“Vá,
viajor, Siga o vento,
Aproveita
este fugaz momento,
Consuma-o
de modo lento,
Para
saborear suas memórias
Ao
relento,
Ao
fazer da Introspecção,
Uma
arte,
Colores
um quadro que reflete,
Qual
espelho da Alma,
Que
pintas com uma aquarela de sentimentos,
Um
retrato da Realidade,
Posto
que sonho,
Deixas
levar-te,
Por
tua Jornada de emoções,
Que
outros tem por inexistente!”
Quando Hans Asperger descobriu aquilo a que seu
sobrenome veio a nomear para o mundo e para a Ciência,
Ele nem tinha na verdade uma idéia da
profundidade que
aquilo significava.
Muito abaixo do que a Ciência descobrira do
iceberg de conhecimentos que é esta área, jazia um novo mundo de conhecimentos
ainda hoje pouco explorado.
Tem sido senso comum à muitas pessoas ver a
Introspecção como um defeito, algo ruim, algo a ser combatido, algo a servir de
objeto para intervenções clínicas e sobretudo, como algo que faça a pessoa
infeliz e prejudique ou mesmo impeça a sua sociabilidade.
Com isto as pessoas deixam de perceber as belezas
e vantagens da introspecção.
Como puderam perceber, hoje estou falando
especificamente da Asperger. E vou me aprofundar nesta questão.
“-Belezas e vantagens da introspecção? Como
assim?”
Vocês podem estar se perguntando. Como gosta de
falar
um amigo meu, vem comigo que no caminho eu
explico !
O Asperger é um viajante de si mesmo, um
explorador de seu próprio inconsciente. Enquanto outras pessoas são levadas por
este vasto e incontrolável componente da mente humana, o Asperger nele viaja e
profundamente o explora.
Ele faz da introspecção uma Arte, ao pintar um
quadro da realidade de si mesmo, com talento ímpar pintando com uma aquarela de
emoções, nas cores vívidas dos mais profundos e sinceros sentimentos, não um
quadro qualquer, abstrato, mas um quadro que reflete qual espelho, uma miríade
de percepções da Realidade na forma de experiências sensoriais minimalistas, em
sofisticados, intrincados e até intrigantes detalhes, na forma de uma profunda
busca por si mesmo, de identidade de seu Ser, de questionamentos filosóficos,
existencialismo levado às raias do autoconhecimento em que mergulha
profundamente, questiona o que está dentro e fora de seu ser, viaja por sua
natureza, e nela encontra belezas que outros não puderam perceber, com detalhes
e nuances potencialmente infinitos, que nas profundezas do Inconsciente
mergulha, para depois emergir, trazendo para a superfície chamada Consciência,
uma vasta coleção de percepções da Realidade, tanto de si mesmo, como de seu
Mundo Interior de Fantasia, como da Realidade, passando a vê-la mais além do
que com olhos de águia, enxergando com os olhos do Inconsciente, percebendo
detalhes que ninguém se importou em ver antes.
O Asperger então, é um viajante, um peregrino
como todo autista, um explorador, mergulhador de águas profundas das águas da
alma humana, tendo como armas apenas sua sensibilidade, e sua visão de mundos
mais completa, posto que complexa. Ele não apenas viaja por mundos, ele os
explora em profundidade e o que ele vê em si mesmo reflete com espelho a
realidade que vive, a realidade que tem dentro de si também, e neste sentido,
podemos dizer: Todo Asperger é um artista, 1as vezes, inclusive sem
perceber.Paradoxal? Incongruente? Contraditório?
Não, apenas...humano! Como seres duais que somos,
a intrigante e misteriosa natureza
humana , se vista aos olhos da Consciência e da lógica parece cair em
contradição com frequencia, mas ,ei, como se exigir lógica daquilo que há de
mais ilógico e emocional que existe, que é este vasto oceano chamado
Inconsciente?
Eis que pois, por surpreendente que pareça,
alguns aspies podem correr toda esta jornada interna, que reflete dentro de si
uma jornada externa, posto que traz para dentro de si e internaliza todos os
detalhes do que ocorre na Realidade e ficarem tão entretidos dentro de si
mesmos, absortos por tão complexa e abissal concentração de atenção voltada
para dentro, que de vez em quando nem se dão conta da jornada maravilhosa que
estão realizando.
Em suas peregrinações pela Realidade e Fantasia,
absorvem as sensações e fatos da primeira para a segunda, onde tudo isto é
destrinchado, meticulosamente dissecado, colocado em detalhes , percebido e incorporado.
Alguns podem achar que Realidade e Fantasia sejam
estanques e bem separadas uma da outra , numa relação dicotômica tão provável
quanto a possibilidade de duas linhas paralelas se encontrarem.
Bom, é assim que outras pessoas fazem, e por isto
não conseguem entrar na mente dos Autistas, dos Aspergers, e sem conseguir esta
chave para entrar, não conseguem entender, e fazem do Autismo, da Asperger, um
quebra cabeças cheio de mistérios. Então o que é para eles tão misterioso,
complexo, intrigante ou até chocante, para nós é simples, tão simples que fica
difícil explicar para eles em termos que eles sejam capazes de entender. Por
quê?
Por que ambos tem, e vivem, experiências mentais
diferentes entre si. As outras pessoas não vieram ao mundo com estas pontes e
estradas ligando a Realidade à Fantasia e vice versa. Sim, vice e versa, por
que enquanto uns separam dicotomicamente, outros veem uma relação dialética
intensa de interação entre Realidade e Fantasia, em que uma não tem predomínio
sobre a outra, o que nos permite não apenas ter uma vivência mais abrangente e
completa, e mais feliz, por que não?
Afinal, temos, embutida na nossa Natureza, como
item “de fábrica” uma poderosa válvula de escape que é acionada a cada vez que
a Realidade(ou a Fantasia também) se torna dura demais, insuportável, enquanto
que nas outras pessoas este “item” é opcional, ou não “vem” nem “por encomenda”...rssss
Justamente pela falta desta válvula de escape da
Realidade, muita gente recorre às drogas, alcoolismo, etc. Especialmente as
pobres almas que ficam crentes de que Fantasia é sem importância ou mesmo
prejudicial e deveria ser combatida- estes são os que mais sofrem com suas
próprias limitações, pois só enxergam metade do quadro mental que nós pintamos.
Ao contrário de nós, estas pessoas pintam um quadro superficial, feio , em tons
de cinza nada sensuais, em que se vê só a tinta, e em que a transparência do
espelho autista, Asperger, não está em absoluto presente. Na verdade, certas
pessoas não-autistas
na
verdade, estão tão profundamente mergulhadas na realidade, com os pés tão
firmemente enraizados no chão duro de seus pessimismos depressivos ao
mesmo tempo tanto assim
superficiais(olha a contrariedade humana de nov aí, gente !) , que tem medo de
encarar este espelho e olhar para o que estão pintando, ou só olham de
soslaio,commedo de enfrentarem-se a si mesmos enquanto nos dizem para enfrentar
a realidade para a qual eles mesmos não veem solução, mas que nós muitas vezes
já a vislumbramos, pois somos beneficiados pela criatividade que eles não tem.
Então dá-lhe chamar a Introspecção de “déficit de
Sociabilidade”, e “fuga da Realidade” o que na verdade é um superávit de
percepções, eis que pois mais abrangente e complexa, de duas, e não apenas uma
dimensão, e na verdade é um encontro com uma visão de si integrada e
indissociável da realidade de si com a realidade do mundo.
A Sociabilidade começa com o enfrentamento e a
boa relação da pessoa com si mesma. Se ela não for capaz de se relacionar bem
com si mesma, não terá uma experiência de Sociabilidade feliz. Por isto muitas
pessoas sociáveis são infelizes, por que fogem de si mesmas, procurando
inconscientetemente por si mesmas em outras pessoas, transformando a
experiência sensorial e emocional da Sociabilidade num inferno para suas vidas.
Aspergers se bastam a si mesmos por que encontram
em si um oásis, e quando decidem buscar outras mentes, outros inconscientes a
explorar, explorando a intrincada selva das relações sociais, o fazem em seu
espírito de aventura, de buscar o novo, da ânsia de buscar e explorar novos
mundo, oh, esta infinita curiosidade !
E como toda nova aventura, esta pode ser
proveitosa e/ou sofrida, pois é um tempo de aprendizado, e nenhum saber é
legítimo se não for sofrido, pois só se amadurece sofrendo.
Eis que pois, a Introspecção é bela e tem suas
vantagens. Todas as pessoas, autistas ou não, tem seus momentos ou fases
inteiras de introspecção. É algo natural, faz parte da essência de se ser um
Ser Humano, e faz as pessoas mais sensíveis, lhes acrescenta
beleza de coração e alma.
Mas, pelo visto, é uma particularidade, uma
singularidade nossa, fazer da Introspecção uma Arte. E as grandes descobertas e
as maiores obras de arte, aliás, são todas frutos da Introspecção. É necessário
se isolar para criar, pois só assim, as portas para dentro de nós mesmos se
abre para iniciarmos nossa bela jornada ao infinito de nós mesmo, indo de
encontro à beleza humana !
Cristiano Camargo
Que bela e profunda reflexão. Parabéns!
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