segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Autismo: Por que a repetição de movimentos faz bem?



Autismo: Porque a repetição de movimentos faz bem?

Outro dia eu estava assistindo a um vídeo de um teste de carros, onde a música que embalava o teste me atraiu, então, com um aplicativo próprio, extraí a música do vídeo e a baixei para meu computador. Era uma música instrumental, com solos de guitarra, cuja melodia, simples e de poucos acordes, era extremamente repetitiva, mas ainda assim me pareceu extremamente agradável, então, comecei mais tarde a refletir sobre ela do por que ela me dava tanto prazer em escutar.
Esta reflexão me remeteu a uma velha questão, cujas respostas, ao longo do tempo tenho elaborado e re-elaborado: Por que Autistas gostam tanto de movimentos repetitivos? E não apenas movimentos corporais deles, mas adoram de paixão tudo o que se repete infinitamente!
Perguntada, uma criança autista uma vez respondeu, em sua simplicidade infantil
-Por que gosto !       
Mas...por quê gosta? E por que este gosto e este prazer se estendem até a vida adulta?
Por que está profundamente enraizado não somente em nós Autistas, mas em todas as pessoas!
Quando um bebê chora, qual a primeira reação de uma mãe?
O embala. E como é este embalo?
Com movimentos repetitivos, as mesmas falas, doces, carinhosas, macias...previsíveis!
É, previsíveis ! A previsibilidade é a chave da questão !
A repetição acalma, tranquiliza e devolve a nosso mundo  o conforto e bem estar da previsibilidade , num mundo real imprevisível e intempestivo, é um refúgio contra o Inesperado, uma  auto- defesa contra o caos temerário da imprevisibilidade!
Crianças não-autistas com o tempo vão absorvendo a cultura normotípica de que repetições sejam chatas, maçantes, inatrativas.
Autistas, porém, não compartilham disto. E não o fazem por que, em princípio, ao contrário das crianças não-Autistas, em que seu Mundo Interno de Fantasias é muito simplificado e só dura durante a infância, nos Autistas, o Mundo Interno de Fantasias é mantido intacto por toda a Vida, é complexo, sofisticado, e vai se transformando ao longo da vida, de um Mundo singelo e ingênuo infantil, para um Mundo complexo e cheio de meta-metáforas, meta-cognições, meta-personagens (personagens-espelho análogos aos reais , mas construídos com interpretação própria da realidade), e até meta-realidades e muita contemplação, adulto.
Assim, Autistas, acostumados e bem confortados em sua conveniente e benévola previsibilidade de seus Mundos e seus personagens, logo aprendem sozinhos a rejeitarem a instrução-padrão normotípica de que a repetição seja monótona, chata, para passar a ver na repetição um prazer, um conforto, a agradabilidade e benevolência tranquilizante  da previsibilidade contida em toda repetição.

Ora, se algo se repete, sabemos exatamente tudo o que vai acontecer, e isto nos tranquiliza: não haverá nenhum susto, nenhum perigo, nenhuma mudança repentina, nada de inesperado para o qual tenhamos de reagir de improviso de repente, algo que detestamos ter de fazer (embora até o façamos muito bem, somos muito bons em nos virar sozinhos, ao contrário do que a mentalidade superprotetora pensa) .Esta previsibilidade nos relaxa, nos acalma e nos embala, além de preparam o terreno para que possamos voltar mais uma vez para os prazeres inenarráveis do Mundo Interno de Fantasia. E lá, interpretarmos e refletirmos sobre a Realidade, buscando novas e criativas soluções, pois nós somos pessoas que amam agir planejadamente, com antecedência, analisar primeiro a situação, construir um plano e só então agir, buscando as melhores e mais lógicas alternativas (segundo nossas próprias interpretações, não o senso comum normotípico).
Então, quando um Autista está fazendo movimentos e sons repetitivos, ele está se defendendo, se acalmando, tranquilizando-se a si mesmo, como uma mãe que embala sua criança; como não são, em muitos casos , mais crianças, embalam-se a si mesmos, mas em muitos casos, acredito que remeta ‘a memória psíquica do embalo materno, o Autista assumindo o papel de mãe de si mesmo!
E isto não é algo prejudicial, nem infantilizador, e o Autista não deixa de ser maduro, nem deixa de amadurecer com isto: é algo benéfico, que faz bem,acalma, tranquiliza e o leva a buscar em si mesmo as soluções para o que sente, vê e intempreta.
Então, vamos deixa-los repetir o quanto quiserem, inclusive isto evitará surtos e episódios agressivos desnecessários, afinal, vocês já devem ter notado que tentar sistematicamente interrompê- los é pior e pode levar a surtos, e que depois dos movimentos e sons repetitivos eles sempre ficam mais calmos, tranquilos e felizes.
E ‘a medida que forem se sentindo mais seguros de si e mais a vontade, dominando mais a realidade, esta frequência diminuirá muito , e naturalmente.
Então, meus caros e minhas caras:
Repeti-vos uns aos outros !

Cristiano Camargo


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