Hoje eu vi no Facebook uma postagem sobre um menino autista que
gostava de usar bonés, e só usava de uma única cor e estilo.O menino não devia
ter nem 12 anos de idade, a julgar pela foto, pequeno ainda.E lá dizia, pelo
que entendi, que ofereceram a ele um boné de outra cor e ele finalmente aceitou
e usou.Bom, na postagem, chamaram o fato do menino gostar de usar boné, e de
ele preferir só uma cor e estilo, de limitação, e acharam que o fato de ele ter
finalmente aceito usar um boné de outra cor, de superação.
Não, não é uma limitação e não é uma superação e não
tem nada de mais. É preciso entender que esta é uma preferência pessoal
natural, que todas as pessoas tem direito de ter, e que os Autistas também tem
direito de ter sem que esta preferência seja chamada de limitação!
Oras, quanta gente não-autista adulta não usa boné
por aí em tudo quanto é lugar, tudo quanto é ocasião?Está cheio por aí!E por
que ninguém chama isto de limitação?Pq são não-autistas, pq se fossem, seriam
chamadas de limitações, entendem o que quero dizer, e o que há por trás disto?
O que dizer então de gente não-autista adulta que
usa óculos escuros dentro de shoppings ou outros lugares fechados e bem
iluminados?Então, as preferências pessoais, se forem de não-autistas, serão
chamadas de manias, e se forem de autistas serão chamadas de limitações?Por que
a diferença no tratamento?
Preferências pessoais não são manias nem
limitações, e aceitar uma nova cor, um novo estilo, não é nenhuma superação, é
algo natural, as pessoas tem direito de fazer opções-ou autistas agora deixaram
de ser pessoas para serem diagnósticos? Se é preferência e não limitação, não
é superação, ou estaremos chamando autistas de sub-humanos.
E por que é dado aos não autistas o direito de
escolha, de preferência, ainda que a mesma persista por anos a fio, sem chamar esta
preferência de limitação ou restrição, e aos Autistas não é dado este direito,
e sim um dever de ser obrigado a gostar de tudo sem poder recusar nada, sem
poder preferir nada, sem que esta preferência seja desqualificada como
limitação ou restrição?Quem a Sociedade pensa que Autistas são?Pessoas ou
Diagnósticos?Agora então nós Autistas temos de lutar para deixarmos de sermos
considerados diagnósticos vivos para passarmos a sermos reconhecidos pela
sociedade como Pessoas Humanas?Para subir nosso status social para Humanos? E
por acaso Diagnóstico é status social?Por acaso Diagnósticos respiram, comem,
bebem, tem sentimentos e personalidades?Olha o nível de absurdo que a visão
patologizante do Autismo chega !
Preferências não são nem manias , nem limitações ,
nem restrições, e precisam ser respeitadas como preferências, vamos parar de
chamá-las de manias, de limitações, parar de impor esta regra absurda de
Autista ser obrigado a aceitar sem questionar absolutamente tudo o que lhe for
oferecido, e se não aceitar é ingrato, é limitado, é restritivo. Isto não está
certo. Se autista gosta de boné, dinossauro, marca de carro, cor, trem, avião,
etc, não basta apenas respeitar a escolha dele e deixar ele gostar do que
quiser e usar o que quiser, vamos tratar esta escolha dele como preferência,
algo sadio e a que todas as pessoas tem direito, vamos humanizar nosso olhar
sobre o Autismo, pq o simples e gélido olhar clínico patologizante faz mal para
os Autistas e para as famílias dos Autistas e para todos que lidam com ele,
pois negam a condição humana saudável ao Autista, retirando esta condição dele
e colocando outra artificial, o rótulo , o código de barras, a marca em brasa
pregada na testa de Diagnóstico, que ainda precise provar que é...GENTE !
Cristiano Camargo
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