terça-feira, 16 de abril de 2019

Autismo:o que é mesmo que limita o Autista?

Esta madrugada, li por acaso, em um grupo de Autismo, um relato de uma mãe de Autista que acabara de obter sucesso na fala de seu filho, e que dizia: "-Não deixem o diagnóstico limitar a Vida de seu filho".
Pensei filosóficamente nesta frase singular, e cheguei 'a conclusão de que a reflexão em cima desta singela frase, tão simbólica e passível de tantas interpretações,de que ela poderia me render um grande artigo sobre Autismo.E rendeu !
A questão aqui hoje é refletir sobre o simbolismo e significado desta frase em particular e de todo o drama que em si ela encerra:
Infelizmente, hoje em dia, muita gente, mas muita gente mesmo, só consegue ver o Autismo como se ele fosse um diagnóstico. E acha que o Autismo só passa a existir na vida do Autismo a partir do diagnóstico. É como se a pessoa Autista, antes de ser diagnosticada, não fosse um Autista, aliás, como se nem pessoa fosse, e mais aliás ainda, depois do "acontecimento", do papel timbrado e assinado pelo(a) Doutor(a), aí é que deixa de de ser uma pessoa mesma, pq aí "recebe o status" ,que a sociedade inteira, não só a família, estavam esperando, de "Diagnóstico de Autismo".
Pronto ! A pessoa agora está pronta para receber toneladas de medicamentos e se tornar dependentes deles, receber "educação especial" de ficar trocando cartõezinhos e recortando e colando papéizinhos e jogando uma bola gigante de plástico um para o outro qual sonâmbulo,e cartilhas de deixar a "Caminho Suave" horrorizada de vergonha diante de tamanha simplicidade e falta de conteúdo perto do conteúdo escolar que as outras crianças recebem, sempre naquela mentalidade tipo "-Ah, gente, ele é deficiente, então, vamos facilitar ao máximo para que ele possa entender" (tradução: "-Ah, gente, ele é burro, vamos dar um lixo qualquer para ele, ele não vai aprender mesmo").E estará pronto a ser condicionado a viver como um Diagnóstico ambulante, como F84.1, F84.5, f84. O escambau a quatro, com uma roda enorme discutindo sobre o diagnóstico dele, progressões, regressões, um milhão de elocubrações...sobre ele? Não !Sobre o Autismo?Não. Sobre o Diagnóstico dele ! Ele mesmo, para os doutores e para tanta gente discutindo nas comunidades, na mídia, nos eventos, congressos, simpósios, artigos científicos, etc,já desapareceu como pessoa humana inteligente, natural, com sentimentos, já perdeu sua humanidade, pq já teve um código de barras colado a ferro na testa, escrito "Autismo F84.seja lá o que for",o famoso e tão propalado "Diagnóstico", e esta letra seguida destes 84 seguidos depois do ponto, por outros números, tem nestes últimos uma espécie de determinação, de condenação, distinguindo, conforme o número que segue o ponto, quem tem o direito direito de receber "tratamento X ou Y", quem tem o direito de ter capacidade e potencial para alguma coisa ou não,para sempre (inclusive de aprender e falar) ,e qual das três CELAS DE PRISÃO MENTAL a Sociedade o mandará, a S, a M ou a L. Pronto agora ele já tem , também na testa, a Casta Mental a que irá pertencer PELO RESTO DE SUA VIDA.
E pronto o Autista estará também pronto para ser adestrado qual macaquinho de circo , para trocentos "Métodos" behaviouristas pavlovianos, afinal, as pessoas dizem que se ele é um Diagnóstico, e não uma pessoa, é uma cobaia para experimentos científicos e para todo tipo de manipulação da sociedade sobre ele, afinal, se ele é um diamante bruto a ser lapidado, vamos lapidá-lo como nós quisermos e o transformar numa linda estátua de neurotípico...
Pois é, chocante tudo isto, não?Tão chocante quanto verdadeiro !Quanto real, é um retrato de como o Autismo e os Autistas são tratados e pensados na Sociedade atual.
Tudo isto eu mostrei , para preparar o terreno para poder prosseguir com o meu raciocínio, que vocês logo entenderão:
Quer dizer, Muita gente, mas muita gente mesmo, só consegue ver o Autismo como se ele fosse um diagnóstico.Só consegue enxergar o Autismo dentro de uma dimensão de diagnóstico.Só consegue enchergar que o Autismo exista, se estiver enquadrado dentro do quadradinho do diagnóstico.Se não se referir ao Autismo como diagnóstico, estas pessoas ficam confusas, perdidas, perdem o chão, são incapazes de pensar para além desta caixinha tão limitante, tão patéticamente estreita, microscópica chamada diagnóstico, sem ter idéia, do verdadeiro universo que existe para além deste quadradinho, que é só o tamanho que as limitações das pessoas que só enxergam o Autismo como diagnóstico conseguem imaginar- mas que falta de imaginação, de criatividade, que DEFICIÊNCIA em capacidade de receber novas idéias !
Muita gente ingênuamente ainda não se deu conta de que ver o Autismo como se ele fosse simplesmente um diagnóstico e mais nada é ver o Autismo como se ele fosse uma doença, como se ele fosse um transtorno.E, inocentemente,(ou não), esta gente ainda não se deu conta de que ela ver o Autismo como se fosse uma doença significa ver o Autista como um doente. Não como gente, não como um ser humano. Esta gente ainda não se deu conta de que ver o Autismo como se fosse um transtorno significa ver o Autista como um transtorno- para a Sociedade, um estorvo indesejável, um fardo, uma cruz a carregar, como alguém que só cause problemas e que, no fundo, no fundo, a Sociedade amaria eliminar num HOLOCAUSTO PSIQUIÁTRICO PARA A PURIFICAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DA SOCIEDADE .Então, a cada vez que você chama o Autismo de transtorno, vc está revelando um desejo inconsciente de um HOLOCAUSTO PSIQUIÁTRICO PARA A ELIMINAÇÃO FÍSICA DE TODOS OS AUTISTAS DA TERRA.Pense bem, pois é isto que significa.
Não há Inclusão possível com uma horda de gente que tem este desejo inconsciente.Gente que acha que Autismo só dá trabalho, e que se o Autista não for forçado na marra a se encaixar nas fôrmas sociais da Sociedade e não ficar preso nelas, deveria ser simplesmente eliminado, por métodos (pseudo) "científicos" eugenistas para tentar transformar na marra, até a nível celular-genético, o Autista em Neurotípico,e, numa só tacada, impedir para sempre que novos Autistas sequer consigam nascer, e para isto , empregam picaretas travestidos de cientistas para tentar fazer o que verdadeiros cientistas jamais fariam.Pois quem ama a Ciência jamais trabalha para eliminar a Diversidade, inclusive genética, de uma espécie. Ninguém sério, honesto e ético faria a picaretagem e a desonestidade de buscar uma "cura para o Autismo.Mas charlatães de jaleco gananciosos e suspirando por gordíssimas verbas da indústria farmacêutica fariam- e continuam tentando o impossível até agora, buscar uma cura para algo que não é uma doença, mas uma diversidade, só para tentarem ficarem milionários.
Não haverá Inclusão possível enquanto os meios clínicos continuarem a ver o Autismo como doença/transtorno e os Autistas como pacientes que são um transtorno para a Sociedade a ser resolvido.
Não há Inclusão possível enquanto os Governos e o Congresso, a ONU e seus órgãos continuarem a ver o Autismo como se ele fosse doença/transtorno e os Autistas como pacientes que são transtornos para a Sociedade a serem resolvidos.
Não há Inclusão possível enquanto o Autismo estiver incluso injustamente no CID e no DSM.
Não há Inclusão possível enquanto os pais de Autistas não deixarem de serem influenciados pelos meios clínicos, a literatura clínica e não pararem de ver o Autismo como uma doença, um transtorno, um luto, e outros pais não pararem de ver no Autismo uma desgraça, um castigo divino, focando só nos filhos, enquanto que Autismo e Autista são indissolúveis, inseparáveis, não há como se amar o Autista sem amar o Autismo.Pq se você focar só no filho em si, sem levar em conta que o Autismo é parte integrante dele, você nunca resolverá nada e nunca será feliz, nem nunca fará o filho feliz, por que só focou na metade da questão e esqueceu a outra metade- ou tenta negá-la, não ver a ela.
Só haverá Inclusão possível quando os pais encararem a realidade e perceberem a naturalidade do Autismo, sua humanidade, sua diversidade , e aceitarem o Autismo como ele é, natural, diverso e corriqueiro.A partir dos pais, esta consciência pode ser transmitida para círculos superiores da Sociedade, como os meios clínicos, científicos, políticos.
Aquela mãe estava correta: Não deixem o Diagnóstico limitar a vida de seu filho!
Porque o que limita a Vida do Autista é o mau uso do Diagnóstico do Autismo. É o Diagnóstico usado como ferramenta de discriminação, é o Diagnóstico sendo usado para tentar transformar Autistas em Neurotípicos e exigir que se transforme , se comporte e pense como neurotípico.É  uso do diagnóstico para inferiorizar o Autista perante a Sociedade, tratando-o como um doente, um transtornado, um doente, um coitado, como se ele fosse uma coisa aberrante que "destoasse" do resto da humanidade e precisasse ser "corrigido" através dos "métodos" mais pavlovianos possíveis, dando carta branca a todo tipo de manipulação de Autistas.
É o uso do Diagnóstico do Autismo para tentar justificar uma inexistente falta de habilidades, qualidades, capacidades,potenciais e assim negar chances de desenvolvimento para certos Autistas.
É o uso do Diagnóstico do Autismo para classificar e separar Autistas  em castas mentais que limita a vida dos Autistas também.
Assim como é o uso do Diagnóstico do Autismo para pressionar Autistas a se sociabilizarem e tentarem se encaixar nos moldes podres de um sistema escolar doente, que não educa direito nem os próprios neurotípicos, quanto menos o Autistas, trazendo aos Autistas depressão, angústias, bullying e até o suicídio!
É inclusive , igualmente,o uso do Diagnóstico de Autismo como ferramenta para a Sociedade pressionar os Autistas a se encaixarem nos moldes sociais de uma Sociedade doente,individualista, egoista, gananciosa, não como seres humanos cidadãos , com os mesmos direitos e o mesmo status sociais das demais pessoas, mas como exclusivamente mercado consumidor de remédios psiquiátricos e de clínicas, um sub cidadão sob controle e vigília constantes, gado para gerar lucros para indústrias farmacêuticas e médicos e para serem cobaias de novos remédios, mais nada.
Por tudo isto, parém de ver o Autismo como doença ou transtorno e o Autista como um doente ou um desajustado anômalo, um deficiente, a quem falte sociabilidade. Para você e para os círculos clínicos, interação social pode ser algo importante na vida, para se integrar na sociedade, para nós Autistas, nem tanto.Nossa Natureza é diferente da de vocês, então não nos venham tentar impor o que não achamos tão importante assim. Mesmo por que, muitos de nós, acreditam (e inclusive vivem isto)que é perfeitamente possível se integrar e viver em sociedade sem ter de ficar interagindo intensamente.Só com o mínimo.Por que nós curtimos a solitude e fazemos dela uma arte e desta brota a arte da criação.E isto não é doente, isto não é transtorno, isto é natural.
Se todos começarem a descobrir a naturalidade e a beleza da diversidade Autística, e o que ela é capaz de criar, produzir, contribuir positivamente para com a Sociedade, talvez nos entendam, que não somos esquisitos, nem doentes e que nossa diferença não é uma desordem, nem é disfuncional.
O que realmente limita a vida dos Autistas é a visão patologizante (aquela que acha que Autismo seja doença/transtorno), espectrista(a que acredita num falso e injusto espectro autístico, que inexiste), reducionista (aquela que reduz o Autismo 'a dimensão ínfima e tacanha de um simples diagnóstico) e infantilizadora (aquela que acredita que todos os Autistas sejam crianças até qdo já adultos) do Autismo.
Libertemos-nos todos e todas destes dogmas arcaicos e ultrapassados, destes grilhões que nos prendem nas jaulas da ignorãncia e que prendem , limitam, os Autistas, abraçando a Neurodiversidade e a Visão Positiva do Autismo e ajudando os Autistas a construirem uma Imagem Pública Positiva do Autismo, vendo, passando a ver o Autismo como uma Diferente Natureza de Ser, que faz parte da Diversidade Natural Humana, e passando a ver os Autistas como pessoas humanas naturais, tão naturais quanto vocês.
 Garanto, fará tão bem a vocês quanto para nós e não doerá nada em ninguém!

Cristiano Camargo

 

domingo, 14 de abril de 2019

Inclusão Seletiva

O modelo de Inclusão vigente hoje em dia é um modelo cruel e ineficiente- sobretudo  por que é seletivo.Mesmo pessoas dos círculos das comunidades de Autismo (não todas, claro) que dizem defender os direitos dos Autistas,querem apenas "incluir" um Autista imaginário, mediano, um estereótipo de Autista.
Uns só querem incluir se for um Rain Man, outros querem incluir um Seinfield, outros, um The Good Doctor da vida, outros uma que seja parecida com a Temple Gradin.
Outros, "menos ambiciosos"  só querem incluir se o Autista for homem, branco, hétero, e, pelo menos, aparente "bem de vida" financeiramente falando(ele ou a família dele).
Outros, tão perversos quanto, usam de seu injusto e equivocado espectrismo para tentar justificar que só queiram incluir ou o que eles chamam de Autista tipo "L", ou o que eles chama de Autista  tipo "M" ou o que eles chama de Autista tipo "S". Covardemente, não assumem públicamente, mas tem fortes preferências por incluir só os que eles mesmos chamam de tipo "L", pq eles mesmos acham, equivocada e injustamente, que os demais nunca terão capacidades nem potenciais para nada, nunca.No fundo, para os demais,estas pessoas não querem inclusão, querem manter estes Autistas eternamente infantilizados e dependentes, sem desenvolvimento e dependentes de remédios para o resto de suas vidas.
E ainda temos por fim, os que só querem inclusão para quem eles chama de "Autistas típicos" (existe algum?Alguem já viu um destes voando por aí?) e, talvez  os mais perversos de todos:só querem inclusão para os Autistas que forem transformados em Neurotípicos ou pensem e se comportem como se fossem neurotípicos!
Querem saber de uma coisa?
Inclusão seletiva não é inclusão !Por que Inclusão de verdade, minha gente, é  Incondicional !
Afinal, Inclusão é uma forma de amor (ama-se o que se admira, não o que se tem dó, pois ter dó não é amar) e amor de verdade é incndicional, não fica escolhendo.
Por que então se v~e tão poucos Autistas negros nas redes sociais?Por que quando acontece algo dramático com eles, nunca tem a mesma repercussão que com Autistas brancos?
E o que dizer então de tantas mulheres autistas que se veem pressionadas pela sociedade, se sentido obrigadas, a esconder seu Autismo a todo custo da Sociedade?Algumas conseguem se libertar, se assumir Autistas e exercer o Ativismo, mas e as que não tiveram as mesmas chances?
Há alguma estatística de Autistas indígenas no Brasil?
E a luta dos Autistas LGBT então?
É tudo muito injusto !
Então, Inclusão tem de ser Incondicional, Democrática, para todas e todos, sem exceção.
!
Cristiano Camargo