sábado, 30 de junho de 2018

As Preferências dos Autistas não são limitações !




Hoje eu vi no Facebook  uma postagem sobre um menino autista que gostava de usar bonés, e só usava de uma única cor e estilo.O menino não devia ter nem 12 anos de idade, a julgar pela foto, pequeno ainda.E lá dizia, pelo que entendi, que ofereceram a ele um boné de outra cor e ele finalmente aceitou e usou.Bom, na postagem, chamaram o fato do menino gostar de usar boné, e de ele preferir só uma cor e estilo, de limitação, e acharam que o fato de ele ter finalmente aceito usar um boné de outra cor, de superação.
Não, não é uma limitação e não é uma superação e não tem nada de mais. É preciso entender que esta é uma preferência pessoal natural, que todas as pessoas tem direito de ter, e que os Autistas também tem direito de ter sem que esta preferência seja chamada de limitação!
Oras, quanta gente não-autista adulta não usa boné por aí em tudo quanto é lugar, tudo quanto é ocasião?Está cheio por aí!E por que ninguém chama isto de limitação?Pq são não-autistas, pq se fossem, seriam chamadas de limitações, entendem o que quero dizer, e o que há por trás disto?
O que dizer então de gente não-autista adulta que usa óculos escuros dentro de shoppings ou outros lugares fechados e bem iluminados?Então, as preferências pessoais, se forem de não-autistas, serão chamadas de manias, e se forem de autistas serão chamadas de limitações?Por que a diferença no tratamento?
Preferências pessoais não são manias nem limitações, e aceitar uma nova cor, um novo estilo, não é nenhuma superação, é algo natural, as pessoas tem direito de fazer opções-ou autistas agora deixaram de ser pessoas para serem diagnósticos? Se é preferência e não limitação, não é superação, ou estaremos chamando autistas de sub-humanos.
E por que é dado aos não autistas o direito de escolha, de preferência, ainda que a mesma persista por anos a fio, sem chamar esta preferência de limitação ou restrição, e aos Autistas não é dado este direito, e sim um dever de ser obrigado a gostar de tudo sem poder recusar nada, sem poder preferir nada, sem que esta preferência seja desqualificada como limitação ou restrição?Quem a Sociedade pensa que Autistas são?Pessoas ou Diagnósticos?Agora então nós Autistas temos de lutar para deixarmos de sermos considerados diagnósticos vivos para passarmos a sermos reconhecidos pela sociedade como Pessoas Humanas?Para subir nosso status social para Humanos? E por acaso Diagnóstico é status social?Por acaso Diagnósticos respiram, comem, bebem, tem sentimentos e personalidades?Olha o nível de absurdo que a visão patologizante do Autismo chega !
Preferências não são nem manias , nem limitações , nem restrições, e precisam ser respeitadas como preferências, vamos parar de chamá-las de manias, de limitações, parar de impor esta regra absurda de Autista ser obrigado a aceitar sem questionar absolutamente tudo o que lhe for oferecido, e se não aceitar é ingrato, é limitado, é restritivo. Isto não está certo. Se autista gosta de boné, dinossauro, marca de carro, cor, trem, avião, etc, não basta apenas respeitar a escolha dele e deixar ele gostar do que quiser e usar o que quiser, vamos tratar esta escolha dele como preferência, algo sadio e a que todas as pessoas tem direito, vamos humanizar nosso olhar sobre o Autismo, pq o simples e gélido olhar clínico patologizante faz mal para os Autistas e para as famílias dos Autistas e para todos que lidam com ele, pois negam a condição humana saudável ao Autista, retirando esta condição dele e colocando outra artificial, o rótulo , o código de barras, a marca em brasa pregada na testa de Diagnóstico, que ainda precise provar que é...GENTE !

Cristiano Camargo