sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Um pouco sobre a Diversidade Autística

 

Quando a pessoa diz: "-Os Autistas tem grandes potenciais e capacidades, menos este grupo de Autistas aqui, porque este grupo de Autistas os médicos chamaram eles de "severos", é o mesmo que ela dizer :"-Separa este grupinho aí , dos demais Autistas, este grupinho não tem direito a ter capacidade nem potencial para nada, vamos deixar eles para trás, por último, dar tratamento privilegiado aos outros e deixar estes marginalizados e esquecidos." Esta pessoa está sendo capacitista, preconceituosa, e está segregando, marginalizando e criando uma Casta Mental que esta pessoa julga ser inferior ao resto.
E quando a pessoa diz " - Este grupinho X é de gênios, tem as melhores capacidades e potenciais, vamos dar as melhores chances e a melhor educação para eles, Já o grupinho Y , vamos separá-los do resto e deixar eles só recortando papéizinhos coloridos e colorindo desenhos prontos , por que é o máximo que vão conseguir aprender", a pessoa também está sendo capacitista, preconceituosa, está segregando, marginalizando, estigmatizando e criando uma Casta Mental de Afortunados e outra Casta Mental de Desvalidos, párias, já que a pessoa considera o grupo X superior ao grupo Y, então está privilegiando um grupo enquanto está desprezando e estigmatizando, marginalizando o outro.
Tudo isto é excluir.São formas de excluir Autistas. Alegar que sejam incapazes só por causa da classificação no diagnóstico da pessoa é excluir, marginalizar, desprezar, menosprezar, pré-julgar e estigmatizar.É negar chances e oportunidades a uns e dar todas as chances e oportunidades a outros.
Injusto, não é?
Pois é, é assim que o conceito de "espectro do Autismo" funciona. Quem acredita e pratica este conceito faz exatamente isto: cria Castas Mentais, favorece uns, prejudica a outros, privilegia a uns e marginaliza, exclui, joga para fora da sociedade os outros.
E quem foi excluído sempre terá muito menos chances de se desenvolver- e aí é que nasce o processo de infantilização de Autistas, um processo cruel, artificial, injusto , eugenista.
Por isto que a Visão Positiva do Autismo e da Neurodiversidade e seu conceito de Diversidade Autística é um conceito moderno, justo ,eficiente. Por que eliminando-se classificações, graus, níveis, categorizações e comparações enquanto se mantém as diferenças, e se coloca as diferenças só como diferenças, sem se preocupar em medi-las, dá-se a todos os Autistas as mesma chances, as chances justas, as oportunidades adequadas e favorece-se a todos para empreender o desenvolvimento deles, todos eles.Sem exceções, sem separações, sem privilegiados e se sem desvalidos.
Por isto o conceito de "espectro do Autismo" TEM QUE CAIR em desuso e ser substituido de uma vez por todas pelo conceito da Diversidade Autística !
Então, quando falarmos em capacidades e potenciais de Autistas, paremos de ficar falando:"-Ah, mas este não consegue!", "-Ah, mas este não tem capacidade para isto!" "-Ah, mas este aqui não tem jeito!" "-Ah, mas este aqui já está comprometido!" "-Ah, mas nada disto se aplica a aquele ali ! " "-Ah, mas aquele ali,nem consegue fazer isto ou aquilo ainda, nunca vi conseguir" .
Todos conseguem, todos podem conseguir. Todos tem potencial e capacidade . Não vamos mais discriminar ninguém e separá-lo do resto. Nenhum Autista é melhor que o outro, mas nenhum Autista é pior que o outro. Vamos parar de comparações entre Autistas, e entre Autistas e não Autistas. Vamos ser justos, democráticos, modernos. Vamos dar chances e oportunidade a todos.Todos ! Não importa como eles aparentem ser, todos ! Todos tem este direito, e não podemos negar a ninguém!
Viva a Diversidade Autística !
Autistas, unidos, jamais serão excluídos !
 
Cristiano Camargo

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Tem medo que seu próximo filho seja Autista?Então leia aqui !

 

Para quem já é mãe de Autista e está grávida novamente ou vai ser pai de Autista de novo, ou tem medo de que o próximo filho seja Autista:
Ser Autista é um privilégio negado a muitos. Se ele for Autista, orgulhe-se e fique feliz com esta fortuna na sua vida ! E recomendo que deixes o diagnóstico para o mais tarde possível, para depois dos 30/40 anos de idade, enfim, deixe ele se decidir se quer tentar o diagnóstico ou não. pq diagnóstico só atrapalha, e vc evita de ele ter de ficar passando por tratamentos, métodos e remédios psiquiátricos, que só tem intenção de tentar transformá-lo em um não autista, e atrapalha o processo de desenvolvimento e amadurecimento autista dele. Mantenha-o o mais autista possível a vida toda e o incentive a se orgulhar de ser Autista. Mostre a ele que ser diferente não é destoar, mas se destacar positivamente, e que ser Autista é ser diferente para melhor. Eduque-o desde bem cedinho para a independência, autonomia e liberdade. Mostre a ele que ele deve se determinar a perseguir e conquistar seus sonhos e realizá-los. Sempre mostre a ele que ser Autista é ser Capaz, que Autistas são seres capazes, eficientes, não deficientes, e que ele pode conseguir tudo que ele quiser, mas que tem de se esforçar e se determinar, lutar. Deixe-o errar e faça com que ele aprenda com os erros e não o deixe se frustrar. Mostre a ele a importância de acreditar em si mesmo, na sua capacidade , no seu potencial, e acredite , aposte e invista nele e nos sonhos dele tanto quanto ele. Nunca o superproteja ! Faça tudo por ele, mas não faça tudo para ele, ensine-o e deixe-o tentar quantas vezes for necessário, até conseguir, nunca o deixe desistir, seja dele a maior torcida, o/a maior e melhor torcedor(a), vibre com as vitórias e conquistas dele, apóie-o e incentive-o após as derrotas, e mostre que só perdendo é que se ganha mais para a frente, e que as pessoas só aprendem errando, que ninguém aprende nada acertando sempre. Ensine-o que certos sofrimentos são necessários, mas que serão gratificantes no futuro. Ensine-o a enfrentar as pessoas, impor respeito, nunca se abater e a não ser passivo diante do bullying, ele precisa saber se defender. Mostre a ele do que ele é capaz, seja um exemplo e mostre do que você é capaz, dos desafios na vida que venceu e superou. Respeite a necessidade de solitude, não o pressione por sociabilidade, evite que outras pessoas o pressionem por sociabilidade e interação social, respeite a natureza contemplativa dele. Incentive a imaginação e a criatividade dele, incentive o crescimento do Mundo Interno de Fantasia dele. Evite autoritarismo, seja só o companheiro(a) dele -quando ele quiser compania. E lembre-se: o aprendizado autista é lateral, não de frente , olhando nos olhos, então o ensine sempre de lado, ao lado dele, olhando de lado para ele. Siga estas dicas e sejam felizes !
 
Cristiano Camargo

domingo, 14 de fevereiro de 2021

A invisibilidade Autista

 

Um Autista morre ao cair do décimo sexto andar, e o que é debatido nas redes sociais?
A mãe dele. Nem uma palavra sobre ele, sobre o que poderia ter levado ele a isto, se ele sofria bullying constante na escola, ou outras razões externas ao Autismo, que poderiam ser a causa, como em muitos casos, por exemplo o abandono do pai levando-o a se sentir profundamente rejeitado e a depressão, enfim.
Não se trata de buscar culpados, isto é bobagem, se trata de descobrir o que o levou a isto, para que novas mortes sejam evitadas no futuro.
Claro que é importante apoiar a mãe e saber o que ela passava, mas poxa, quem morreu foi o filho, então por que o que ele passava antes de falecer não é discutido, por que o que levou ele ao suicídio não é investigado por ninguém?Digo, as razões psicológicas...
Mãe e filho são vítimas, é certo. Mas não acho certo focar exclusivamente na mãe e fazer de conta que o filho não existe, não existiu, como se ele fosse (e tivesse sido a vida inteira) invisível.Alguém precisa falar sobre o filho, ele merece a atenção da sociedade também.
Autistas não são seres teóricos nas sombras de suas mães. Eles existem, e nenhuma mãe é mãe se não tiver filho, são os filhos que fazem da mulher uma mãe, a razão da existência dela e ela a razão da existência deles, uma bela dialética.Mas falando só da mãe, esta dialética fica incompleta. Vamos dar mais importância aos filhos!
E , por favor, ao falar do filho, não joguem o Autismo em um tribunal, nem o julguem, nem o condenem, ele é inocente (no sentido de não é culpado) no caso , no triste caso desde rapaz !
Não cabe culpa a ninguém, nem a nada, mas a corrente de acontecimentos psicológicos que levou a este desfecho precisa ser exposta !
Cristiano Camargo

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O Remador contra a Correnteza: Ser tratado como Autista ou como "pessoa comum"?

 Olha, eu fui diagnosticado somente aos 41 anos de idade, e isto me fez um bem danado! Não tive de frequentar psiquiatras, nem tomar remédios, nem passar por "metodos" que tentam transformar Autistas em não-autistas subjugados, obedientes, cativos, e pude me superar sozinho e ser bem sucedido. Ser tratado como uma pessoa comum, com as pessoas te chamando de estranho? Quer o que? Quer ser tratado(a) como se fosse um(a) doente e ser superprotegido(a) e infantilizado(a)? Um tratamento condescendente que o/a tratem como coitadinho(a)? Sim, por que é exatamente isto o que a Sociedade entende por "ser tratado como Autista": receber um tratamento inferior, humilhante, poupado de tudo e de todos, colocado numa redoma que é na verdade uma prisão- de luxo ou não.E por acaso o tratamento das pessoas para com Autistas não deveria ser o mesmo do que o para com não-autistas?Diferenciar o tratamento é discriminar ! Uma vez que o Autismo é revelado públicamente, o público já começa a nos ESTIGMATIZAR, infantilizar, nos reduzir a diagnósticos com duas pernas, nos tratar como se fôssemos, nós Autistas, "coitadinhos doentinhos que precisam de proteção e que vão ficar dependentes de nós a vida inteira". Isto é estigmatizar, é exercer preconceito. Muitas vezes isto acontece por desinformação, ignorãncia, ou por serem leigos. Outras vezes, por maldade, crueldade mesmo. Mas quando mais precoce é o diagnóstico, mais cedo vem o massacre, mais cedo vem a opressão, mais cedo vem os bárbáricos remédios psiquiatricos pesadissimos, mais cedo vem a pressão para "não se comportar mais como um autista e ser como todo mundo". É ruim, gente, muito ruim, diagnóstico precoce é péssimo para Autistas, quanto mais tarde, melhor.Por que já tem estrutura psicológica para enfrentar o massacre hediondo das pressões da sociedade que tentam nos mutilar psicológicamente, seja por meio de remédios, seja por meio de maniqueísmos, autoritarismos, pressões sociais, "tratamentos", "métodos", etc. Não necessitamos de tratamentos psiquiátricos, precisamos de compreensão e aceitação. Se sentir estranho(a)? Olhem, eu tive uma infãncia e uma pré adolescência bastante isoladas, mas o isolamento me dava profundo prazer.Eu tinha consciência de que era diferente, e ser diferente para mim sempre fora uma qualidade. No dia em que uma velha amiga de minha mãe me disse, depois que meu já hoje falecido irmão me chamou de diferente no sentido de esquisito:"-Cristiano, você é diferente PARA MELHOR", Aí desencanei de vez com isto (aos 9 anos de idade) e passei a assumir alegremente e com tremendo orgulho minha diferença, do modo mais descarado do mundo. Deixei de ser escravo do que as outras pessoas iriam pensar de mim, e isto me fez muito bem. Não tinha o menor interesse em saber qual o nome desta diferença, isto para mim não importava. Ok, Autistas são muito diferentes entre si, e as mulheres autistas mais ainda, e as pressões que elas sofrem da Sociedade, as cobranças, para elas são maiores ainda do que as nossas, isto é um fato. Mas não vai ser um diagnóstico que aliviará isto, na verdade só aumentará as pressões e cobranças, então, o que há de mais importante para mulheres e homens autistas aprenderem na vida é SE IMPOR, IMPOR O RESPEITO, IMPOR SUA DIFERENÇA , EXIGIR QUE O TRATAMENTO NÃO SEJA CONDENSCENDENTE NEM INFERIOR. Exigir e impor respeito, é fundamental, e para isto é necessário se assumir como Autista, gostar de ser visto(a) como diferente, ver nisto uma qualidade, AMAR SEU AUTISMO, assumir sua diferença, sair do Armário. Sim, é difícil, é doloroso, é sofrido, mas vale a pena, pois é isto que vai te permitir enfrentar o "ser tratado como pessoa comum" e não virar pessoa comum, não ceder as pressões e cobranças, não tentar ser o que não é. A pior coisa que um(a) Autista pode fazer na Vida é tentar ser e se comportar como não-autista para agradar aos outros, tentar ser o que não é, se mutilar mental e psicológicamente.Não dará certo, trará sofrimento desnecessário e estragará sua vida. Autistas, não façam isto, sejam vocês mesmos, lutem para que as pessoas gostem de vocês e as aceitem como realmente são. São as outras pessoas quem tem de se adaptar a vocês, não vocês a elas. Claro, muitos(as) Autistas não viram suas Diferenças como vi na minha infãncia, mas ouçam este velho autista de 57 anos de idade e muita vivência, muita experiência de vida e muito traquejo no com o tratar que não autistas o dispensam. Mudem de atitude, assumam-se, insito, amem sua diferença e orgulhem-se delas ! Muitas vezes o que as pessoas chamam de esquisitos(as)/estranhos(as) são na verdade qualidades que elas invejam em vocês. Então, se te chamarem de estranho(a), esquisito(a), respondam de cabeça altiva e com todo orgulho:"-Muito obrigado(a), voc~e acabou de me elogiar !". E deem as costas 'a pessoa desconcertada com esta resposta inesperada. Por que se vingar é melhor que chorar. Por que isto é se impor, se empoderar. Então a luta de vocês, de todos nós Autistas, é se empoderar, inclusive políticamente.Ser subversivo(a) é a melhor resposta ! Por que muitas vezes a pessoa que é a única a remar contra a correnteza enquanto todas as outras remam a favor, é a única correta e as demais, erradas.Pensem nisto, amigos e amigas Autistas. Não deixem um diagnóstico e as outra pessoas definirem a vocês nem as suas vidas. Só sua Natureza, sua Natureza Autística, tem o direito e o poder para fazer isto.

 

Cristiano Camargo