É cada vez mais notória a falência do modelo
atual de Inclusão Escolar de Autistas no
Brasil, e esta se deve a causas multifatoriais, impossível eleger uma única
causa.
Este fato, no entanto , tem levado Ativistas
Autistas pelo Autismo, Alunos Autistas e seus pais a um descrédito, uma
descrença na própria existência ou na própria viabilidade da implantação de uma
Política de Modelo de Inclusão Escolar
de Autistas no país, e levando os(as) poucos(as) Professores(as) Inclusivos(as)
brasileiros(as) ao desânimo, pela desmoralização desta causa que os fatos tem
imposto.
Então, onde foi que erramos?
Poderia-se começar, por exemplo, pela exclusão
total dos Ativistas Autistas pelo Autismo das negociações e redação das leis que regem o Modelo Atual de Inclusão, onde
alguns dos/das principais envolvidos (as) -(que personificam in loco a matéria
em si por serem eles/elas mesmos(as)
Autistas)- consultando-se apenas pais, terapeutas e educadores(nem sempre
inclusivos).
Poderia-se continuar pela eleição de um Modelo
autoritário, sem um trabalho de conscientização sim, mas também poderíamos estender
para a questão de se incluir um Modelo de Inclusão dentro de um Modelo de Educação
já naturalmente exclusivo, inclusive ‘a força.
Não nos iludamos, porém: o sistema escolar
brasileiro nunca foi inclusivo, nem nunca foi concebido para tal, pelo
contrário, é um Modelo de Educação exclusivista, excludente, feito para ser
padronizado, como se todos os alunos e todas as alunas fossem iguais,gerido por
uma mentalidade de indústria, em que pensar, conscientizar, ter opinião própria
é uma perigosa subversão a ser combatida. É um modelo pensado de propósito para
manter tabus, desigualdades, privilégios de classe, gerar força de trabalho não
pensante e facilmente manobrável e manipulável, uma “Filosofia de Curral”.
Na indústria, na linha de produção, se algo é ligeiramente diferente, tem defeito e é
descartado sem dó nem piedade.
Na escola, a Diferença é vista como um Defeito a
ser sanado, ou se corrige e torna o/a aluno(a) igualzinho(a) aos demais, ou se
descarta, expulsando, “convidando a sair”(tem coisa mais hipócrita do que isto?),
ou segregando e isolando quem é diferente.
E tem outra ferramenta também: o Bullying. Por que o Bullyng é
veladamente,secretamente(muitas vezes até explicitamente) admitido e até
incentivado, e por que ele é incentivado por tantos pais, e por que as escolas
fazem vista grossa e muitas vezes a vítima é que é punida?
Por que o Modelo Excludente está perpetuado nas
famílias, cujos pais foram formados antes em escolas de mentalidade excludentes
e foram condicionados a manter esta padronização, que as escolas procuram
perpetuar de geração em geração.
E por que para as escolas, em sua mentalidade
conservadora, comodista e oportunista, interessa manter este esquema , este
modelo excludente. A Exclusão não é apenas parte integrante das escolas e do
Sistema de Ensino Brasileiro, ela está profundamente embrenhada em suas células
como um câncer, mas não um câncer destrutivo, mas simbiótico- eis que a Zona de
Conforto é muito cômoda e atraente, então, por que mudar?
Por que tentar incluir os Diferentes se todos os
Iguais estão felizes em sua confortável e lucrativa padronização?
Bom, isto é apenas a superfície, pois as crianças
são parte do modelo, mas são também as vítimas deles, mesmo as crianças
neurotípicas, já que, assim como não existe um Autista igual ao outro, não
existe um neurotípico igual ao outro e o por quê disto é muito simples: por que
ambos fazem parte da mesma diversidade natural humana. Assim, muitos alunos
neurotípicos (incluídos) também sofrem muito com o atual Sistema Escolar, que
ditatorialmente lhes exige que se adaptem ao Sistema, sem que o próprio Sistema
jamais cogite se adaptar a eles.
Mas é com Autistas , por conta de suas
Diferenças, diversidades e necessidades específicas, que esta conjuntura
totalitária e desfavorável produz seus atritos mais graves. Autistas não
costumam ser dóceis amestrados a serem manipulados e tendo suas arestas
cortadas para caber nas Fôrmas Sociais. Autistas não são moldáveis, nem se
moldam nestas fôrmas. Sempre irão se rebelas e isto vem de sua própria Natureza
Autística.
Quando uma criança autista chora , faz birra e
esperneia para não ir na escola, na verdade ela está gritando, querendo dizer:
-Eu não
quero ser moldada ! Eu não quero ser enquadrada ! Eu não quero ser igual aos
outros !Eu quero ser eu mesma !
E ser si mesmo é o ápice da subversão e do perigo
para o Atual Modelo Escolar Atual, para o próprio Sistema Escolar Inteiro.
Então não adianta querer enfiar goela abaixo uma
Inclusão num sistema teimosamente exclusivo por natureza, sem primeiro jogar
este modelo antigo fora e instituir um novo Modelo Escolar, um novo Sistema Escolar inteiro, um novo modelo de
Sistema Escolar Inclusivo, pensado desde o início para ser inclusivo, com uma
mentalidade muito mais sensível, humanista e sobretudo, personalizável, focado
nas Diversidades.
Um novo Modelo de Inclusão só se encaixará direito em um Sistema Educacional já
inclusivo.Ou este modelo serpá rejeitado e excluído e é o que acontece hoje.
É preciso mudar a mentalidade do “O Aluno é que
se deve adaptar ao Sistema” para “O Sistema que deve se adaptar a cada Aluno”.Só
mesmo levando em conta as diferenças e necessidades específicas de cada um
teremos um ensino inclusivo, democrático, eficiente, que forme pessoas com
visão crítica da Realidade e com opinião própria e cujas habilidades e
qualidades específicas possam ser usadas em benefício a eles mesmos e para toda
a Sociedade.
Por que tendo um Sistema Educacional inteiro
inclusivo, formaremos novas gerações de Sociedades Inclusivas e Diversas !
Descobriremos então que o problema todo não eram
os Alunos Autistas (ou não) que eram o problema, e que o problema não era eles
não se adaptarem ao Sistema, ‘a Escola- o problema na verdade era o Sistema, a
Escola, não se adaptar e não reconhecer
a Diversidade dos Alunos !
Cristiano Camargo
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