sábado, 28 de novembro de 2020

Dez Dicas Preciosas para Mães e Pais de Autistas no lidar com seus filhos



Vou agora lhes dar algumas dicas, as quais eu tenho dado para muitas mães, que talvez possam lhes ser úteis, então, lá vai:
1) Autoritarismo e Autismo não combinam. Muitas mães me procuram para pedir dicas de como forçar os filhos delas a obedecerem a elas cegamente, ficarem dóceis e submissos, dicas estas que nunca dou, pq prejudicariam os filhos delas. Autistas não aceitam ordens, não gostam de serem mandados, e nunca serão, por conta própria, dóceis e submissos. Por isto que muitos médicos administram remédios psiquiatricos que forçam a submissão artificialmente, o que a longo prazo, faz um mal danado aos Autistas. Tudo com os Autistas deve ser sugerido, convidado, e se for criança, em tom de brincadeira, e sem muita insistência ( o por que explicarei depois); 2)Autistas são pessoas sensíveis, contemplativas e que tem uma necessidade de solitude muito maior do que as outras pessoas, ou seja, tem necessidade de serem deixados em paz , sozinhos e isolados por mais tempo que outras pessoas, e isto não é um defeito, nem um sintoma , é da Natureza deles.Então , não se deve chamar a atenção deles a toda hora e qdo eles quiserem ficar sozinhos, deve-se deixar eles ficarem sozinhos, e não se preocupe, ficar sozinho é uma fonte de prazer e diversão para Autistas, não de solidão e tristeza;3) Não tente tirar ou modificar as rotinas , "manias" e movimentos repetitivos do Autista, nem seu extremo interesse por algum assunto ou personagem específico, deixe ele curtir esta paixão.Qualquer mudança de rotina deve ser avisada com antecedência e negociada.Deixe ele ter seus rituaizinhos de sempre, por mais demorados que seja e não tente mudá-los. Autistas um dia também enjoam de seus rituaizinhos e criam novos, mas são eles que tem que mudar quando ELES quiserem, não vocês; 4) Estimule a criatividade dele , oriente-o desde pequenininho para a independência , autonomia e liberdade dele, faz tudo por ele, mas NÃO FAÇA TUDO PARA ELE NO LUGAR DELE, deixe ele se virar e fazer as coisas sozinho; 5) Acredite nos sonhos, capacidades e potenciais dele, e o ajude a cumpri-los, MAS NÃO O CUMPRA PARA ELE, NO LUGAR DELE, ele é que tem que conseguir, com sua ajuda sim, mas a maior parte ele é quem tem de conquistar por mérito próprio; 6)Não queira que ele seja como você gostaria que ele fosse, deixe ele ser ele mesmo, deixe ele exercer seu Autismo, não tente mudar o comportamento autístico dele. 7)Ao ensinar alguma coisa para ele, ensine-o ao lado dele, sem olhar nos olhos dele, nunca de frente, sempre de lado, o aprendizado lateral é muito mais eficiente para Autistas do que o tradicional , de frente olhando nos olhos; 8)Não fique tentando arranjar amiguinhos(as) para ele (se for criança), ou amigos(as), não o force a ser sociável, e não se preocupe nem o repreenda se ele (caso for criança) preferir objetos do dia a dia da casa e mobília do que brinquedos ou se preferir brincar sozinho, é da Natureza dele, e amigos/amigas só vão atrapalhá-lo e deixá-lo nervoso, justamente pq ele quer brincar sozinho em paz -se ele quiser amigos ou amigas, ele mesmo irá correr atrás ou pedir sua ajuda; 9) Caso ele surte: O Autismo é muito diverso e cada Autista tem uma reação diferente, mas em muitos casos, abraçar, tentar conversar, ou pior, ter uma reação desesperada, nervosa, só piora. Em muitos casos, o melhor é deixar ele sozinho até ele se acalmar, não se preocupe, ele se acalma sozinho, e até lá, deixe ele externar toda a raiva dele, ele precisa desta válvula de escape para se acalmar: é muito comum em Autistas descontar sua raiva nos objetos, isto os acalma; 10) Nunca fique insistindo em ordens, ou para ele fazer alguma coisa, sistemáticamente, esta é uma das maiores causas de surtos em Autistas. Nunca fique negando nada sistemáticamente , só por negar, sem uma razão lógica para isto. Quando for negar alguma coisa ao Autista, explique o por que de estar negando , de forma clara e com argumentos lógicos e deixe ele questionar seus argumentos, e negocie com ele até chegar a um acordo bom para os dois.Nunca negue sem explicar ou alegando por que sim, por que não, nem nunca negue impedindo ele de questionar a negação, alegando respeito. Lembre-se de que questionar e desobedecer nem sempre é desrespeitar, muitas vezes inclusive, é a forma que o filho tem de dar uma resposta ao desrespeito dos pais dele a ele, pois toda forma de autoritarismo é uma forma de desrespeito.

Cristiano Camargo

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Autismo no Microscópio

 


O que artigos "cientificos" sobre Autismo publicados pela imprensa, geralmente interpretados errado, ou distorcidos pela própria imprensa, e geralmente de "pesquisadores" obscuros de universidades sem renome e publicados em revistas científicas fajutas, sem credibilidade nenhuma, picaretas mesmo, que são a esmagadora maioria dos "artigos científicos" que circulam nas comunidades de Autismo do face, tem a ensinar 'as Mães e Pais de Autistas, e a Autistas própriamente ditos, especialmente certos Autistas Ativistas, que só se informam destas fontes duvidosas de credibilidade científica zero, afinal?
Sim, estes artigos mesmos, todos patologizantes, espectristas, reducionistas, infantilizadores, estigmatizantes!
Eles ensinam os pais a amar e incluir seus filhos da maneira ERRADA ! Ensinam a incluir seus filhos como se eles fossem doentes, e portassem transtornos, síndromes, desordens, disfunções,deficiências, déficits,ensinam a superproteger e limitar os filhos, ensinam a não acreditar nas capacidades e potenciais dos filhos, ensinam a fazer tudo para o filho no sentido de fazerem tudo o que o filho precisaria fazer no lugar do filho sem deixar o filho fazer absolutamente nada sozinho. Ensinam a odiar um diagnóstico, e, muito pior, ensinam a odiar uma Natureza de Ser beliíssima e sensível, ensinam a só amar aos filhos se os filhos forem do jeito que os pais , os médicos e a sociedade quiserem que sejam, não como os filhos realmente são, colocam um condicional a frente do amor dos filhos. Não, isto não é culpa dos pais e mães, estes artigos populares e os médicos adeptos deles é que são péssima influência para os pais e ensinam tudo errado para os pais, que, leigos, acreditam na "autoridade dos Doutores", mesmo por que não veem outra saída, já que nenhuma outra lhes é oferecida. Com isto, estes artigos também ensinam a infantilizar os filhos autistas e os manter artificialmente defendentes pelo resto da vida, carimbando um "severo" na frente deles.Quando na verdade, severo mesmo é o julgamento de tribunal de Inquisição que estes doutores e a Sociedade fazem destes Autistas, julgando ao invés de compreender.Amar um filho ou uma filha é aceitar o filho ou a filha do jeitinho que eles são, com seus comportamentos autísticos, com suas qualidades e defeitos, não como se fossem doentes, coisa que eles e elas não são.Incluir tem de ser do modo certo. Incluir como doente não é incluir, é excluir, marginalizar, tirar de circulação, segregar, isolar, ESTIGMATIZAR. É preciso incluir de igual para igual, com direito a participação e voto e a ser levado(a) a sério, tratando adultos como adultos, não como se fossem eternas crianças, pois incluir também é respeitar.
Por outro lado, o que a Visão Positiva do Autismo e a Neurodiversidade tem a ensinar 'as Mães e Pais de Autistas é muito mais saudável, concreto e real, ensinando eles a amar os filhos do jeitinho que são, dar muito mais importãncia 'a Natureza Autística do que a diagnóstico, ensinando-os a criar os filhos desde pequeninhos com educação voltada para a autonomia,independência e liberdade, a fazer tudo pelos filhos sem ficar fazendo tudo para os filhos, no lugar deles, ensina e estimula a acreditar, apostar, investir nas capacidades e potenciais dos filhos e a realizar os sonhos dos filhos e obter a felicidade e realização dos filhos.Ensina a amar o Autismo dos filhos, pois isto é parte natural de aceitar os filhos como eles realmente são e , portanto, amar o Autismo é uma forma de amar aos filhos, por que assim se ama o que os filhos são e como são e se comportam (Autismo como Natureza de ser) e não a um diagnóstico que teima em tentar convencer aos pais que os filhos sejam doentes.Tem gente que, quando se fala de Autismo, pensa automáticamente (e responde neste mesmo tom)que se esteja falando do diagnóstico do Autismo, nem lembra ou sabe que Autismo é uma Natureza , não um diagnóstico, e que o diagnóstico é só uma simples constatação do que há muito já existia muito antes do diagnóstico sair. A Natureza Autistica tem a dimensão (e importãncia) de um universo inteiro , enquanto o diagnóstico de Autismo tem a dimensão (e a importãncia) de um dedal, ou um dado, ao ser confrontado com a importãncia e dimensão da Natureza Autística.Ver o Autismo só como um diagnóstico é tentar ver um universo através de um microscópio, de tão tacanho e minúsculo que isto é, de tão estreito que isto é.Estas pessoas não tem idéia da imensidão e harmonia sinfônica e belíssima do Autismo, talvez esteja mesmo além, muito além do alcance de seus microscópios, jalecos e diplomas nas paredes, que é só até onde conseguem ir suas mentes tão acanhadas e microscópicas, tais pessoas nunca conseguirão ter idéia das galáxias que se estendem para além de suas bolhas de sabão dentro das quais vivem, ignorando a vastidão e beleza esplêndida da Realidade...
 
 
Cristiano Camargo

domingo, 25 de outubro de 2020

As vantagens do Diagnóstico Tardio para Autistas

 


Como sabem, eu só fui diagnosticado aos 41 anos de idade, há 16 anos atrás.Minha vida inteira eu sabia que eu era , de algum modo, diferente das outras pessoas de alguma maneira, em alguma coisa.Meus pais também, idem. Mas nos anos 60/70 o Autismo era práticamente desconhecido no Brasil, pouquissima gente o estudava e o grande público simplesmente o desconhecia. Então eu e meus pais sabíamos que eu era diferente, só não sabiam o nome da diferença.
Meu diagnóstico ocorreu quase que por acaso, em 2004.Mas aí, o Autismo era muito mais conhecido e já havia toda uma infra estrutura montada para se buscar este diagnóstico, que popularizou-se de uma maneira que era impensavel nos anos 60/70.
A maioria das pessoas pode pensar que eu lamente o diagnóstico ter saído quando a minha vida iniciava o período da Meia Idade.
Não. Não lamento. Muito pelo contrário.
Hoje eu sei que, se eu tivesse sido diagnosticado na idade infantil, teria sido submetido a um psiquiatra, a toneladas de remédios psiquiátricos, a "terapias" e "métodos" que teriam como intenção tentar eliminar meu comportamento autístico e tentar me forçar a me comportar como se eu fosse um não-autista.
Poderia ter ido parar numa instituição onde eu ficaria recortando papéizinhos coloridos e os colando em uma cartolina, e colorindo desenhos prontos, jogando uma bola de plástico gigante para um outro "aluno", até hoje e estaria infantilizado.Não teriam me deixado ler literatura nem paleontologia ou comportamento animal, não teriam estimulado minha criatividade, não teriam me deixado escutar música clássica nem adquirir cultura, não teriam me deixado escrever pessoalmente, lançar livros, e estaria trancado em um quarto sob vigilãncia o tempo todo, só saindo para a instituição, ou para consultas e exames psiquiátricos.Fariam tudo para mim, me tratariam mesmo adulto como se eu fosse criança, não me teriam deixado me apaixonar, ter tido namoradas, casar. Não teriam me deixado dirigir, nem ter carros.Não teria autonomia, liberdade, independência, dignidade. Tudo isto por que me tratariam como doente, como se eu fosse portador de um transtorno, e como se eu fosse uma eterna criança, não me deixariam me desenvolver. Talvez até me rotulassem de severo, já que até os 5 anos de idade eu ainda não falava e tinha convulsões direto e reto todo santo dia. Talvez o psiquiatra me acusasse de ter "retardo mental", ou "atraso cognitivo"- sem nem avaliar meus potenciais e capacidades pq o doutor acreditaria de antemão que eu não teria nenhum, por ser autista, e talvez carimbasse um rótulo escrito "severo" na minha testa.E isto desde bebê e passaria minha vida toda assim.
Não teria tido oportunidade de me revelar escritor, editor, palestrante, desenhista, ativista pelos direitos dos autistas e estudante autodidata de paleontologia, comportamento animal, paleoantropologia. Teria perdido a chance de ter tido tantas namoradas, ficantes, ter casado, divorciado e ter tido nestes 57 anos , uma vida amorosa e sexual ativa e feliz.
Tudo isto me teria sido negado pq alguém teria escrito "severo" na minha testa ainda bebê, e ser considerado como se eu fosse doente por ser Autista, e os amestramentos behavourianos teriam me feito renegar minha própria Natureza e não me aceitar como eu sou e tentar me forçar a me aceitar como as pessoas gostariam que eu fosse, como a Sociedade gostaria que eu fosse,um não-autista, ainda que todos ainda asim soubessem que eu seria Autista, e me considerassem um pária social, um excluido e marginalizado , segregado na sociedade. Jamais seria alvo de Inclusão alguma. Com o diagnóstico/laudo nas mãos, meus pais não teriam conseguido me matricular em escola pública ou privada convencional alguma,qdo muito, em uma especial, onde eu ficaria o resto da vida sendo tratado como criança e mesmo adulto, quase na idade senil, continuaria a vida toda recortando papéizinhos coloridos, colorindo desenhos prontos, brincando com a bola de plástico gigante e na piscina de bolinhas e não aprenderia absolutamente nada, onde ficaria infantilizado o resto da vida.Onde eu ficaria deprimido, talvez me auto mutilasse, talvez ficasse revoltado, violento, por saber de meus potenciais e minhas capacidades, mas estar impotente para demonstrá-los e ninguém acreditaria em mim, então, quem sabe, eu tentasse o suicídio.
Mas tudo isto foi evitado.Ainda bem !
Pude me superar e ter a chance de demonstrar minhas capacidades e potenciais, minha intelig~encia e criatividade e revelar a verdadeira pessoa humana que sou.
E diferente de mim, muitos Autistas diagnosticados ainda crianças nas últimas décadas, sobretudo dos anos 90 para cá, tiveram suas capacidades e potenciais tolhidos, sacrificados, sua inteligência e criatividade arrancadas fora, nunca tiveram as chances e oportunidades que eu tive, nem conseguirão estudar, por que a sociedade inteira colocou um rótulo na testa delas e as condenou 'a morte social e como pessoas humanas, 'a exclusão. Umas tiveram, ou tem, mais sorte, outras foram jogadas por seus doutores nos horrores do infortúnio, do qual será difícil de sair, a menos que, como acreditaram em mi um dia, acreditem nelas.Achar que uma criança nunca terá potenciais e capacidades para nada é condená-la a infantilização e dependência eternas.É negar todas as chances de desenvolvimento, independência, autonomia e liberdade, de felicidade.Então é melhor que o diagnóstico só saia depois de as pessoas estarem adultas e terem tido suas oportunidades e capacidades reveladas e aproveitadas e de terem se desenvolvido, e não terem seus cérebros modificados por remédios, terem podido estudar, namorar, dirigir, sem precisar rogar desesperadamente por uma oportunidade, na esperança de que alguém um dia acredite no que de ela é capaz.E passar décadas sem sofrer preconceitos e exclusões como eu passei.
Por que o diagnóstico de Autismo quando criança fecha muitas portas na vida, sobretudo numa sociedade preconceituosa, discriminatória, psicofóbica, onde a visão patologizante/espectrista/reducionista/infantilizadora/estigmatizante do Autismo impera.
Não! Deixemos o Autismo construir e desenvolver nossos filhos Autistas e quando eles já tiverem prosperado, deixem que descubram que a vida toda foram Autistas, e o quanto de Bem e de Bom o Autismo já fez e ainda fará por eles.Vamos apenas guiá-los pela rota que o Autismo dará para eles, ele sabe o que faz!
Diagnóstico de Autismo, quanto mais tardio, melhor. Precoce só valerá a pena quando a Visão Positiva do Autismo e a Neurodiversidade imperarem. Somos gente, somos humanos, não diagnósticos ambulantes...
 
Cristiano Camargo

sábado, 2 de maio de 2020

Da Naturalização do Estigma Social contra o Autismo

Sem ter intenção de ofender, mas ofendendo- Da Naturalização do Estigma Social contra o Autismo na Sociedade


Hoje vou falar sobre Responsabilidade Social.
Escrever ou compartilhar um artigo sobre Autismo nas redes sociais é um ato social, que envolve responsabilidade.
A responsabilidade Social é, em essência, as consequências que podem resultar de seus atos, controláveis ou não, em atos públicos, voltados para o público. E escrever é um ato social, um ato público, pois é dirigido ao público. E que vai influenciar, de maneira mais , ou menos, contundente, a maneira como o público vai ver o assunto sobre o qual se escreve.
Quando se escreve sobre Autismo nas redes sociais, porém, esta responsabilidade social aumenta muito. Idem quandose compartilha , para o público, o artigo de outrem, especialmente se não se colocam antes as suas ressalvas (algo que raramente acontece).
E por quê? Porque ao se escrever (ou compartilhar) sobre Autismo nas redes sociais, não se está apenas influenciando um público contra ou a favor de um viés, uma visão do Autismo, nem se está só mexendo com famílias inteiras ou com outros Autistas- um fator que pouquíssimas pessoas pensam na hora de escrever um ou compartilhar um artigo sobre Autismo nas redes sociais, é que está se mexendo com a Imagem Pública do Autismo e dos próprios Autistas também.
Então entra aí a questão da Responsabilidade Social ao se escrever ou compartilhar sobre Autismo nas redes sociais. E por quê?
Porque ao se escrever ou compartilhar sobre Autismo nas redes sociais, se está mexendo com o como o público que vai ler este artigo vai ver o Autismo e os Autistas. Vai mexer no com quais olhos o público vai ver o Autismo e os Autistas.
Então, pode-se estar propagando e incentivando ódio, preconceito, discriminação contra o Autismo e/ou os Autistas, ou ainda pode-se estar propagando e veiculando Estigma Social contra o Autismo e/ou os Autistas. Sem intenção, na maioria das vezes, e sem perceber.
Como?
O linguajar de práxis, tradicional da esmagadora maioria dos artigos sobre Autismo ( o conceito de “Espectro do Autismo”, chamar o Autismo de transtorno, disfunção, desordem, perturbação, condição, síndrome (todos eufemismos para doença), dar a entender que Autistas sejam incapazes, não tenham potencial nem capacidade para nada, dizer “com Autismo”, ou dar a entender que o Autista tenha qualidades “apesar do Autismo”, dar a entender que o que se deseja para os Autistas é que tenham uma “inclusão tutelada” sob controle e vigilância, criticar os comportamentos autísticos, dando a entender como se fossem doentios, errados, inferiores e que precisariam de “intervenção clínica” ou métodos clínicos, odiar o Autismo, dizer que ama o filho mas não ama o Autismo dele, etc, etc) é patologizante ( tenta mostrar o Autismo como se ele fosse uma doença), espectrista ( encaixa tudo dentro do conceito ultrapassado, injusto e delirante de de “Espectro do Autismo”), reducionista (reduz o Autismo e o Autista a um simples diagnóstico, sendo que ambos tem uma dimensão muito maior do que isto), infantilizadora ( achar que Autismo só se aplique a crianças, ou achar que mesmo Autistas adultos sejam eternas crianças assexuadas e inocentes, despreparadas para a vida “anjos azuis” ), e Estgmatizante (por que reúne todas as “características “ negativas atribuídas ao Autismo em um só pacote que forma um Estigma Social contra o Autismo e contra os Autistas, levando as pessoas a acreditar em esterótipos convencionados e não na realidade, alienando as pessoas). Desta forma, este linguajar e este viés patologizante da visão tradicional do Autismo faz com que o público veja no Autismo, um malefício, e aos Autistas como se fossem coitadinhos doentes a serem superprotegidos (o que é outra forma de discriminar, aliás).
E tudo isto é falso, enganador, desonesto, alienante , errado !
Aí as pessoas escrevem com o jargão e o viés (visão) patologizante, ou compartilham textos idem, muitas vezes na maior inocência, na maior ingenuidade, no maior desconhecimento, sem intenção de ofender- ofendendo !
Prejudicando a Imagem Pública do Autismo, e destruindo o tão esforçado trabalho de nós ativistas Autistas pelos direitos dos Autistas, de construirmos, com os maiores esforços e sacrifícios, uma Imagem Pública Positiva do Autismo. E para quê fazermos isto? Para esconder, omitir, enganar? Não !Para combater o preconceito, a discriminação e o Estigma Social contra nós !
E quando estas pessoas publicam ou compartilham textos patologizantes, se surpreendem e se espantam com as críticas dos Autistas e não entendem o que fizeram de errado, pq para esta gente , fizeram “o certo”. Escreveram o que “todo mundo escreve e/ou compartilha”.
Pois então, o problema da sociedade está justo nisto: achar inocentemente que terem visões patologizantes e estigmatizantes não ofendam, não conseguirem ver ofensa nisto por que estão muito acostumados( as) a escrever nesta linguagem e não receberem críticas nunca, por que o público, já acostumado a isto, e geralmente nao-autista, não criticam, se identificam. E o se identificar com esta linguagem a ponto de naturaliza-la e interiorizá-la dentro de suas mentes é o mais grave, aí a discriminação se enraíza e se materializa. Fica parecendo " normal" as pessoas chamarem os Autistas de doentes, de transtorno, etc, fica tão comum, que as pessoas passam a não ver nada de mais e acharem que não ofenderam- e assim escreverem desta forma sem intenção de ofender, mas sem saber que ofendem -mas na verdade ofendem.E não entendem o que fizeram de errado, por que para elas, é "normal", "natural", comum, não conseguem ver um erro ou nada de mais nisto. Por quê? Por que esta visão do Autismo tão patologizante já se "normalizou", já se interiorizou, já se cristalizou e se solidificou na mente delas como dogmas , tabus, a não serem desafiados, e eventuais desafios a esta Ditadura da Opinião Unica serem encaradas como verdadeiras heresias !
E a coisa é tão grave, que diversos colegas Ativistas Autistas pelos Direitos dos Autistas já internalizaram este linguajar e este viés dentro deles e os naturalizaram, “normalizaram”, simplesmente pela ambição e ego de não desagradar seu público, não perderem popularidade, não prejudicarem suas carreiras.
E com isto estão sendo Socialmente Irresponsáveis (como os não-autistas que fazem a mesma coisa) e prejudicando a si mesmos(as) e seu público, enganando a si mesmos(as) e seu público, e prejudicando e ofendendo a si mesmos(as) e a outros Autistas.
E prejudicando ao esforço e trabalho e dedicação de tantos outros Autistas que com tanta batalha e suor tentam construir uma Imagem Pública Positiva do Autismo e dos Autistas.
Então, na hora de escrever ou compartilhar, um texto sobre Autismo nas redes Sociais, pense na sua Responsabilidade Social para com o Autismo e os Autistas, pense no efeito, na influência e nas consequencias que vai ter sobre a Imagem Pública do Autismo e dos Autistas, pense em como o público verá os Autistas e o Autismo ao ler o que você escreveu ou compartilhou, e veja se vale a pena mesmo publicar, ou se não vale a pena modificar para ficar mais de acordo com a Visão Positiva do Autismo e da Neurodiversidade.


Cristiano Camargo

terça-feira, 24 de março de 2020

O que está por trás de "Você não parece Autista"

Quando as pessoas falam "-Você não parece Autista" achando que estão fazendo um elogio, elas revelam o preconceito, a discriminação e o Estigma social que elas tem contra nós.
A pior ofensa não é ""-Você não parece Autista", a pior ofensa é dizer esta frase achando que está fazendo um elogio, sorrindo.
Por que quando alguém está falando esta frase, ela não está se referindo apena ao físico, o rosto. Ela está se referindo ao comportamento, nos dizendo que no entender dela, não "nos comportamos como Autistas".E a pessoa acha que está fazendo um elogio , porquê?
Por que ela acha que parecer físicamente com um Autista (Eeeeee?Como é que é?) e "se comportar como Autista" são ruins, é parecer doente, imaturo, infantil, etc.
E também por que ela baseia seus conceitos de "parecer físicamente com um Autista" e "se comportar como Autista, ou em estereótipos televisivos, cinematográficos ( Rain Man, autista de novela, Seinfield, Atypical, etc,) ou em estereótipos psiquiátrico-midiáticos (menino triste sentado de costas, menino batendo cabeça na parede, menino tendo ataque de fúria, etc), nunca na realidade. Aí, se o/a Autista não parecer nada disto, ou não tiver estes tipos de comportamento, , passa a achar que o Autista "não tem cara de Autista" e/ou "não se comporta como Autista", pq para gente assim, só valem os estereótipos que elas conhecem, não a realidade.
É gente que acha que fantasia (estereótipos) é realidade e realidade é fantasia (o/a Autista real, concreto).
Claro que muitíssimo disto é estimulado e mantido pelas mídias e pelas redes sociais.Há muita gente leiga inclusive que só tem isto como fonte de informação e acredita nos estereótipos piamente.
Por isto a surpresa de descobrir que um Autista que "não tem cara de Autista", nem "se comporta como Autista" é Autista !
A surpresa da pessoa não advém só da sua desinformação e ignorância, vem também da sua inconformidade em admitir que estava errada, que os estereótipos estavam errados e, principalmente, admitir que Autismo não é doença e não é ruim como pintam por aí, e ter de admitir que uma pessoa Autista pode sim ser admirada por seus talentos e capacidades e sem "apesar de" coisa nenhuma.
Uma vez o leigo consciente de que a superioridade sobre os Autistas que ele pensava que tinha não existe, e que em certos casos e certos campos pode até ser melhor, o ego está ferido e a inconformidade bate escondida atrás de um sorriso falso e de um aperto de mão hipócrita., o preconceito, a discriminação, o estigma social que o leigo tem contra o Autista doem no leigo, doem muito!
Por que não era isto que eles/elas queriam. Eles elas queriam apenas ter uma chance de chamar o Autista de "coitadinho". Era isto pelo que tanto ansiavam- e não encontraram.
Por isto a surpresa, por isto o choque. Por isto o "você não tem cara de Autista". Por isto que muitas vezes a dúvida vem ao leigo depois, e em muitos casos ele diz algo ainda pior:"-Não, não é possível, você não é Autista de verdade, os Autistas que conheço não são assim".
É, aí faz com intenção de magoar, machucar, humilhar mesmo.Por maldade, crueldade. É a afirmação de que, para a sociedade só pode existir o Autista teórico, estereotipico, estereotipado, o Autista vendido pelas mídias.A sociedade acha o Autista de verdade, real e concreto uma afronta, um insulto, um desafio aos dogmas , as doutrinas e aos tabus sociais, é o Autista nu, despido da camisa de força do Estigma Social em que o tentam colocar.
Mas não há como fugir nem renegar a realidade. Nós existimos, nós não somos só crianças, nós não somos como a imagem que vendem de nós.Nós não somos só meninos ou só homens, há muitas meninas, há muitas mulheres Autistas por aí. Não morremos aos 18 anos.Nós crescemos, envelhecemos, e chegamos 'a idade idosa.Nós somos extremamente variados e diversos, desafiamos qualquer padrão ou classificação.Mais importante:nós amadurecemos psicológica e emocionalmente .E gostamos de fazer tudo por nós mesmos, temos nossa própria vontade, somos autodidatas e muito livres e autônomos em muita coisa desde muito cedo.Não somos como todo mundo. Somos autênticos, somos nós mesmos, originais, criativos.Diferentes. Então, não "parecemos Autistas" por sermos como somos e queremos ser, não por ser como as pessoas queriam que fôssemos, por não sermos "como todo mundo". Por que este" todo mundo" na verdade nos exclui. Então, não queremos "parecermos Autistas", nem "nos comportarmos como Autistas" para leigos baterem palminha. Nós já somos Autistas. Já nos comportamos como Autistas, cada um de seu jeito,e não precisamos nem queremos provar nada para ninguém. Este é o Espírito Autístico, a Natureza Autística, livre,selvagem, independente, autônoma, criativa, genuína, verdadeira, franca, sincera. Estes somos nós, e é assim que somos, e não vamos mudar por ninguém, nem através de nenhum método. Sim, é assim que somos e que nos aceitem como somos. Por que somos Autistas- com muito orgulho !


Cristiano Camargo