento será atroz !
A própria maneira da Sociedade de encarar a recusa ou falta de interesse/vontade em sociabilizar como se fossem sintomas ou doenças é uma forma cruel e sádica de pressão,muito desonesta e mal intencionada.É um mecanismo ditatorial de inferiorizar quem não lhe obedece e não é como quem domina quer que ele/ela seja.
E aí voltamos 'a brincadeira do "faz de conta" e descobrimos a mentalidade que está por trás desta brincadeira: impor a sociabilização por meio da mutilação do que você é, do como você quer, do que você pensa/imagina, em prol dos outros, em prol do planejamento de quem propôs e manobra a brincadeira de modo a chegar no resultado que quer, e ensinar a obedecer, se enquadrar, se encaixar no restrito modelo social, se submeter ao jugo da ditadura da maioria, pois o que cada um quer nada vale, só vale o que é imposto, pois socializar-se é dizer o que os outros querem ouvir, não o que se é, quem se é, o que se pensa. Então, não é doentio o Autista colocar um dinossauro num faz de conta em que todo mundo quer fazer de conta que é guerreiro ou princesa, ou querer que um helicóptero resgate Rapunzel da torre, ou querer que o Speed Racer chegue no meio da brincadeira de faz de conta que está na floresta procurando Chapéuzinho vermelho e a leve no carro para fugir do Lobo Mau.É apenas diferente, é criativo, é divertido. Uns podem achar que destoa da brincadeira e a estraga, outros, no entanto, poderão considerar que a brincadeira foi mais enriquecida e divertida, que a chatice da mesmice saiu por uma porta, e a infância de verdade entrou por outra, pois o verdadeiro faz de conta é o que a gente faz, o que a gente imagina, o que a gente quer, o que a gente é, o verdadeiro faz de conta é espontãneo, natural e criativo !
Cristiano Camargo