O que é a Inclusão Social?
Incluir, no sentido social.pode ser interpretado
como admitir, deixar entrar.Como, por exemplo, um dos integrantes de uma
rodinha de amigos, apresentar um novo amigo e eles permitirem que o novo amigo
faça parte do grupo.Mas num contexto mais amplo,a Inclusão social significa
admitir, em seu interior, aqueles que, por algum motivo, estavam 'a margem da
Sociedade.E por quê estavam 'a margem?
No caso do Autismo e da Asperger , é o
preconceito contra o Diferente, a intolerância para com o Diverso, a
incompreensão e a má vontade de entender(ou falta de vontade mesmo) para com o
Peculiares.
Isto faz com que seja negada aos
Autistas/Aspergers, a entrada na Sociedade como Cidadãos de Direito, mais ou
menos como o Leão de Chácara, que impede a entrada de quem não pode pagar, numa
festa ou restaurante.De certa forma, podemos interpretar este "não poder
pagar", como sendo não consumir, não gerar renda e lucros para grandes
empresas, não ser explorado por empresas e pelos Governos através dos
impostos,não ser mão de obra a ser explorada.O ingresso é consumir e gerar
lucros, seja na compra de mercadorias e serviços, seja pelo pagamento de
impostos.Se tem alguém pagando por ele, geralmente os pais,ele não gira a roda
do mercado e a sociedade o vê como um elemento estranho e inútil.Assim só os
pais são admitidos, mas os filhos ficam de fora, especialmente após a
adolesc~encia, e mais especialmente ainda se eles ainda não tiverem conquistado
sua independência financeira!
Para a Sociedade em que vivemos, não somos
pessoas , mas objetos a serem comprados e vendidos, números,
estatísticas,consumidores e pagantes.A beleza de coração e alma ,a
sensibilidade, a inteligência, se não forem negociáveis e lucrativas,não interessam,
não tem valor e são considerados dispensáveis pela Sociedade.Para a Sociedade ,
os autistas são fontes consumidoras de remédios para seus pais,e como
controlam, através de certos profissionais, a manutenção de sua dependência dos
pais dopando os autistas com remédios contínuamente e os mantendo dependentes
também dos remédios,asseguram-se manter os autistas a continuar fora do
sistema, pois a Sociedade não quer que eles amadureçam e superem, pois aí
deixariam de comprar remédios, o que vai contra os interesses da
Sociedade.Tampouco valorizam o autista se os pais deixam renda para ele ao
falecer, pois aí a Sociedade o considera um parasita do Estado, que se vê
obrigado a sustentá-los e por isto os desprezarão como desprezam os aposentados.
No caso da inclusão escolar,o capitalismo vê a
educação não apenas como um negócio, mas além,como centros de formação de mão
de obra e preparação para a vida de consumo,onde as crianças tem de sair como
futuras geradoras de lucro, consumo e mão de obra a ser explorada
econômicamente.
Uma criança Autista/Asperger, sob o ponto de
vista dos donos de escolas e dos governos,não pode e não deve ser incluída e
admitida, por que não a vêem como uma futura geradora de lucros, consumo ou mão
de obra, e sim como crianças doentes, que após a morte dos pais precisarão
serem amparadas pelos governos e dependerem deles, ou seja, darão prejuízo para
a Sociedade, que terá de arcar com seus "custos".E estas pessoas
também justificam seu preconceito e sua intolerância nos argumentos onde,
segundo eles, autistas seriam geradores de custos extras para as escolas, que
os pais não tem como admitir o repasse para eles.Então seriam geradores de
prejuizos.
A Lei Berenice Piana foi uma grande conquista das
Comunidades Autistas, sem dúvidas.Porém tem de conviver com grandes distorções:
poucas vagas por classe para autistas, abaixo da demanda necessária, e
despreparo das escolas e professores e até dos próprios demais alunos!
A despeito da valentia e dedicação dos
Professores, especialmente das redes estaduais e municipais, que sobrevivem com
tão esqueléticos salários e são tão desvalorizados por nossa Sociedade,poucos
são os professores que se interessam em aprender a lidar com Autistas e fazer
cursos de reciclagem neste sentido(mesmo quando são gratuitos).
Isto sem falar no fenômeno do Bullying, mais
desenfreado e incontrolado do que nunca!
Então, o que vemos?
Vemos poucas escolas admitindo autistas e se
dizendo inclusivas, sendo que para ser uma escola realmente inclusiva, só colocar
o Autista para dentro de suas dependências não basta!
De que adianta colocar para dentro e deixar
estudar lá, se uma vez lá dentro o Autista irá apanhar e ser humilhado
diáriamente por colegas, alguns funcionários e até mesmo alguns professores e diretores?
Se certos alunos, funcionários, professores e
diretores os isolam e os acusam de serem agressivos (aham, quem é que sofre
bullying mesmo???) e sempre cedem aos pais dos agressores, que alegam que não
podem deixar os seus filhos estudar numa escola onde tem um autista agressivo!
Resultado: o Autista é duplamente punido sem ter
culpa de nada!Uma vez no Bullying e uma segunda vez por ter sido vítima de
Bullying, e se ele reagir, se revoltar e bater em que o bateu, será punido uma
terceira vez e considerado mais agressivo ainda!
Ninguém pensa que, na maioria dos casos em que
Autistas foram considerados agressivos, estas agressões foram resultado de
traumas, isolamentos, rejeições, humilhações, injustiças ,incompreensões e
bullying promovido seja por colegas, por funcionários, professores ou até mesmo
diretores.
Cabe aqui ressaltar que não estou acusando as
classes de funcionários de escolas,professores e diretores, e sim mostrando que
uma parcela deles faz isto, mas claro que a maioria não faz.
Assim, fica clara a proibição velada do direito
do Autista reagir aos mal tratos que outras pessoas lhe impõe. A Sociedade considera que o Autista tenha o
dever de sofrer e de sofrer calado e de cabeça baixa e ser o saco de pancadas
humilde e bobo da Sociedade.É proibido reagir, superar, amadurecer !
Para esta mesma Sociedade, a idéia de ter uma
escola realmente inclusiva, com gente que queira e se interesse em ajudar o
Autista se auto incluir na Sociedade, amadurecer e superar, é, infelizmente, um
modelo de prejuízos financeiros e inviável para seus interesses.É
preferível então manter a falsa imagem
de Escola Inclusiva,mantendo o incrível paradoxo da Inclusão que Exclui !
E é preciso refletir também, que existem várias
outras inclusões antes da criança
autista estar pronta para a inclusão escolar:
A primeira inclusão é a da própria família. Com
certeza existem muitas mães e pais valorosos e dedicados, que lutam com afinco
pela inclusão, independência e educação de seus filhos, mas existe uma parcela
de famílias que não aceitam o diagnóstico e tem preconceito contra o próprio
filho,não o aceitando como ele é e tentando transformá-lo em neurotípico.Há
famílias em que a mãe se dedica e devota ao filho com carinho, e o pai o
rejeita e mal trata,humilha e tenta trátá- lo como se ele fosse neurotípico,
com as mesmas exigências.Filhos destas famílias citadas já chegam na escola se
sentido rejeitados, vítimas de preconceitos e já chegam revoltados e
agressivos, por que não tiveram o apoio incondicional de um ou ambos os pais, e
esta revolta foi se acumulando com o tempo, aí o bullying e a rejeição sofridos
são apenas a última gota de água que faltava para que explodissem!
Outra inclusão é a periférica: crianças e pais
neurotípicos vizinhos ou de parentes ou
colegas precisam aceitar o autista em seu meio e incluí-lo e não excluí-lo mais
de festas de aniversário, ou outros eventos.Todos que lidam com o autista precisam aprender a lidar com ele,
não apenas os pais.
Por fim vem a Inclusão escolar, sobre a qual já
discorri aqui.
Mas de nada adianta uma inclusão escolar
eficiente e de verdade, se depois ele não tiver uma inclusão efietiva e
verdadeira no mercado de trabalho, pois toda a inclusão tem de ter como
objetivo inserir o autista no mercado de trabalho e conseguir a indendência e
autonomia dele.Inclusive porque nossa Sociedade não admite como cidadãos quem
não trabalhe, consuma e pague impostos por si só, não com alguém ou o Estado
pagando por ele.
O Autista deve ser incluido na Sociedade pela
admiração de suas qualidades, não por dó ou solidariedade para com um
coitadinho necessitado.
E as pessoas precisam aprender que não é preciso
apenas que o Autista supere, é preciso que as outras pessoas superem também o
preconceito e o acolham por admiração e mérito.A Superação é uma via de mão
dupla,interativa,um superando ,faz o outro superar também, e vice-versa; é
necessário que as outras superem para que o autista também supere as barreiras
que a própria Sociedade colocou na vida dele.
Qiais as soluções?
Toda a Comunidade Autista agora precisa se unir e
lutar para conquistar a Inclusão Plena, familiar, periferica, escolar e de
trabalho, e no caso específico da escolar,lutar para que a Lei Berenice Piana
seja complementadas com leis e práticas
que tornem realidade a segunda parte deste tipo de inclusão:a extinção do
bullying, e a preparação das escolas como um todo para receber os autistas e os
manter dentro delas com justiça e igualdade de condições e tratamento em
relação aos demais alunos,para que todos tenham chances iguais!
Cristiano Camargo
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