Intervenção. Usa-se muito este termo quando se fala de Autismo, especialmente quando se fala em modalidades de acompanhamento clínico de Autistas.
Intervenção. Mas como este termo soa DITATORIAL, AUTORITÁRIO, não?
É de uma arrogãncia sem par, pois parte do pressuposto de que o/a interventor(a) seja melhor, superior a quem está sofrendo a intervenção.E parte do pressuposto também de que o interventor esteja correto e seja sadio e perfeito e de que o outro é imperfeito, inacabado,doente, inferior e o interventor "bonzinho e piedoso", com dó do outro, resolve ajudá-lo...a ser como o interventor quiser !
Sabem aquela conversa para boi inglês ver e dormir, de que "Autistas sejam diamantes brutos a serem lapidados?"
Pois é, isto se chama manipulação, maniqueísmo, chama-se intervir no Autismo para manipulá-lo, para que o Autista fique e se comporte como o Interventor quiser, se comporte como o Interventor quiser, tenha as mesmas opiniões e visão de mundo que o Interventor tem, seja dócil, obediente e submisso ao Interventor e fique dependente dele, sob seu jugo- para sempre !Sim, é um adestramento, exatamente como se o Autista fosse um miquinho de circo, um cão ou outro bichinho de estimação.Ah, mas a intervenção é feita com amor e carinho!
Sim, os donos também tem amor e carinho por seus animais de estimação- desde que estes não se revoltem e não se voltem contra eles. Aí estes donos defendem a prisão e a morte.
Então, se o Autista não aceitar o adestramento intervencionista, sempre tem alguém sugerindo o eletrochoque, a camisa de força , a internação em hospício, a dopação com toneladas de drogas psiquiátricas...
Os que defendem intervenções clínicas em Autistas já pressupõem que a "inclusão" dos Autistas se dê com a condição de que eles se transformem em (ou se comortem como se fossem) neurotípicos-ou devem ser excluídos e marginalizados, e que a "inclusão" seja como os Autistas como bichinhos de estimação dos neurotípicos , sendo "muito amados" por eles, mas inferiorizados.
Não 'a toa, muita gente que usa o termo "intervenção nos Autistas" também usa o termo "manejo", afinal, para interventores, nós Autistas não passamos de gado manipulado, não?Eles acham que somos gado ou objetos deles para eles nos manejarem, ou seja, manipularem 'a vontade deles.
Só que isto é desumano, é cruel e é um desrespeito ao Autismo e aos Autistas.
Quando você intervem, você está interferindo autoritáriamente (ou enganando para obter concordãncia) na vida da pessoa, na Natureza de Ser dela, no que ela é, no como ela é, e está querendo influenciar em tudo nela, é uma forma de aculturamento, de apropriação cultural e mental.
Ninguém dá o direito a neurotípicos se acharem modelos de perfeição para os outros e impor seus padrões, seus critérios, sua Natureza de Ser, seu comportamento.Desculpem, mas neurotípicos não são exemplo nem modelo para ninguém, afinal, só para citar um exemplo, o nazismo foi uma invenção neurotípica, não autista.Quem são vocês para nos guiarem para suas estradas e seus destinos, se nem calçam nossas sandálias?
Quando vocês interventores(as) pensam em intervenção, vocês pensam que estão agindo para o que pensam ser o nosso bem. Mas na verdade não sabem o que nós pensamos ser o nosso bem.Ou o que pensamos não vale só por sermos Autistas e então não deveríamos ser levados a sério?
Já nos perguntaram o que nós consideramos nosso bem e o que queremos?Ou não temos vontade própria?
Neurotípicos tem o direito de pensar em nosso lugar, por nós?
Intervenção não. Intervenção significa que só vocês tenham a ensinar e nós não, nada a vocês. E isto não é verdade.
O fato é que relacionamentos precisam ser espontãneos e de mão dupla. e acompanhamentos clínicos são uma forma de relacionamento (profissional) e assim, tem de ser baseado no respeito 'as diferenças e partir da premissa de que se quer aprender as diferenças e aceitá-las como são.Então, nada de Intervenção, nada de Manejo, nós temos o mesmo direito 'a dignidade que vocês, e temos orgulho, ego e amor próprio tanto quanto vocês.Nossos comportamentos devem ser entendidos e aceitos como naturais e diferentes, não como inferiores ou doentes, não "corrigidos". Acompanhamentos clínicos são, ou ao menos deveriam ser, um exercício de humildade, de tentar calçar nossas sandálias e tentar conhecer os nossos caminhos que oferecemos mostrar a vocês.De repente, o nosso destino a ser alcançado pode ser mais bonito e interessante do que aquele que vocês queriam para nós, que nós seguíssemos-uma viagem ' fronteira final, aos confins do universo da Mente Humana.
Somos gente, não pacientes. Somos gente , não diagnósticos .Somos gente , gado manipulável. Somos gente, não massa de maobra. Somos gente, não animaiszinhos de estimação.Somos nós Autistas tão humanos quanto vocês, tão naturais quanto vocês, não somos aberrações a serem estudadas em laboratório, muito menos cobaias.Chega de intervenções, chega de manejos, reconheçam nossa humanidade, nossa naturalidade, nossa diversidade, não somos ET´s, somos aqui da Terra mesmo. Só queremos ter nossas diferenças respeitadas e fazer parte da Sociedade com o mesmo status que vocês tem.Por tanto estigma, por tanto preconceito, por tanta discriminação que já passamos em nossas vidas, é justo, nós merecemos. E agradecemos a compreensão de vocês.
Cristiano Camargo
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