O Autista e o Chá
O que é consentimento? Se você oferecer chá pra alguém e a pessoa disser 'Não', você não vai obriga-lá a tomar, vai?
Se a pessoa para quem vc oferecer chá for neurotípica, não.
Porém, se ela for Autista...
O que infelizmente continua acontecendo com omuitos "metodos" por aí
aplicados aos autistas, é que se o Autista recusar o chá, começará um
trabalho de convencimento, muitas vezes com olhares e sorrisos meigos de
superioridade, de tentar centenas de vezes convencê-lo a tomar o chá,
dizendo mil falsas maravilhas do chá e tentando colocar na cabeça dele
que o ato de não aceitar o chá é uma doença,, um sintoma, que se ele não
aceitar tomar o chá ele é doente, vai ser excluído, e se ele não tomar o
chá ele é um anormal, que não merece viver em sociedade, que todo mundo
aceita e toma o chá e porque só ele não, tentando mostrar o tempo todo
que quem não toma o chá é inferior, que o ato de não tomar o chá é
ilógico e ficam pedindo para explicar pq ele se recusa a tomar aquele
chá "maravilhoso"/"delicioso" (que o próprio oferecedor não toma pq acha
q não precisa e pq sabe o sabor amargo daquele chá e o qto faz mal), e
se o Autista continua recusando, lá vem os pesquisadores bolar mil
teorias para tentar explicar a misteriosa razão de ele não querer tomar o
tal chá, e lá vem os oferecedores continuarem a insistir, tornando a
vida do Autista um inferno, e começam a , irritados, acusar o autista de
ser agressivo e descontrolado (especialmente se depois desta maratona
de irritações o Autista joga a xícara no chão e grita que não quer e tem
um surto) e aí lá vem o pelotão dos cientistas bolar mil teorias
mirabolantes sobre o por que dele ter esta reação, que eles consideram
anormal {???} ,falam que a alegada "agressividade" do Autista é culpa do
próprio Autismo, sem entender que o garot tem o simples direito de
negar o chá como todo mundo, mas a ele não, a ele este direito é
negado!) e começam a bolar mil métodos para acalmá-lo e evitar que ele
surte de novo, métodos estes que nunca levam em conta o simples direito
dele de não tomar o chá, e não levam em conta nunca de que eles mesmos,
com suas insistências é que estão levando o garoto 'a irritação e ao
surto, mas como eles acham sempre que a culpa é do Autismo, e que esta
"agressividade" que eles acham "evidente", uns acham que se deve
abordá-lo com carinho, outros acham que ele tem de ser amarrado na
camisa de força, outros acham que é frescura, outros acham que devem
entupi-lo de tanto remédio, outroas acham que tem de interná-lo, mas
ninguém aventa a possibilidade de parar de torrrar a paciência dele,
desistir de insistir, e deixá-lo em paz, na dele. Nem lembram disto,
mesmo pq acham que ele nem tem direito destas coisas, pq na cabeça
deles, a sociedade só o aceitará se ele tomar o chá como todo mundo.Não
tomar o chá da sociedade é um pecado capital.Então eles continuam e
continuam insistindo, enquanto os doutores ficam na rodinha em volta da
mesa discutindo sobre o rapaz, sem nem olhar para ele,como se ele fosse
invisível , não existisse. Mas o Autista real existe, está ali na mesa
diante da xícará de chá, com um mote de gente chata em cima dele. Mas
para estes doutores barbados, ah, eles falam de um Autista teórico,
nunca o deixaram falar como ele realmente é, ou se deixarem, não o
levarão a sério, pq eles o acham "um doente".E eternamente o Autista
real continuará naquela mesa, com as pessoas envelhecendo junto com ele,
desesperadas por ele não aceitar o chá, se perguntando pq ele não
aceita logo,e começam a odiar o Autismo dele, e o que fizeram na vida
para merecê-lo, achando que o Autismo não tem solução. Na verdade o
Autismo não tem a solução que estas pessoas querem-o menino tomar o chá.
Porém, não percebem que a solução está bem diante dos narizes delas-
reconhecer o direito do garoto de não tomar o chá e deixá-lo ser um
garoto que não toma chá, como, a esta altura, já se tornou o grande
sonho da vida dele:se livrar das monitoras e dos velhos doutores
barbudos e ir brincar como qualquer outra criança.No fim, o Autismo é a
solução em si mesmo, o Autista é a sua própria solução!
Cristiano Camargo
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
Aspergers e Diagnóstico
Muito se debate
sobre a questão da chegada do diagnóstico para Aspergers, se “precoce” ou “tardio”,
qual seria melhor ou pior, etc.
As palavras precoce e
tardio foram colocadas entre aspas por que para a Neurodiversidade, estas
palavras simplesmente não fazem sentido, e não fazem porque são baseadas no
conceito patologizante/espectralista/reducionista de desenvolvimento
neurotípico como se fosse o único existente. E não é.
O Processo de
Amadurecimento e Desenvolvimento Autista/Asperger é completamente diferente do
neurotípico, com outros eventos distintos, velocidade e ritmo muito variáveis
sim, mas muito diferentes do que se observa no Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento
Neurotípico. Então não é possível aplicar o Processo de
Amadurecimento/Desenvolvimento Neurotípico a Autistas, sem que haja danos
potencialmente graves a seu desenvolvimento e sua saúde mental.
Em vista disto, a
idade com que se deve diagnosticar a Asperger é muito variável e relativa.
Psiquiatras e Neuros
costumam detectar o Autismo até desde a fase da primeira infância (na contagem neurotípica)
sendo que eles convencionam que a idade mínima para detecção mais precisa seja
por volta dos sete/oito anos de idade. Muitos Aspies podem ser diagnosticados
bem mais tarde, já adultos, já com vinte a cinquenta anos de idade ou até mais.
No entanto, porém,
em muitos casos, diagnosticar mais tarde pode trazer grandes benefícios ao
Autista.
Quando a detecção
ocorre muito cedo, costuma ser muito imprecisa, e o risco de ser confundida com
outras coisas completamente diferentes é bem grande.
Devido ao fato de
que a maioria dos terapeutas terem uma visão patologizante/espectrista/reducionista
do Autista, muitos deles já entram com remédios psiquiátricos pesados desde
muito cedo, o que a longo prazo potencialmente pode trazer grandes malefícios
ao Aspie.Muitas vezes se entram com terapias das mais diversas, que, na sua mentalidade,
tem como objetivo tentar transformar o comportamento autístico em neurotípico,
tentando convencer o Aspie a imitar o comportamento neurotípico e exercendo uma
violenta pressão desde muito cedo para aumentar sua sociabilidade/socialização.
Isto pode levar o
Aspie a grandes angústias, frustrações e depressões, além de causar baixa auto
estima, pois ele se vê pressionado a rejeitar sua Asperger e seu jeito de ser,
ir contra sua própria Natureza e Identidade e rejeitá-las, o que trará prejuízos
psíquicos graves a longo prazo. Neste processo, outra atitude comum nestas
terapias costuma ser a desvalorização e rejeição de sua Mundo Interno de
Fantasia, pregando sua extinção, algo que também a longo prazo pode acarretar
como consequência a loucura pura e simples.
Ou seja, os
procedimentos pós-detecção estão completamente equivocados, na direção
contrária da que deveria ser.
Diante deste quadro,
é mais saudável retardar-se a detecção, pois o Aspie será obrigado a se
esforçar para se superar sozinho, e quando a detecção chegar, ele já estará
maduro para recebê-la e entendê-la.
No caso do autor
deste artigo, a detecção somente aos 41
anos de idade foi bastante salutar, saudável e fez muito bem. Quando foi detectada a Asperger, quase tudo já
tinha sido superado.
Entretanto, nos anos
60 não haviam tantas pressões por sociabilidade como hoje em dia, mas já na
época, ninguém saber que se era Aspie ajudou a não passar por estigmas,
preconceitos e discriminações. Eis que pois, nos dias de hoje, detectar cedo
pode atrair preconceitos ,estigmas e discriminações sociais mais cedo.
Devido ao fato de
que nas três últimas décadas, a pressão social em cima dos Diferentes cresceu exponencialmente,
muitos aspies mais novos de trinta anos de idade ou mais novos, se sentem
angustiados,deprimidos e com uma sensação de rejeição social, sentindo-se verdadeiros
ET´s sociais, sentindo-se destoar da sociedade, levando-os a conflitos com suas
Naturezas e Identidades, predominantemente isolacionistas, contemplativas e
introspectivas, tentando combate-las, geralmente sem sucesso e caindo na
armadilha do círculo vicioso da auto rejeição/angústia/depressão/queda na auto
estima e auto confiança.
E quando vem a
detecção, e os médicos e a sociedade passam a chama-lo de doente, já que para
estes a detecção nada mais foi do que a confirmação de suas convicções
patolozizantes/espectrantes/reducionistas, portanto, uma autorização para a
confirmação de um exercer impune e justificado de
preconceitos/discriminações/estigmas sociais/intolerâncias, ao invés de apoiar
e orientar o Aspie por seu Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento Autista/Asperger,
e procurar elevar sua auto estima, auto confiança e auto aceitação de sua
Natureza/Identidade, só agravam as coisas, tentando fazer com que ele se “normalize-se”
e tente ser neurotípico, ou seja, quem ele não é. Pressionando-o selvagemente
de todas as formas para ter amigos e se sociabilizar, desrespeitando assim seu
processo de desenvolvimento diferente,
sua natureza, sua identidade, seu jeito de ser, tentando destruir seu Mundo
Interno de Fantasia.
O que está errado
então não é tanto a idade com que se detecta, mas sim o que se faz ao detectar
e depois que se detecta.
Se os procedimentos
pós detecção fossem guiados pelos preceitos da Neurodiversidade, da Visão
Positiva do Autismo, dos Conhecimentos do Lado de Dentro do Autismo e
respeitando e seguindo o Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento
Autista/Asperger, tanto faria a idade em que fosse feita a detecção, e na
verdade poderia ser feita a revelação levando em conta o volume de pressão
social ao qual o Aspie foi submetido, e a detecção do nível de
angústia/depressão/auto rejeição que ele apresenta devido a estas pressões
sociais externas.
O ideal é prepara-lo
psicologicamente primeiro, trabalhando a auto estima, auto confiança, auto
aceitação, para depois, quando for revelar, apresentar a Asperger como algo
positivo e bacana, como uma Natureza, uma Identidade e valorizando as
características contemplativas/isolacionistas/introspectivas, mostrando-as como
positivas.
Isto certamente
resultará em Aspies mais felizes e bem resolvidos, que poderão serem inseridos
na sociedade com mais eficiência, pois terão mais sucesso em enfrentar as
pessoas e suas pressões, aproveitando suas qualidades e talentos, inclusive
profissionais e realizando seus sonhos.
domingo, 19 de fevereiro de 2017
Autismo: a vez da voz dos filhos !
Algo que me faz diferente de tantos outros ativistas pelo Autismo nas comunidades espalhadas pelo Face, é que procuro tentar ser muito mais a voz dos filhos do que a voz dos pais.E felizmente, outros filhos e filhas autistas tem seguido e trilhado este caminho também.Mas , por que?
Pais e mães de Autistas que falam pelos filhos e que expressam suas dificuldades, preocupações e angústias, já existem muitos, são a maioria absoluta que compõem as Comunidades de Autismo nas redes sociais.
Mas o principal motivo não é este.
É porque considero que é muito importante para os pais ouvirem a voz de seus filhos e dos filhos dos outros.Prestar atenção ao que os filhos autistas tem a dizer é muito importante, e muitas vezes o caminho para as superações dos filhos está nos recados a que eles tem a transmitir.Penso que é importante que os filhos autistas tenham suas vozes ouvidas, opinião própria e suas próprias hipóteses sobre o Autismo, afinal, ,como são autistas, podem falar do assunto com domínio e propriedade.
Claro que muita gente gostaria ou só se interessa em ouvir depoimentos e histórias de vida, e ficassem só nisto e não tivessem idéias próprias. Mas ei, pode estar nas idéias próprias dos filhos autistas a saída para as preocupações maternas e paternas, o caminho para uma aceleração do desenvolvimento, para as superações !
Então, por que não ouvi-las?
Eis que pois, muitos pais e mães não suportam nada que não for interpretado por eles/elas como apoio e incentivo, mas, alto lá, pais e mães são humanos,e como todo mundo, podem errar. Ou podem estar no rumo errado sem saber,e podem precisar que alguém lhes abra os olhos para lhes mostrar novos caminhos , novos rumos na educação dos filhos, que podem ser tomados.Mudar de idéia não é ter culpa. Mostrar novos caminhos não é culpar. Mostrar onde se está errando é um ato de amor.
Não é apontando os erros aos filhos que eles ensinam os filhos a não errar mais?Como vamos aprender a não errar, como aprenderemos com os nossos erros, se não soubermos que erros foram estes, sem saber onde erramos, e em quê?
E por que não os filhos apontarem os erros dos pais também?
Afinal, os filhos, especialmente depois de adultos, tem uma grande bagagem de experiência como filhos e sabem como foram criados (que nem sempre é como gostariam de terem sido) e sabem como gostariam de ser criados. E quem, antes de ser pai e mâe não tem mil planos de como vão educar os filhos como forem?Estes planos nasceram de suas experiências como filhos, pelo que viveram e pelo que observaram dos pais. E muitos não querem cometer os mesmos erros e repeti-los de geração a geração.Enquanto os pais criam, os filhos os observam e vão anotando tudo o que os pais fizeram que os filhos interpretaram como erros que poderiam ter sido corrigidos,e bolam soluções. São erros que os filhos não chamaram a atenção durante a criação por, em certos casos, excesso de severidade e autoritarismo (“-Não responda para mim !Me respeite!”), e aí, tolhidos de seus direitos ‘a opinião própria, não puderam ajudar os pais na época. Mas , se por um lado, ter pais muito severo não deixa que os filhos tenham sua voz para ajudar aos pais, para estes filhos ajudarem outros pais é bem mais tranquilo, pois deixa de ser uma relação de autoridades e comandados, o que confere aos filhos mais liberdade de ação e expressão.
Então, só elogios e apoios explícitos, rasgações de seda e alimentos para ao ego e a vaidade dos pais e mães pode não os estar ajudando, pode até estar atrapalhando, porque mascara os problemas e os erros. E muitas vezes, também a crítica pode ser um ato de amor, um ato de solidariedade, o importante neste caso é não ficar na simples crítica, mas mostrar soluções. E não há como mostrar soluções sem mostrar os erros.Acertos não ensinam nada, erros ensinam tudo a quem estiver disposto(a) a deixar o orgulho, o ego e a vaidade de lado e aprender.
Tem gente que vê nos apontamentos de erros, críticas e no apontar de soluções uma culpabilização dos pais? Tem, e muita ! Mas tem razão?
Não, por que não cabe culpa nas criações dos filhos, nem nos comportamentos de pais e mães.Buscar culpas não leva ninguém a nada de bom. Procurar culpas em críticas , idem.
Os filhos autistas não falam para acusar nem culpar ninguém. Falam para procurar ajudar aos demais pais e a outros filhos, o objetivo é sempre o desenvolvimento e as superações.
E um filho autista não fala por si só, representando apenas seu próprio caso, como muitos pais de autistas os acusam.
Muitos erros são comuns em muitas criações diferentes e precisam ser apontados. E , embora existam milhões de autismos diferentes, muitas coisas eles tem em comum entre si, ou não seria todos eles chamados de Autismo. Você pode ter muitas marcas de carros, sedans, peruas, picapes, esportivos, jipes, conversíveis, com “n” configurações diferentes de motores, etc, mas todos tem em comum quatro rodas, bancos, parabrisas, volante, etc. O mesmo se aplica ao Autismo, só que com uma variabilidade infinitamente maior e com a humanidade que uma máquina não tem, mas algumas coisas em comum todos tem, e estas formam sua Identidade, a Identidade Autística.
Então dá para um autista falar de tudo o que se refere a Identidade Autística falando por e para todos os demais Autistas. Por que isto, apesar de diferentes, eles tem em comum.
Então, por fim, é por tudo isto que sigo tentando ser uma voz de filho autista, e falar para os filhos.
E é por tudo isto que é importante não deixar só que os pais falem por seus filhos ou por todos os filhos, sozinhos. Os pais não estão sozinhos no mundo.E os filhos tem voz, querem e precisam se expressar e mostrar o que pensam , o que sentem, o que vivem.E acima de tudo, querem ajudar. Não só a eles, mas aos pais também.
Que tal ouvirem o que temos a dizer?
Cristiano Camargo
Algo que me faz diferente de tantos outros ativistas pelo Autismo nas comunidades espalhadas pelo Face, é que procuro tentar ser muito mais a voz dos filhos do que a voz dos pais.E felizmente, outros filhos e filhas autistas tem seguido e trilhado este caminho também.Mas , por que?
Pais e mães de Autistas que falam pelos filhos e que expressam suas dificuldades, preocupações e angústias, já existem muitos, são a maioria absoluta que compõem as Comunidades de Autismo nas redes sociais.
Mas o principal motivo não é este.
É porque considero que é muito importante para os pais ouvirem a voz de seus filhos e dos filhos dos outros.Prestar atenção ao que os filhos autistas tem a dizer é muito importante, e muitas vezes o caminho para as superações dos filhos está nos recados a que eles tem a transmitir.Penso que é importante que os filhos autistas tenham suas vozes ouvidas, opinião própria e suas próprias hipóteses sobre o Autismo, afinal, ,como são autistas, podem falar do assunto com domínio e propriedade.
Claro que muita gente gostaria ou só se interessa em ouvir depoimentos e histórias de vida, e ficassem só nisto e não tivessem idéias próprias. Mas ei, pode estar nas idéias próprias dos filhos autistas a saída para as preocupações maternas e paternas, o caminho para uma aceleração do desenvolvimento, para as superações !
Então, por que não ouvi-las?
Eis que pois, muitos pais e mães não suportam nada que não for interpretado por eles/elas como apoio e incentivo, mas, alto lá, pais e mães são humanos,e como todo mundo, podem errar. Ou podem estar no rumo errado sem saber,e podem precisar que alguém lhes abra os olhos para lhes mostrar novos caminhos , novos rumos na educação dos filhos, que podem ser tomados.Mudar de idéia não é ter culpa. Mostrar novos caminhos não é culpar. Mostrar onde se está errando é um ato de amor.
Não é apontando os erros aos filhos que eles ensinam os filhos a não errar mais?Como vamos aprender a não errar, como aprenderemos com os nossos erros, se não soubermos que erros foram estes, sem saber onde erramos, e em quê?
E por que não os filhos apontarem os erros dos pais também?
Afinal, os filhos, especialmente depois de adultos, tem uma grande bagagem de experiência como filhos e sabem como foram criados (que nem sempre é como gostariam de terem sido) e sabem como gostariam de ser criados. E quem, antes de ser pai e mâe não tem mil planos de como vão educar os filhos como forem?Estes planos nasceram de suas experiências como filhos, pelo que viveram e pelo que observaram dos pais. E muitos não querem cometer os mesmos erros e repeti-los de geração a geração.Enquanto os pais criam, os filhos os observam e vão anotando tudo o que os pais fizeram que os filhos interpretaram como erros que poderiam ter sido corrigidos,e bolam soluções. São erros que os filhos não chamaram a atenção durante a criação por, em certos casos, excesso de severidade e autoritarismo (“-Não responda para mim !Me respeite!”), e aí, tolhidos de seus direitos ‘a opinião própria, não puderam ajudar os pais na época. Mas , se por um lado, ter pais muito severo não deixa que os filhos tenham sua voz para ajudar aos pais, para estes filhos ajudarem outros pais é bem mais tranquilo, pois deixa de ser uma relação de autoridades e comandados, o que confere aos filhos mais liberdade de ação e expressão.
Então, só elogios e apoios explícitos, rasgações de seda e alimentos para ao ego e a vaidade dos pais e mães pode não os estar ajudando, pode até estar atrapalhando, porque mascara os problemas e os erros. E muitas vezes, também a crítica pode ser um ato de amor, um ato de solidariedade, o importante neste caso é não ficar na simples crítica, mas mostrar soluções. E não há como mostrar soluções sem mostrar os erros.Acertos não ensinam nada, erros ensinam tudo a quem estiver disposto(a) a deixar o orgulho, o ego e a vaidade de lado e aprender.
Tem gente que vê nos apontamentos de erros, críticas e no apontar de soluções uma culpabilização dos pais? Tem, e muita ! Mas tem razão?
Não, por que não cabe culpa nas criações dos filhos, nem nos comportamentos de pais e mães.Buscar culpas não leva ninguém a nada de bom. Procurar culpas em críticas , idem.
Os filhos autistas não falam para acusar nem culpar ninguém. Falam para procurar ajudar aos demais pais e a outros filhos, o objetivo é sempre o desenvolvimento e as superações.
E um filho autista não fala por si só, representando apenas seu próprio caso, como muitos pais de autistas os acusam.
Muitos erros são comuns em muitas criações diferentes e precisam ser apontados. E , embora existam milhões de autismos diferentes, muitas coisas eles tem em comum entre si, ou não seria todos eles chamados de Autismo. Você pode ter muitas marcas de carros, sedans, peruas, picapes, esportivos, jipes, conversíveis, com “n” configurações diferentes de motores, etc, mas todos tem em comum quatro rodas, bancos, parabrisas, volante, etc. O mesmo se aplica ao Autismo, só que com uma variabilidade infinitamente maior e com a humanidade que uma máquina não tem, mas algumas coisas em comum todos tem, e estas formam sua Identidade, a Identidade Autística.
Então dá para um autista falar de tudo o que se refere a Identidade Autística falando por e para todos os demais Autistas. Por que isto, apesar de diferentes, eles tem em comum.
Então, por fim, é por tudo isto que sigo tentando ser uma voz de filho autista, e falar para os filhos.
E é por tudo isto que é importante não deixar só que os pais falem por seus filhos ou por todos os filhos, sozinhos. Os pais não estão sozinhos no mundo.E os filhos tem voz, querem e precisam se expressar e mostrar o que pensam , o que sentem, o que vivem.E acima de tudo, querem ajudar. Não só a eles, mas aos pais também.
Que tal ouvirem o que temos a dizer?
Cristiano Camargo
sábado, 18 de fevereiro de 2017
Manifesto Autista
Autistas não sofrem de Autismo.Sofrem do Preconceito da Sociedade.Sofrem do bullying covarde dos intolerantes e ignorantes.Sofrem desta Sociedade doentemente preconceituosa e exclusiva, que acha que incluir é uma frescura, um favor.Podem ter certeza, se a Sociedade os entendesse e respeitasse, seriam perfeitamente felizes, pois o Autismo em si não faz ninguém sofrer, e não é doença e sim uma diferença.
Porém, para a nefasta e elitista Sociedade atual,ser diferente é o grande pecado dos Autistas, e sabem porquê?
Porque esta Sociedade cruel e retrógrada, estúpidamente preconceituosa, sonha com uma Sociedade de pessoas pré-fabricadas, em massa,todas iguaizinhas, todas encaixadas direitinho em moldes pré-fabricados, específicos para atender os interesses da Sociedade, que não é o bem estar de seus cidadãos, mas sim o sustento das grandes corporações,gerando capital e trabalho, de cabeça baixa, enganada por espetáculos de pão e circo, como o futebol,para que não questionem, não tenham idéias, nem fazem revoluções.
A Diferença dos Autistas é o Terror para a Sociedade porque mostra que é possível ser diferente, ter opinião própria, personalidade própria, identidade pura,pendor para as Artes, sensibilidade, e, portanto, inteligência para denunciar e criticar os podres da Sociedade,mostra que é possível escapar dos padrões e explorar novos padrões que nem sempre podem vir de encontro aos interesses da Sociedade das elites e do Poder Corporativo Corrupto.
Pior ainda para os que vêem o Autismo como doença, pois passam a ver no Autismo a corrupção da Sociedade,sendo que na verdade os Corruptos são os que mandam na Sociedade e a dominam.Assim, os anjos pagam pelos demônios,numa total inversão de valores.
Charles Chaplin já mostrava visionáriamente nos anos 20 , em seu explêndido filme "Tempos Modernos"no que a Sociedade se tornaria e a estupidez de querer padronizar Seres Humanos e combater sua diversidade.
George Orwell mostrou claramente em sua magnífica obra "1984" as funestas consequencias que podem advir das tentativas de exterminação da diversidade e padronização humana, levando as Ditaduras 'as últimas consequencias.
É preciso que a Sociedade se humanize !Muitos avanços já foram conseguidos, 'a duras penas, mas o caminho é tão longo quanto a saga de Marcel Proust.Mas quem fica de fora, esperando Godot, se exime de reafirmar a peça teatral de Pirandello, deixando de enriquecer a sociedade com seu próprio ponto de vista, dificultando as mudanças na Sociedade que ela necessita para levar os autistas a uma posição digna e integrada na Sociedade, e também para purificar a Sociedade de sua inversão de valores , discriminação e corrupção, lembrando sempre que o próprio preconceito contra quem quer que seja é uma corrupção do Caráter e da Honra.
"Liberté,Igualité, fraternité", os ideais da revolução francesa ainda não foram cumpridos, e se aplicam muito bem aos Autistas, e é o que eles exigem da Sociedade.
Que os Robespierres da Sociedade parem então de cortarem cabeças com seus preconceitos afiados e que os velhos ideais não cumpridos venham 'a luz e se tornem Realidade !
Gostaria muito que vocês todos(as) refletissem sobre tudo isto !
Cristiano Camargo
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
Vídeo: Minha palestra no CONAIPA !
Minha palestra no Congresso Virtual CONAIPA , no Ano passado:
https://youtu.be/w6rA3tLpAQg
https://youtu.be/w6rA3tLpAQg
Autistas são Maestros
Quem vê um
Autista mergulhado fundo em seu Mundo Interno de Fantasia,especialmente os
pais, pode ter a impressão de que a pessoa está alienada, perdida,infeliz,
deprimida,e sobretudo, distante, e fica achando que esta pessoa pode não voltar
nunca mais,e fica com vontade de "resgatá-la","salvá-la do
abismo","trazê-la de volta"....rsss...o que não é não poder
ver o autismo do lado de dentro, estar de
fora...
Na
verdade, não há motivos para estas aflições, muito natural de quem cria e ama
um(a) autista/Asperger.Não é este drama mexicano todo, nem motivo para tantas
preocupações.E vou explicar por que:
Quando o
autista/Asperger está em seu mundo interior, ele não está parado, num limbo
vazio, perdido da vida.Tampouco está tão isolado assim.
Na verdade
o que está ocorrendo de verdade, é que ele está altamente concentrado, lidando
com uma enorme massa de informações e construindo seus mundos, suas fantasias,
e isto absorve muito ,posto que extremamente complexo e trabalhoso,tempo e
muita energia, e tudo está direcionado, com seus simbolismos e entrelinhas, a
aprender a lidar com ambos os mundos, fantasia e realidade.Toda fantasia, em
seu simbolismo, remete 'a uma realidade.É da realidade que partem as fantasias
e quando se analisam os seus simbolismos,se descobre, na verdade, tentativas de
interpretação e planificação futura e presente da realidade.
Mas
ele(ela) não está 100% desconectado(a).Ele pode não manifestar reação, mas na
realidade, ele está processando estas informações em sua mente e procurando,
analisando, qua a melhor forma de reagir, e usando as fantasias como metáforas
da realidade,buscando analisar se é melhor reagir ou não, analisando suas
emoções,suas inseguranças, e o fator mais difícil de calcular e que leva mais
tempo, e também que exige mais simulações internas mentais, é a
imprevisiblidade humana.
A
insegurança do autista/asperger imaturo em relação a isto, e sua inconformidade
e surpresa, de certa forma, rejeição 'a esta imprevisibilidade é o que mais causa
demoras e mais prolonga a estadia do autista/Asperger dentro de seu mundo
interno de fantasia.
É preciso
entender que este mundo mental, além de extremamente complexo,não serve apenas
para distrair, proteger,e isolar o autista/asperger da Realidade, mas também
para buscar soluções e planejar ações e reações, comportamentos, e decidir o
que deve ser externado, inclusive verbalmente ou não, quais as prováveis
consequencias, etc.Este isolamento é necessário para que ele/ela possa se
concentrar o suficiente para que o Mundo
Interno de Fantasia, este mecanismo mental fantástico movido a imaginação e
criatividade, possa exercer suas funções e tentar beneficiar o
autista/Asperger.Mas isto tudo não significa necessáriamente que ele vá ficar
entretido lá para sempre, direto.Ele precisa ir 'a realidade aplicar o que
planejou, e mais cedo ou mais tarde, quando todo este processamento terminar,
ele voltará a atuar na Realidade.
Claro que
tudo isto supondo um Mundo interno de Fantasia sadio.
O que
ocorre em muitos casos, é que traumas psicológicos devidos 'a rejeições,
bullying,atos externos de hostilidade e agressividade, e mesmo doenças físicas agressivas, com dores intensas e
prolongadas,altamente traumatizantes, podem desencadear doenças no Mundo
Interno de Fantasia e atrasar considerávlmente o Processo de
Amadurecimento.Estes eventos podem criar um Fator Imobilizador ou Bloqueador,
que bloqueia processos e impede estruturas de raciocínios, além de bloquear a
imaginação e paralisar contruções de mundos e planos.Neste caso, corre uma
profunda angústia, com o cérebro lutando para completar suas fantasias e
mentalisações, os planos ,as estratégias, as metáforas da realidade,mas batendo
de frente num muro espesso, que boqueia tudo isto: a dor do trauma, e no caso de
doenças físicas e de bullyings violentos,a lembrança da dor física.Nestas
horas, o Juiz interior, que todo(a) autista/asperger tem em sua mente,
decreta:Proibido ultrapassar este ponto !
E aí sim,
neste caso, a quantidade de energia necessária, o isolamento e a concentração exigida aumentam muito mais,
com o autista/asperger tentando desesperadamente passar por este juiz em cima
deste muro, e em alguns casos, até ele conseguir, pode levar meses ou anos.Por
isto certos retrocessos no Processo de Amadurecimento.Está havendo uma séria
luta interna contra este bloqueio feroz,que este Juiz, como guardião deste muro
que separa a angústia das soluções, impoõe.É este mesmo Juiz que o faz se auto
reprimir e se auto restringir em muitas
ocasiões e ele é um inimigo difícil de ser vencido, mas claro, não impossível.
É preciso
lembrar sempre que um aprofundamento do mergulho do autiosta/Asperger em seu
Mundo Interno de Fantasia não ocorre a toa, do nada, alguma razão,
especialmente emocional, houve.E é preciso investigar isto, para que possamos
ajudar ao autista/asperger a vencer seu Juiz Interior, e o Muro de Bloqueio, e
voltar a ser o Maestro de seu lindo e complexo Mundo Interior de Fantasia em
toda a beleza de sua harmonia, quado este volta a ser saudável!
Cristiano Camargo
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