O mito do Terapeuta -Geladeira: a busca por um
acompanhamento mais humano para Autistas
Nas minhas conversas com mães de Autistas e
Aspergers e também com outros Aspies,uma reclamação vinda deles tem sido muito
comum: o psiquiatra,psicólogo, neuro e demais profissionais da área tem
prestado serviços frios, insensíveis e distantes aos seus filhos ou aos
próprios Autistas/Aspies. Muitas vezes, segundo as reclamações que recebo,o
profissional mal olha na cara da criança/adolescente/adulto e já vai entupindo-o
de remédios psiquiátricos, ou, caso faça psicanálise, esta costuma ser fria e
distante, insensível , sem oferecer esperanças, consolos ou apoio.
Profissionais que deveriam ter carisma com quem
atende, e que deveria ter brincadeiras lúdicas a oferecer, limitam-se a serem
sérios, frios e chatos,sem expressar qualquer emoção.E no caso de crianças, ser
simpático(a) , procurar agradar, conquistar a atenção e principalmente a
confiança, é simplesmente fundamental para o sucesso do acompanhamento.
Se a criança não, digamos, "for com a cara
" do/da profissional,o acompanhamento estará fadado ao fracasso e à
interrupção ou crise, e o risco de aumentar
a agitação e os sentimentos negativos, refletidos em seu comportamento,
da criança, aumentam considerávelmente.A inépcia de um(a) mau(má) profissional
pode ser desastrosa para a criança!
Também a apatia no atendimento, ou a má vontade
também acabam piorando a situação na verdade famílias inteiras.O acompanhamento
perde muito de sua efetividade ser não for humano e sensível.
Hora de revelar o Diagnóstico:
Igualmente comum é os profissionais subestimarem
a criança e desesperançar os pais, colocando o quadro como catastrófico e os
fazendo pensar num sentença de morte social,falando na cara, sem a menor
sensibilidade, sem o menor jeito,numa falsa franqueza que magoa e machuca
muito, especialmente as mães, especialmente na hora de revelar o
diagnóstico.Falsa franqueza por que muitos profissionais colocam o diagnóstico
dado por eles como algo perene, pétreo,fixo, e descartam qualquer possibilidade
de superação, não deixando nenhuma esperança.Alguns pais e algumas mães, ainda
que desenganados(as) pelos profissionais, não acreditam neles e vão a luta e
conseguem as superações e acabam provando o erro da subestimação.Na área de
atendimento a Autistas e Aspies, arrogãncia profissional é um erro capital!
Flexibilidade e Humanização do acompanhamento:
É preciso um certo jogo de cintura, uma certa
consideração e humanidade dos profissionais tanto no trato dos pais como no dos
autistas e aspies.E preciso teoria da mente e ter a humildade de se colocar no
lugar do paciente e dos pais para que o acompanhamento seja o mais bem sucedido
possível.
Especialmente no caso de crianças pequenas, é
preciso ter jeito com crianças, gostar de crianças, ter prazer na compania
delas, para que se possa lidar com elas de maneira adequada.
Cuidando de não verbais:
No caso das não-verbais, mais ainda, pois elas
necessitam de brincadeiras lúdicas para que se faça uma psicanálise indireta
através da interpretação da simbologia dos gestos, das brincadeiras espontâneas
da criança ,de seu comportamento, e caso ela goste de desenhar, da
interpretação da simbologia de seus desenhos.É preciso analisar enquanto se brinca
com a criança, como se o(a) profissional fosse outra criança da mesma idade,
anotando tudo mentalmente.Também ajuda muito se o (a) profissional,com a
autorização dos pais, filmar as brincadeiras espontãneas da criança sem que ela
perceba, sozinha ou acompanhada, e depois analisar as imagens e buscar
interpretações dos gestos, atitudes e simbologias das brincadeiras
infantis,assim se estará analisando a saúde do Mundo Interior de Fantasia da
criança,mesmo que ela seja não verbal.Aliás, se os próprios pais também tiverem condições de filmarem o
comportamento da criança e suas brincadeiras quando ela estiver isolada ou
sozinha sem ela perceber e depois mostrar ao profissional para interpretar
,melhor ainda, pois no ambiente frio e pouco acolhedor, sem falar em
não-familiar e desconhecido de um consultório ou laboratório acaba por correr o
risco de inibir a criança ou fazer com que ela exiba um comportamento diferente
do que ela exibiria em casa.
Ecolalia:
Algumas crianças autistas não são por enquanto
completamente verbais, exibindo ecolalia.Elas repetem tudo o que se fala e às
vezes usam expressões fora do contexto correto. Mas pode-se usar a própria
ecolalia dela pra que ela desapareça.
Pode-se falar uma palavra, deixar a criança
repeti-la, e depois ir acrescentando palavras à primeira para criança repetir e depois ir acrescentando
novas palavras até formar uma frase inteira.Dpeois que a criança repetir várias
vezes a mesma frase, gravando- na memória, é hora de associar a frase a uma
ação .Por exemplo: "Eu vou dançar", e coloca-se uma música e dança-se
um pouquinho.Incentiva-se a criança a dançar com o profissional. Durante a
dança,dizer:"Estou dançando". Depois de várias vezes a criança
autista irá notar que o/a profissional só fala a frase durante a ação.Se ela falar a frase errada, deve-se ir
tentando de novo a associação até esta estar bem aprendida.Com isto, a criança
aprenderá frases inteiras e se acostumará a só dizê-las na ocasião
correta.Frases interrogativas e/ou negativas podem ficar para um estágio mais
avançado. A criança percebendo que está acertando e que está sendo bem
recompensada com carinho ,sua auto estima e autoconfiança aumentará e ela se
sentirá estimulada a falar com frequencia.Os acertos também devem ser premiados
com olhar carinhoso e sorriso meigo e simpático, e os erros com convites pra
novas tentativas também com sorrisos e olhares amigáveis.
Claro que muitas outras coisas poderiam ser
feitas, mas aí este artigo ficaria longo demais, por isto aqui só expus o
básico.
Atendimento a Aspies Adolescentes/Adultos
Alguns Aspies ,seja por terem passado a vida
enfrentando Bullying sistemático,
traumas não resolvidos ou passado por uma vida de rejeições contínuas, podem
apresentar um quadro de angústia e depressão.Alguns aspies adultos ou adolescentes
reclamam da frieza e distância dos terapeutas, que ao invés de palavras
confortadoras e incentivos, recebem duras palavras que pioram mais ainda a sua
baixa auto estima , depressão , angústia ,desânimo e descrença nas pessoas, o
que só agrava o quadro.O/A profissional, a meu ver, deve demonstrar certa
sensibilidade e escolher bem as palavras, levando o aspie a se sentir um pouco
mais querido e mostrar que nem todas as pessoas são más ou tem más
intenções.Não basta buscar as raízes do trauma durante a psicanálise, é preciso
trabalhar a carência emocional/afetiva do/da Aspie e coisa bem simles podem
ajudar muito! Por exemplo:numa sessão depois de uma falta, dizer ao
aspie:-Senti sua falta, eu gosto de ter você aqui no meu consultório e
conversar com você!
Ou ainda, quando ele chega, dizer:-Que bom que
você veio, é tão agradável conversar com você!
Outro exemplo é quando o Aspie começa a criticar
a si mesmo, refutr com cordialidade:-Olha, desculpe, mas eu discordo, acho você
uma pessoa muito interessante e que vale a pena as pessoas conhecerem !
Tudo isto e este tipo de frases ajudam muito a
levantar a moral ,a auto estima, a combater a carência.É verdade que o
profissional deve manter uma certa distância de seus pacientes, mas a gelada
distãncia da impessoalidade desumana deve ser evitada.Tudo via melhor e flui
melhor quando o tratamento é humano e
com calor humano, com sensibilidade e consideração, que não, não são perda de
equilíbrio emocional nem demonstração de afetividade indevida ao paciente, é
apenas ter consciência de que ali na frente não está só um paciente, um número,
o próximo, ali tem gente, um ser humano, com emoções, sentimentos e uma carga
negativa de todo um histórico de vida negativo, de más lembranças e traumas e não
custa nada deixar de ser um robô bitolado, arrogante e insensível e ser gente,
tratando gente como gente.Novamente vem ao caso a questão do exercício da
teoria da mente , do profissional, e a humildade de , pelo menos por alguns
minutos, se colocar um pouco no lugar do paciente e ter alguma consideração.
Escolha do/da Profissional:
Deixo claro, no entanto que há ,claro, bom e maus
profissionais em todas as áreas ligadas au Autismo /Aspeger, e que existem sim
bons(boas) profissionais com tato e sensibilidade para acompanhar autistas e
aspies com a devida humanidade e ternura,assim como existem as excessões.
Assim , recomenda-se na hora da escolha de um(a)
profissional para acompanhr seu/sua autista, não apenas sua competência técnica
e clínica, seu currículo Latte, seus títulos e diplomas, seu renome, mas o
jeito com que ele/ela trata a criança durante a sessão e aos pais também .Se
não tiver o carisma e a sensibilidade, humanidade, consideração necessárias,
recomenda-se procurar outro/a profissional, pois este(a) poderá acarretar
problemas aos filhos e pais, ou simplesmente, não dar resultados.
Alguns pais e mães de autistas severos muitas
vezes se dizem descrentes de que seus filhos amadureçam, evoluam, progridam,
mas, será que isto muitas vezes não se deve também a um(a) mau/má profissional,
que não tem o tato, a sensibilidade necessárias?Já vi casos de autistas severos
que progrediram muito depois de mudar de
profissionais !
Só a técnica não basta,humanidade também faz a
competência- e a eficiência também !
Cristiano Camargo
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