Muitas vezes são
precisos muitos iguais para conseguir entender um Diferente. Ou para conseguir pensar como um Diferente.
Muitas vezes nem assim conseguem.
Porque?
Porque para os
Iguais se entenderem entre si, é fácil: há uma identificação em quase tudo,
muitos elementos em comum entre si. Mas
com os Diferentes já não é assim, porque já não há referências, nem
identidades, é o Desconhecido.
Claro que é muito
mais cômodo ficar na Zona do Conforto e nem tentar entender, é muito mais fácil
discriminar, ter preconceito, excluir e desqualificar quem e o que não se
conhece.
Tudo isto por que
falta um elemento em comum, que possa criar uma identificação, além de, em
alguns casos, a preguiça pura e simples, claro.
Para a preguiça,
isto depende de cada um(a), mas para o surgimento de elementos em comum, é
necessário apenas um objetivo comum:
Que Iguais e
Diferentes tentem entender um ao outro e se ensinem mutuamente.
Mas não falo do tipo
de relacionamento de quando os Portugueses chegaram ao Brasil e deram de cara
com os índios: Os Diferentes não querem espelhinhos, nem apitos.
Querem uma relação
fraterna, de igual para igual , sem hierarquias, ou submissões.
Os Diferentes não
são os animais de estimação dos Iguais, para que os Iguais os acolham para se
sentirem superiores e dominantes.
Um animal de
estimação só é considerado fofinho, uma gracinha , enquanto está sob o jugo de
nossas ordens e dependem de nós para viver, estão sob controle. Nosso controle.
Se começam a ter
idéias próprias, se rebelam, não fazem mais nossas vontades, não satisfazem
mais nossas vaidades, não mais nos obedecem e se voltam contra nós, eles passam
a ser odiados, rejeitados, excluídos, abandonados.
Ser Diferente tem
muito a ver com isto, é ser subversivo, desobediente, não se encaixa, não por
seja incapaz de se encaixar, mas pior, por que não quer. Não é da natureza dos Diferentes ser
subserviente, submisso.
É o suficiente para
que o consideremos doente e passível de tratamento (lavagem cerebral,
condicionamento para a obediência, uniformização para que se torne tão igual
quanto nós através de remédios psiquiátricos).
Diferentes são
indomáveis por sua própria Natureza, de certo modo são selvagens, por que
Livres.
Livres das
padronizações, das massificações, das fômas sociais, dos rótulos de códigos de
barras na testa e livres da estreiteza de visão do tapa olhos de cavalo que a
Sociedade coloca em cada pessoa logo que nasce .
Não dizia Rousseau
que as pessoas nascem puras e são corrompidas pela Sociedade?
Pois é, os
Diferentes são pessoas que a Sociedade não conseguiu corromper, ou corrompeu
muito menos. Não portam tapa olhos nem tem o rótulo com o código de barras com que a Sociedade quer
carimbar na testa deles.
Como se não
bastassem, eles, os Diferentes, portam espelhos que mostram a corrupção da alma
das pessoas, e isto faz muita gente odiá-los, pois não querem se ver a si
mesmos como realmente são, mas com a máscara idealizada de cada um, pois aqui,
aqui é uma Sociedade de Ter e Pretender Ser, mostrar mais do que se é
realmente.
As pessoas iguais ao
se verem nestes Espelhos da verdade que os Diferentes ficam insistindo em
mostrar, se sentem nuas, posto que despidas de sua falsidade e hipocrisia.Por
isto o escândalo para a Sociedade que é a existência dos Diferentes: aos olhos
da Sociedade eles parecem estar nús, sem a vestimenta social do Parecer Ser,
pois são o próprio Ser, sem precisar Ter para Parecer Ser, eles realmente São!
Então vivemos numa
Sociedade de Espelhos?
Sim, mas não de
espelhos sinceros como os que os Diferentes portam, e sim dos espelhos cômodos,
confortáveis, seguros, dos que distorcem
a Realidade para aquelas que as pessoas gostariam de ser para si mesmas e sair
por aí mostrando para os outros, dependentes que são da aprovação social.
Afinal, o objetivo
do Jogo da Sociedade é alcançar status social. Se não puder, faça um Photoshop
na sua imagem pública social , e pareça que tem e que é feliz, para que possa conseguir
Ter. Aí poderá parecer tão igual quanto os demais Iguais ,afinal todo mundo faz
isto e o gado sempre segue seu Líder para onde for, nada se inventa, tudo se
copia mesmo, e se alguém fizer alguma coisa errada todos cairão no precipício
mesmo...
Eis que pois, é
preciso pegar o espelho que os Diferentes brandem, recusar maquiar sua imagem
pública pessoal, e aceitar-se com realmente és, só assim a mente estará aberta
para novas idéias, e estilos de vida, e
para a aceitação plena dos Diferentes.
Incluir não pode ter
como objetivo manter sob controle os incluídos não são para servir aos
Inclusores, não é um favor que estejam
fazendo, é incluir com “I” maiúsculo,
incluir para realmente incluir, para acolher , não de cima para baixo, com
condescendência, mas por admiração e sinceridade, de coração, pelo verdadeiro
sentido de “Amar ao Próximo como ama a si mesmo”, é acolher como se recebe uma
vista em casa, é acolher como abraçar a um amigo, como se dá as boas vindas
a alguém querido, que ficou muito tempo
longe e se tem saudades.
E não quer que vá
embora nunca mais. Só assim Iguais e
Diferentes poderão conviver em paz e se entenderem mutuamente !
Cristiano Camargo
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