sexta-feira, 30 de março de 2018

A Banalização da doença como forma de discriminação das Diferenças


A Banalização da Doença como forma de discriminação das Diferenças

Numa Sociedade onde tudo é doença,
Ninguém mais é saudável,
Inclusive e principalmente
Quem aos demais chama de doente,

Ter dó dos que julga inferiores
Não te faz sensível nem afável,
E sim falsamente amável,

Com ódio no coração e amor nas palavras,
Na verdade toda esta falsidade,
Te faz um Dominador insaciável,

Não queres Inclusão e sim supremacia,
Incluir como doente é uma forma de Exclusão,
Onde todos que lhe são coniventes,
Chafurdam covardemente na Hipocrisia !

Hoje em dia tudo é doença, numa miríade sem fim de síndromes, transtornos, desordens, disfunções, perturbações, todas apresentadas como se fossem aberrações psiquiátricas, que levam os manuais de doenças psiquiátricas a ficarem cada vez mais volumosos e cada vez mais difícil conceituar o que seja uma pessoa “saudável” .Tudo isto alavanca uma indústria  a prosperar e lucrar alto mesmo nas piores crises, aliás, quanto mais a crise, maior a proliferação de novas e mirabolantes “doenças”.
A pessoa é tímida? É doente !
A pessoa não gosta ou não quer se socializar ou interagir socialmente?É doente !
A pessoa tem trejeitos diferentes, faz movimentos circulares, repetitivos ou gosta de manipular ou brincar com objetos com movimentações circulares e/ou repetitivas?É doente!
A pessoa é distraída?É doente?
A pessoa não quer saber de relacionamentos amorosos e/ou sexo?É doente !
A pessoa é calada, ou não quer verbalizar, ou não verbaliza no tempo que a Sociedade ditou como saudável? É doente !
A pessoa tem um Mundo Interno de Fantasia?É doente!
A pessoa tem um processo de desenvolvimento e de aprendizado/amadurecimento diferente das demais? É doente!
A pessoa é diferente de você ou do que você gostaria que ela fosse?É doente !
Se você vê doença em qualquer destas coisas e passa a se referir ‘a pessoa como um diagnóstico e não mais como a pessoa humana, o problema , a doença , não está na pessoa, está em você.
Se você vê doença em qualquer coisa  ou qualquer pessoa que não seja igualzinha a como você é, que não se comporte igualzinha ao seu comportamento , em quem não tem hábitos, culturas,trejeitos, costumes, valores, ideologia, cor de pele, gênero, natureza iguais aos seus/suas, o problema, a doença não está na coisa ou na pessoa, está em você!
Se você só é capaz de ver as Diferenças como doenças, síndromes, transtornos,  desordens, disfunções, alterações, perturbações, é olha para a pessoa diferente de você e só vê nela um diagnóstico e só consegue se referir a ela como um diagnóstico, o problema , a doença, está na pessoa para a qual você aponta seu dedo acusador, está em você !
Se você só consegue ver as Diferenças como Diagnósticos, e não como Naturezas de Ser, o problema não está na Diferença, está em você!
Se você não consegue  ver as Diferenças como doenças e não como uma Diversidade natural da espécie humana, o problema não está na Diferença, está em você !
O problema não é a Diferença. O problema não está na Diferença, nem na Diversidade, está na Sociedade excludente, que não aprendeu a lidar com o que não lhe é espelho, e que por isto mesmo espelha sua ruína, sua falta de caráter, seus vícios, seus defeitos, sua corrupção, sobretudo de valores, sua falta de empatia e sensibilidade, enfim, sua doença.
E a doença a que me refiro não é uma doença psiquiátria, não está em nenhum DSM  ou CID. É uma doença de caráter, cujos sintomas são falta de sensibilidade, empatia, de democracia, de inclusão, de tolerância,de altruísmo, de honestidade, honra , e seus reflexos são medonhos:Estigma Social, Preconceito, Intolerãncia, Discriminação, Exclusão.
Se ser doente é ser Diferente e ser saudável é ser igual, padronizado, a Sociedade não é mais humana, é uma sociedade artificial, de monstros, é uma Ditadura Opressora que impõe  a ferro e fogo  o devaneio pernóstico e ilusório da “Normalidade”- uma ficção que não existe, nem nunca existiu, mas que muitas pessoas sentem uma necessidade imperativa de acreditar que exista.
E por que chamar tudo de doenças, síndromes, transtornos, disfunções, etc? Para lotar consultórios e vender mais remédios?
Somos gente ou somos consumidores? Existimos como propósito único de consumir e produzir para o Mercado, ou para sermos felizes, vivermos emoções, alegrias, realizações ?
Isto é ser saudável? É isto que é ser “Normal”?

Cristiano Camargo