segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A falência do Modelo Atual de Inclusão Escolar de Autistas



 
É cada vez mais notória a falência do modelo atual  de Inclusão Escolar de Autistas no Brasil, e esta se deve a causas multifatoriais, impossível eleger uma única causa.
Este fato, no entanto , tem levado Ativistas Autistas pelo Autismo, Alunos Autistas e seus pais a um descrédito, uma descrença na própria existência ou na própria viabilidade da implantação de uma Política  de Modelo de Inclusão Escolar de Autistas no país, e levando os(as) poucos(as) Professores(as) Inclusivos(as) brasileiros(as) ao desânimo, pela desmoralização desta causa que os fatos tem imposto.
Então, onde foi que erramos?
Poderia-se começar, por exemplo, pela exclusão total dos Ativistas Autistas pelo Autismo das negociações e redação das leis  que regem o Modelo Atual de Inclusão, onde alguns dos/das principais envolvidos (as) -(que personificam in loco a matéria em si  por serem eles/elas mesmos(as) Autistas)- consultando-se apenas pais, terapeutas e educadores(nem sempre inclusivos).
Poderia-se continuar pela eleição de um Modelo autoritário, sem um trabalho de conscientização sim, mas também poderíamos estender para a questão de se incluir um Modelo de Inclusão dentro de um Modelo de Educação já naturalmente exclusivo, inclusive ‘a força.
Não nos iludamos, porém: o sistema escolar brasileiro nunca foi inclusivo, nem nunca foi concebido para tal, pelo contrário, é um Modelo de Educação exclusivista, excludente, feito para ser padronizado, como se todos os alunos e todas as alunas fossem iguais,gerido por uma mentalidade de indústria, em que pensar, conscientizar, ter opinião própria é uma perigosa subversão a ser combatida. É um modelo pensado de propósito para manter tabus, desigualdades, privilégios de classe, gerar força de trabalho não pensante e facilmente manobrável e manipulável, uma “Filosofia de Curral”.
Na indústria, na linha de produção, se algo  é ligeiramente diferente, tem defeito e é descartado sem dó nem piedade.
Na escola, a Diferença é vista como um Defeito a ser sanado, ou se corrige e torna o/a aluno(a) igualzinho(a) aos demais, ou se descarta, expulsando, “convidando a sair”(tem coisa mais hipócrita do que isto?), ou segregando e isolando quem é diferente.
E tem outra ferramenta  também: o Bullying. Por que o Bullyng é veladamente,secretamente(muitas vezes até explicitamente) admitido e até incentivado, e por que ele é incentivado por tantos pais, e por que as escolas fazem vista grossa e muitas vezes a vítima é que é punida?
Por que o Modelo Excludente está perpetuado nas famílias, cujos pais foram formados antes em escolas de mentalidade excludentes e foram condicionados a manter esta padronização, que as escolas procuram perpetuar de geração em geração.
E por que para as escolas, em sua mentalidade conservadora, comodista e oportunista, interessa manter este esquema , este modelo excludente. A Exclusão não é apenas parte integrante das escolas e do Sistema de Ensino Brasileiro, ela está profundamente embrenhada em suas células como um câncer, mas não um câncer destrutivo, mas simbiótico- eis que a Zona de Conforto é muito cômoda e atraente, então, por que mudar?
Por que tentar incluir os Diferentes se todos os Iguais estão felizes em sua confortável e lucrativa padronização?
Bom, isto é apenas a superfície, pois as crianças são parte do modelo, mas são também as vítimas deles, mesmo as crianças neurotípicas, já que, assim como não existe um Autista igual ao outro, não existe um neurotípico igual ao outro e o por quê disto é muito simples: por que ambos fazem parte da mesma diversidade natural humana. Assim, muitos alunos neurotípicos (incluídos) também sofrem muito com o atual Sistema Escolar, que ditatorialmente lhes exige que se adaptem ao Sistema, sem que o próprio Sistema jamais cogite se adaptar a eles.
Mas é com Autistas , por conta de suas Diferenças, diversidades e necessidades específicas, que esta conjuntura totalitária e desfavorável produz seus atritos mais graves. Autistas não costumam ser dóceis amestrados a serem manipulados e tendo suas arestas cortadas para caber nas Fôrmas Sociais. Autistas não são moldáveis, nem se moldam nestas fôrmas. Sempre irão se rebelas e isto vem de sua própria Natureza Autística.
Quando uma criança autista chora , faz birra e esperneia para não ir na escola, na verdade ela está gritando, querendo dizer:
 -Eu não quero ser moldada ! Eu não quero ser enquadrada ! Eu não quero ser igual aos outros !Eu quero ser eu mesma !
E ser si mesmo é o ápice da subversão e do perigo para o Atual Modelo Escolar Atual, para o próprio Sistema Escolar Inteiro.
Então não adianta querer enfiar goela abaixo uma Inclusão num sistema teimosamente exclusivo por natureza, sem primeiro jogar este modelo antigo fora e instituir um novo Modelo Escolar, um novo  Sistema Escolar inteiro, um novo modelo de Sistema Escolar Inclusivo, pensado desde o início para ser inclusivo, com uma mentalidade muito mais sensível, humanista e sobretudo, personalizável, focado nas Diversidades.
Um novo Modelo de Inclusão só se encaixará  direito em um Sistema Educacional já inclusivo.Ou este modelo serpá rejeitado e excluído e é o que acontece hoje.
É preciso mudar a mentalidade do “O Aluno é que se deve adaptar ao Sistema” para “O Sistema que deve se adaptar a cada Aluno”.Só mesmo levando em conta as diferenças e necessidades específicas de cada um teremos um ensino inclusivo, democrático, eficiente, que forme pessoas com visão crítica da Realidade e com opinião própria e cujas habilidades e qualidades específicas possam ser usadas em benefício a eles mesmos e para toda a Sociedade.
Por que tendo um Sistema Educacional inteiro inclusivo, formaremos novas gerações de Sociedades Inclusivas e Diversas !
Descobriremos então que o problema todo não eram os Alunos Autistas (ou não) que eram o problema, e que o problema não era eles não se adaptarem ao Sistema, ‘a Escola- o problema na verdade era o Sistema, a Escola,  não se adaptar e não reconhecer a Diversidade dos Alunos !

Cristiano Camargo


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Autismo: Por que a repetição de movimentos faz bem?



Autismo: Porque a repetição de movimentos faz bem?

Outro dia eu estava assistindo a um vídeo de um teste de carros, onde a música que embalava o teste me atraiu, então, com um aplicativo próprio, extraí a música do vídeo e a baixei para meu computador. Era uma música instrumental, com solos de guitarra, cuja melodia, simples e de poucos acordes, era extremamente repetitiva, mas ainda assim me pareceu extremamente agradável, então, comecei mais tarde a refletir sobre ela do por que ela me dava tanto prazer em escutar.
Esta reflexão me remeteu a uma velha questão, cujas respostas, ao longo do tempo tenho elaborado e re-elaborado: Por que Autistas gostam tanto de movimentos repetitivos? E não apenas movimentos corporais deles, mas adoram de paixão tudo o que se repete infinitamente!
Perguntada, uma criança autista uma vez respondeu, em sua simplicidade infantil
-Por que gosto !       
Mas...por quê gosta? E por que este gosto e este prazer se estendem até a vida adulta?
Por que está profundamente enraizado não somente em nós Autistas, mas em todas as pessoas!
Quando um bebê chora, qual a primeira reação de uma mãe?
O embala. E como é este embalo?
Com movimentos repetitivos, as mesmas falas, doces, carinhosas, macias...previsíveis!
É, previsíveis ! A previsibilidade é a chave da questão !
A repetição acalma, tranquiliza e devolve a nosso mundo  o conforto e bem estar da previsibilidade , num mundo real imprevisível e intempestivo, é um refúgio contra o Inesperado, uma  auto- defesa contra o caos temerário da imprevisibilidade!
Crianças não-autistas com o tempo vão absorvendo a cultura normotípica de que repetições sejam chatas, maçantes, inatrativas.
Autistas, porém, não compartilham disto. E não o fazem por que, em princípio, ao contrário das crianças não-Autistas, em que seu Mundo Interno de Fantasias é muito simplificado e só dura durante a infância, nos Autistas, o Mundo Interno de Fantasias é mantido intacto por toda a Vida, é complexo, sofisticado, e vai se transformando ao longo da vida, de um Mundo singelo e ingênuo infantil, para um Mundo complexo e cheio de meta-metáforas, meta-cognições, meta-personagens (personagens-espelho análogos aos reais , mas construídos com interpretação própria da realidade), e até meta-realidades e muita contemplação, adulto.
Assim, Autistas, acostumados e bem confortados em sua conveniente e benévola previsibilidade de seus Mundos e seus personagens, logo aprendem sozinhos a rejeitarem a instrução-padrão normotípica de que a repetição seja monótona, chata, para passar a ver na repetição um prazer, um conforto, a agradabilidade e benevolência tranquilizante  da previsibilidade contida em toda repetição.

Ora, se algo se repete, sabemos exatamente tudo o que vai acontecer, e isto nos tranquiliza: não haverá nenhum susto, nenhum perigo, nenhuma mudança repentina, nada de inesperado para o qual tenhamos de reagir de improviso de repente, algo que detestamos ter de fazer (embora até o façamos muito bem, somos muito bons em nos virar sozinhos, ao contrário do que a mentalidade superprotetora pensa) .Esta previsibilidade nos relaxa, nos acalma e nos embala, além de preparam o terreno para que possamos voltar mais uma vez para os prazeres inenarráveis do Mundo Interno de Fantasia. E lá, interpretarmos e refletirmos sobre a Realidade, buscando novas e criativas soluções, pois nós somos pessoas que amam agir planejadamente, com antecedência, analisar primeiro a situação, construir um plano e só então agir, buscando as melhores e mais lógicas alternativas (segundo nossas próprias interpretações, não o senso comum normotípico).
Então, quando um Autista está fazendo movimentos e sons repetitivos, ele está se defendendo, se acalmando, tranquilizando-se a si mesmo, como uma mãe que embala sua criança; como não são, em muitos casos , mais crianças, embalam-se a si mesmos, mas em muitos casos, acredito que remeta ‘a memória psíquica do embalo materno, o Autista assumindo o papel de mãe de si mesmo!
E isto não é algo prejudicial, nem infantilizador, e o Autista não deixa de ser maduro, nem deixa de amadurecer com isto: é algo benéfico, que faz bem,acalma, tranquiliza e o leva a buscar em si mesmo as soluções para o que sente, vê e intempreta.
Então, vamos deixa-los repetir o quanto quiserem, inclusive isto evitará surtos e episódios agressivos desnecessários, afinal, vocês já devem ter notado que tentar sistematicamente interrompê- los é pior e pode levar a surtos, e que depois dos movimentos e sons repetitivos eles sempre ficam mais calmos, tranquilos e felizes.
E ‘a medida que forem se sentindo mais seguros de si e mais a vontade, dominando mais a realidade, esta frequência diminuirá muito , e naturalmente.
Então, meus caros e minhas caras:
Repeti-vos uns aos outros !

Cristiano Camargo