Recentemente, ouve,
por conta das desastrosas declarações da
Presidenta do Supremo Tribunal Federal, de que os Ministros não seriam
Autistas, e seriam cidadãos, num uso indevido e desrespeitoso do termo
“Autista”, dando a entender um uso do termo de modo altamente pejorativo e condenável, mas
também, por outro lado, querendo dizer que Autistas não sejam cidadãos.
Na Realidade, o que
vemos são várias classes de cidadania, em que os cidadãos considerados de
Primeira Classe usufruem de autonomia total e irrestrita, liberdade e independência, inclusive para cometer atos
de corrupção e crimes financeiros dos
mais diversos sem serem importunados.
Mas independente da
posição social e da classe social, há o que podemos chamar de categorias de
Cidadania Mental.
Neste sentido,
Autistas, Downs, casos de Paralisia Cerebral, dentre tantas outras coisas,
ainda não usufruem, como no caso dos Neurotípicos (“Normais”) , de Autonomia, Liberdade e Independência,
mesmo depois de Adultos. Não por que não sejamos capazes, ou por estarmos
inferiorizados em relação aos outros, mas porque muitos Neurotípicos não querem
reconhecer nem os que estão no Poder querem nos reconhecer como Cidadãos
Mentais de Primeira Classe, muitos inclusive nem nos consideram Cidadãos, nem
neste sentido nem em sentido algum.
E o que nós
Autistas, queremos com nossa Inclusão? O que queremos quando defendemos nossa
Inclusão?
Sermos inclusos como
Cidadãos Mentais se Segunda Classe, com direitos , autonomia , liberdade e
independência restritas, limitadas, ficando sob o jugo e o controle dos
Neurotípicos?
Claro que não !
Mas é o que muitos
querem para nós, pois para estes, somos um simples mercado consumidor de
remédios e de consultas clínicas, a fim
de enriquecer uma elite ‘as nossas custas.
Eles não nos querem
cidadãos, o que eles preferiam mesmo é nos manter de propósito infantilizados a
vida toda e com isto eles enganam famílias inteiras a colaborarem no plano
maléfico deles.
O que queremos,
minha gente, é sermos Cidadãos de Verdade, Cidadãos de Primeira Classe, com o
mesmo status social que o dos
Neurotípicos, com todos os nossos direitos assegurados, com direito ‘a
autonomia, liberdade e independência totais, enfim queremos Cidadania de
verdade, completa, de Primeira Classe, pois para nós, Segunda Classe não vale,
não existe, ou se é Cidadão, ou não se é, pois ser Escravo não é ser cidadão.
Tanto que na Grécia e na Roma antigas, os escravos não eram contados como
cidadãos, apenas os Patrícios. E muito mais tarde, no Brasil escravocrata,
igualmente os escravos não eram considerados cidadãos, eram considerados mercadoria.
E de certa forma,
podemos dizer que considerar alguém como mero mercado consumidor de drogas e
consultas a ser mantido propositadamente e eternamente infantilizado e
dependente, é uma forma de considerar a pessoa um escravo.
Neste ponto,
portanto, a Presidenta do STF tem razão:não é que não sejamos cidadãos, mas a
Sociedade não nos considera cidadãos, ou, quando muito, no máximo, cidadãos de
Segunda Classe, escravos de fato. Ainda não nos libertamos. Ainda não
conquistamos a nossa cidadania de fato.
Enquanto existirem
Autistas sendo mantidos infantilizados para sempre, enquanto os Autistas não
conquistarem os seus direitos de maneira permanente, e não me refiro apenas aos
direitos que os pais e mães de Autistas tem conseguido para nós, mas os nossos direitos
que nós, e não apenas os que os nossos
pais, queremos, enquanto nossos direitos
não forem respeitados e não formos verdadeiramente inclusos, não de
maneira inferiorizada, como se fôssemos meros coitados necessitados dignos de
dó a sermos adotados como animaiszinhos de estimação para que fiquenos sob o
controle das pessoas,mas de maneira altiva, orgulhosa, Cidadãos Plenos,
toatais, em pé de igualdade com todos os demais cidadãos, enquanto continuarem
tendo pessoas que usam “Autismo” e “Autista” como se fossem termos pejorativos
para atacar seus inimigos, enquanto as pessoas acreditarem no odioso
estereótipo do menino triste de costas para todos e para o mundo, para
descrever-nos, ainda não seremos cidadãos.
Cidadania se
conquista. Se luta, se conscientiza.Então devemos todos nós, Autistas, lutarmos
juntos para conquistarmos a Cidadania que queremos, plena e igualitária. E
nossos pais e mães devem lutar por esta mesma bandeira também, junto conosco e
cerrar fileiras conosco para nos ajudar a conquista a nossa tão sonhada
Cidadania de Verdade. Autistas, pais e mães, só teremos a ganhar com isto,pois
como há muito venho dizendo, quando o filho autista supera, conquista e vence,
pais e mães deles superam, conquistam e vencem também.
Que venha a nossa
luta, que venha nossa campanha por uma Sociedade Diversa e Igualitária, onde os
Diferentes tenham a mesma cidadania e direitos dos Iguais. Onde ser Diferente
seja ser natural, onde os Diferentes possam ter a chance de contribuir
positivamente para a Sociedade e ninguém mais os estranhar.
“Vem, vamos embora,
que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, já dizia
Geraldo Vandré. Façamos nossa hora então. Se queremos passarmos a sermos vistos
como cidadãos pela Sociedade, que a Sociedade reconheça nossa cidadania que
temos por direito, agora, minha gente, é a hora de agir !
Cristiano Camargo
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