Autismo e o Brincar fora da caixa
: o absurdo da Poda da Criatividade no brincar infantil
No início dos anos 70, quando eu era bem
criança, eu montei uma pequeno automóvel com um brinquedo de armar semelhante ao Lego,
chamado Hering-Rasti, que tinha complexos sistemas de suspensão, com molas e tudo, e um sistema de direção semelhante ao
de carros de verdade. Também a estrutura da carroceria mais parecia feita por
um engenheiro, tamanha a complexidade, e isto aos 9 anos de idade. E não era só
isto, eu fazia aviões, navios, carretas com articulação que funcionava e naves
espaciais.
Hoje, terapeutas
analisam o modo com que a criança brinca como ferramenta para determinar o
diagnóstico, e elegem um rígido, estreito e limitado padrão de brincadeiras
infantis que eles consideram ser os adequados, e qualquer coisa que escapar
desta padronização, será considerado um “brincar inadequado” e “passível de
intervenção”.
Oras, “inadequado”
para quem , cara-pálida?
É muita presunção e
onipotência querer ditar autoritariamente do que uma criança possa brincar e do
que não possa, querer impor apenas uma maneira de brincar e elegê-la como
perfeita, referência, padrão, adequada e querer que todas as crianças brinquem
sempre do mesmo jeito, com sempre as mesmas brincadeiras.
O brincar é uma
conduta, um comportamento? É!
Mas, se na minha
época, um doutor viesse me dizer que não era assim que se deveria brincar, e
tentasse me forçar a brincar apenas do jeito que ele queria, porque ELE
considerava tal brincadeira a “adequada” para mim (sem nem levar em conta se eu
iria gostar ou querer de brincar do
jeito que ele queria), e matasse assim a minha criatividade, só por que a minha
brincadeira precoce e diferente o ajudou a me diagnosticar Asperger, quem eu
seria hoje? Nunca teria sido um escritor, nem desenhista, talvez no máximo um
burocrata infeliz...
Tem gente que acha
que só porque na caixa está escrito que o Leo é para fazer um caminhãozinho, é
para a criança fazer um caminhãozinho igualzinho o da foto da caixa, ou será
diagnosticado doente, com alguma síndrome ou transtorno. Percebem a mentalidade
patologizante da Psiquiatria? Querer transformar a criatividade natural e
inocente de uma criança numa patologia?
Depois me perguntam
por que sou contra o diagnóstico precoce, e porque eu sempre considerei que foi
uma bênção para mim ter sido diagnosticado apenas aos 41 anos de idade !
Não, a Psiquiatria
precisa aceitar o “brincar fora da caixa” como saudável e salutar, como algo
natural, que advém da própria Natureza do Autismo. Esta autonomia e liberdade
criativas do brincar fora da caixa, de ser alegremente fora dos padrões, esta
liberdade subversiva ao sistema que Autistas adoram e que é sua essência de
ser, sua alma, não pode ser punida. Nem “corrigida” por intervenções. Autistas
não podem nem devem serem limitados pelos terapeutas para se encaixar em
padrões, sob pena de comprometer seu desenvolvimento e sua maturidade.
O meu eu só pude ter
chance de desenvolver por que meu pai nunca tentou limitar minhas brincadeiras
quando eu era criança e me deixou livre para brincar como eu quisesse. Meu pai
foi sábio, obrigado, pai, por sua atitude, eu não seria quem sou hoje se o
senhor não tivesse me compreendido tão bem e visto o óbvio e me concedido a
liberdade criativa que eu precisava para liberar meu podenticail.E ele é um
neurocientista. E acho que a Ciência Psiquiátrica deveria seguir o exemplo
dele,(E outros pais e mães também) e ver no brincar fora da caixa algo natural,
mais do que isto, um potencial para o desenvolvimento, um potencial para
trabalhar e desenvolver, não uma patologia a ser corrigida, eliminada; pois a
criatividade autista, minha gente, é nela que está a chave para o desenvolvimento
dos Autistas desde crianças , para se tornarem adultos de sucesso !
Vamos então pensar
fora da caixa e deixar nossos filhos brincarem fora da caixa e exercerem suas
criatividades na hora de brincar?
Cristiano Camargo !
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