Infelizmente existe um imenso e intenso preconceito contra
os Ativistas Autistas pelo Autismo, quando se trata do acompanhamento dos
Autistas, desvalorizando sua expertise e experiência prática e supervalorizando
profissionais diplomados e graduados, quase sempre neurotípicos, que se dizem “especialistas
em Autismo” , mas que na verdade não tem qualquer conhecimento do Lado de
Dentro do Autismo, que só os Ativistas Autistas tem.
Isto advém não apenas do preconceito contra os Autistas via
psicofobia ou via visão patologizante/espectrista/reducionista/infantilizadora
do Autismo, mas também pelo preconceito contra os Autodidatas e contra a
própria prática do Autodidatismo, vista injustamente com maus olhos pela
Sociedade, e por isto mesmo, intensamente desvalorizada e ignorada, como se não
existisse.
É flagrante, por exemplo, a ausência total de palestrantes
Autistas autodidatas nos Congressos, Simpósios , etc, oficiais de universidades
e entidades de classe científicas sobre Autismo. Falam de nós Autistas, com uma
distância, uma frieza, como se não fôssemos reais, mas como se fossemos seres
teóricos , imaginários, verdadeiros fantasmas , e o que mais se vê nos anais
destes eventos científicos/acadêmicos são verdadeiros exercícios de adivinhação,
conjecturas e suposições, muitas delas absolutamente fantasiosas e absurdas.O
conceito de que Autistas não teriam empatia nem Teoria da Mente, por exemplo,
veio destes eventos promovidos pelos tais “especialistas” cheios de diplomas,
mas vazios de sensibilidade e humanidade, tentando conferir objetivodade a uma
matéria (Autismo) que não poderia ser mais subjetiva.E, ao nos excluir e garantir
um foro privilegiado para si mesmos, estes senhores e estas senhoras se mostram
excludentes, portanto preconceituosos e psicofóbicos.
Falam mal do Autismo sem parar, e, covardemente, não nos
dão o direito de nos defendermos das acusações a que nos fazem diuturnamente.
Mas não é só neste meio tão elitista, orgulhoso e
arrogante, presunçoso, que o preconceito contra os Autistas e os autodidatas se
dá.
Também nas redes sociais e inclusive nas Comunidades sobre
o Autismo, muita gente prefere confiar na palavra de um doutor diplomado, que
muitas vezes nunca conviveu com um Autista na vida, no dia a dia, do que
confiar na palavra de um consultor ativista autista autodidata, que pode não
ter diploma, mas tem o prazer de viver o Autismo na pele todo santo dia e que o
conhece profundamente, especialmente pelo lado de dentro, não apenas de sua
própria experiência pessoal, mas de sua convivência diária com outros autistas
e com muitas mães e muitos pais de
autistas, o que lhes confere uma experiência de orientação sobre o assunto
preciosa e instimável, que não deve ser desvalorizada de maneira alguma.
São pessoas que fazem o Bem de graça, apenas pelo prazer de
fazer o Bem e de levar um sorriso a outro Autista e seus pais.
E que tem muito a contribuir com a Ciência, a Psiquiatria,
a Psicologia e demais áreas relacionadas, sem falar nas contribuições para a
construção de um sistema escolar mais adequado a Autistas e a incluí-los.
Pesquisadores, Professores Universitários e pesquisadores
das áreas relacionadas ao Autismo tem muito a ganhar e aprender conosco e nos
valorizar, e deveriam substituir sua mentalidade patologizante (que vê o
Autismo como se fosse doença, transtorno, etc), espectrista(que ainda adota a
ultrapassada teoria de “espectro do Autismo” ao invés da moderna
Neurodiversidade), reducionista (que reduz o Autista a um simples
diagnóstico e tira sua humanidade, ao
invés de reconhecer que o Autismo como uma Diferente Natureza de Ser, que faz
parte da diversidade natural humana) e infantilizadora( que vê os Autistas,
mesmo adultos, como se fossem eternas crianças , que nunca amadureceriam e
nunca se desenvolveriam ou teriam um desenvolvimento anômalo , o que é, é claro, uma acepção falsa ,
desinformada e preconceituosa, ignorando totalmente as 3 fases do Processo de
Amadurecimento e Desenvolvimento Autista, um processo absolutamente natural e
sadio), pela Visão Positiva do Autismo e pela Neurodiversidade, as duas
vertentes mais modernas, reais e verdadeiras dos conhecimentos sobre o Autismo.
O autodidatismo já deu contribuições notáveis e
imprescindíveis ‘a Ciência e ao Conhecimento da Humanidade. E muitos destes
autodidatas, referidos frequentemente como “gênios”, eram Autodidatas sem um
único diploma, e eram Autistas !
Não que todo Autista seja “gênio”, claro, muito longe
disto. A grande maioria dos Autistas não são, nem nunca foram, nem nunca serão “gênios”,
como, aliás, a grande maioria dos neurotípicos também.
Pode -se dizer inclusive que o rótulo de “gênio” esteja
para a realidade como o conceito de “mágica” estava para os povos ignaros
durante a História da Humanidade. Ou seja, chama-se de “gênio” aquele que viu o
que outros nunca tinham se dado conta que existia antes, e que tiveram uma
idéia realmente criativa de como abordar um assunto, então, quem descobria
coisas que as pessoas consideravam assombrosas, simplesmente por que ninguém
tivera esta idéia antes, e não notara tais detalhes antes, as pessoas os
chamavam de “gênios”, assim como chamavam de mágica tudo o que seus
conhecimentos não podiam explicar.
De qualquer forma, é hora de aceitar que o Autodidatismo é
tão valioso quanto o Academicismo e que pode contribuir para a Ciência e para a
Sociedade tanto quanto o academicismo, e assim, valorizar e incluir nos eventos
científicos oficiais os ativistas
autodidatas autistas.
Assim, é mais do que hora de nós Autistas nos unirmos e
levantarmos nossas vozes e nos fazer ouvir, brandando com coragem :”-Nada mais
sobre nós sem nós” e “Autistas unidos jamais serão excluídos”, pois isto é o
justo, temos de cobrar esta dívida da Ciência e da Sociedade para conosco !
Cristiano Camargo
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