sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O Autista e o Chá

O Autista e o Chá

O que é consentimento? Se você oferecer chá pra alguém e a pessoa disser 'Não', você não vai obriga-lá a tomar, vai?
Se a pessoa para quem vc oferecer chá for neurotípica, não.
Porém, se ela for Autista...
O que infelizmente continua acontecendo com omuitos "metodos" por aí aplicados aos autistas, é que se o Autista recusar o chá, começará um trabalho de convencimento, muitas vezes com olhares e sorrisos meigos de superioridade, de tentar centenas de vezes convencê-lo a tomar o chá, dizendo mil falsas maravilhas do chá e tentando colocar na cabeça dele que o ato de não aceitar o chá é uma doença,, um sintoma, que se ele não aceitar tomar o chá ele é doente, vai ser excluído, e se ele não tomar o chá ele é um anormal, que não merece viver em sociedade, que todo mundo aceita e toma o chá e porque só ele não, tentando mostrar o tempo todo que quem não toma o chá é inferior, que o ato de não tomar o chá é ilógico e ficam pedindo para explicar pq ele se recusa a tomar aquele chá "maravilhoso"/"delicioso" (que o próprio oferecedor não toma pq acha q não precisa e pq sabe o sabor amargo daquele chá e o qto faz mal), e se o Autista continua recusando, lá vem os pesquisadores bolar mil teorias para tentar explicar a misteriosa razão de ele não querer tomar o tal chá, e lá vem os oferecedores continuarem a insistir, tornando a vida do Autista um inferno, e começam a , irritados, acusar o autista de ser agressivo e descontrolado (especialmente se depois desta maratona de irritações o Autista joga a xícara no chão e grita que não quer e tem um surto) e aí lá vem o pelotão dos cientistas bolar mil teorias mirabolantes sobre o por que dele ter esta reação, que eles consideram anormal {???} ,falam que a alegada "agressividade" do Autista é culpa do próprio Autismo, sem entender que o garot tem o simples direito de negar o chá como todo mundo, mas a ele não, a ele este direito é negado!) e começam a bolar mil métodos para acalmá-lo e evitar que ele surte de novo, métodos estes que nunca levam em conta o simples direito dele de não tomar o chá, e não levam em conta nunca de que eles mesmos, com suas insistências é que estão levando o garoto 'a irritação e ao surto, mas como eles acham sempre que a culpa é do Autismo, e que esta "agressividade" que eles acham "evidente", uns acham que se deve abordá-lo com carinho, outros acham que ele tem de ser amarrado na camisa de força, outros acham que é frescura, outros acham que devem entupi-lo de tanto remédio, outroas acham que tem de interná-lo, mas ninguém aventa a possibilidade de parar de torrrar a paciência dele, desistir de insistir, e deixá-lo em paz, na dele. Nem lembram disto, mesmo pq acham que ele nem tem direito destas coisas, pq na cabeça deles, a sociedade só o aceitará se ele tomar o chá como todo mundo.Não tomar o chá da sociedade é um pecado capital.Então eles continuam e continuam insistindo, enquanto os doutores ficam na rodinha em volta da mesa discutindo sobre o rapaz, sem nem olhar para ele,como se ele fosse invisível , não existisse. Mas o Autista real existe, está ali na mesa diante da xícará de chá, com um mote de gente chata em cima dele. Mas para estes doutores barbados, ah, eles falam de um Autista teórico, nunca o deixaram falar como ele realmente é, ou se deixarem, não o levarão a sério, pq eles o acham "um doente".E eternamente o Autista real continuará naquela mesa, com as pessoas envelhecendo junto com ele, desesperadas por ele não aceitar o chá, se perguntando pq ele não aceita logo,e começam a odiar o Autismo dele, e o que fizeram na vida para merecê-lo, achando que o Autismo não tem solução. Na verdade o Autismo não tem a solução que estas pessoas querem-o menino tomar o chá. Porém, não percebem que a solução está bem diante dos narizes delas- reconhecer o direito do garoto de não tomar o chá e deixá-lo ser um garoto que não toma chá, como, a esta altura, já se tornou o grande sonho da vida dele:se livrar das monitoras e dos velhos doutores barbudos e ir brincar como qualquer outra criança.No fim, o Autismo é a solução em si mesmo, o Autista é a sua própria solução!

Cristiano Camargo


terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Aspergers e Diagnóstico





Muito se debate sobre a questão da chegada do diagnóstico para Aspergers, se “precoce” ou “tardio”, qual seria melhor ou pior, etc.
As palavras precoce e tardio foram colocadas entre aspas por que para a Neurodiversidade, estas palavras simplesmente não fazem sentido, e não fazem porque são baseadas no conceito patologizante/espectralista/reducionista de desenvolvimento neurotípico como se fosse o único existente. E não é.
O Processo de Amadurecimento e Desenvolvimento Autista/Asperger é completamente diferente do neurotípico, com outros eventos distintos, velocidade e ritmo muito variáveis sim, mas muito diferentes do que se observa no Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento Neurotípico. Então não é possível aplicar o Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento Neurotípico a Autistas, sem que haja danos potencialmente graves a seu desenvolvimento e sua saúde mental.
Em vista disto, a idade com que se deve diagnosticar a Asperger é muito variável e relativa.
Psiquiatras e Neuros costumam detectar o Autismo até desde a fase da primeira infância (na contagem neurotípica) sendo que eles convencionam que a idade mínima para detecção mais precisa seja por volta dos sete/oito anos de idade. Muitos Aspies podem ser diagnosticados bem mais tarde, já adultos, já com vinte a cinquenta anos de idade ou até mais.
No entanto, porém, em muitos casos, diagnosticar mais tarde pode trazer grandes benefícios ao Autista.
Quando a detecção ocorre muito cedo, costuma ser muito imprecisa, e o risco de ser confundida com outras coisas completamente diferentes é bem grande.
Devido ao fato de que a maioria dos terapeutas terem uma visão patologizante/espectrista/reducionista do Autista, muitos deles já entram com remédios psiquiátricos pesados desde muito cedo, o que a longo prazo potencialmente pode trazer grandes malefícios ao Aspie.Muitas vezes se entram com terapias das mais diversas, que, na sua mentalidade, tem como objetivo tentar transformar o comportamento autístico em neurotípico, tentando convencer o Aspie a imitar o comportamento neurotípico e exercendo uma violenta pressão desde muito cedo para aumentar sua sociabilidade/socialização.
Isto pode levar o Aspie a grandes angústias, frustrações e depressões, além de causar baixa auto estima, pois ele se vê pressionado a rejeitar sua Asperger e seu jeito de ser, ir contra sua própria Natureza e Identidade e rejeitá-las, o que trará prejuízos psíquicos graves a longo prazo. Neste processo, outra atitude comum nestas terapias costuma ser a desvalorização e rejeição de sua Mundo Interno de Fantasia, pregando sua extinção, algo que também a longo prazo pode acarretar como consequência a loucura pura e simples.
Ou seja, os procedimentos pós-detecção estão completamente equivocados, na direção contrária da que deveria ser.
Diante deste quadro, é mais saudável retardar-se a detecção, pois o Aspie será obrigado a se esforçar para se superar sozinho, e quando a detecção chegar, ele já estará maduro para recebê-la e entendê-la.
No caso do autor deste artigo,  a detecção somente aos 41 anos de idade foi bastante salutar, saudável e fez muito bem.  Quando foi detectada a Asperger, quase tudo já tinha sido superado.
Entretanto, nos anos 60 não haviam tantas pressões por sociabilidade como hoje em dia, mas já na época, ninguém saber que se era Aspie ajudou a não passar por estigmas, preconceitos e discriminações. Eis que pois, nos dias de hoje, detectar cedo pode atrair preconceitos ,estigmas e discriminações sociais mais cedo.
Devido ao fato de que nas três últimas décadas, a pressão social em cima dos Diferentes cresceu exponencialmente, muitos aspies mais novos de trinta anos de idade ou mais novos, se sentem angustiados,deprimidos e com uma sensação de rejeição social, sentindo-se verdadeiros ET´s sociais, sentindo-se destoar da sociedade, levando-os a conflitos com suas Naturezas e Identidades, predominantemente isolacionistas, contemplativas e introspectivas, tentando combate-las, geralmente sem sucesso e caindo na armadilha do círculo vicioso da auto rejeição/angústia/depressão/queda na auto estima e auto confiança.
E quando vem a detecção, e os médicos e a sociedade passam a chama-lo de doente, já que para estes a detecção nada mais foi do que a confirmação de suas convicções patolozizantes/espectrantes/reducionistas, portanto, uma autorização para a confirmação de um exercer impune e justificado de preconceitos/discriminações/estigmas sociais/intolerâncias, ao invés de apoiar e orientar o Aspie por seu Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento Autista/Asperger, e procurar elevar sua auto estima, auto confiança e auto aceitação de sua Natureza/Identidade, só agravam as coisas, tentando fazer com que ele se “normalize-se” e tente ser neurotípico, ou seja, quem ele não é. Pressionando-o selvagemente de todas as formas para ter amigos e se sociabilizar, desrespeitando assim seu processo  de desenvolvimento diferente, sua natureza, sua identidade, seu jeito de ser, tentando destruir seu Mundo Interno de Fantasia.
O que está errado então não é tanto a idade com que se detecta, mas sim o que se faz ao detectar e depois que se detecta.
Se os procedimentos pós detecção fossem guiados pelos preceitos da Neurodiversidade, da Visão Positiva do Autismo, dos Conhecimentos do Lado de Dentro do Autismo e respeitando e seguindo o Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento Autista/Asperger, tanto faria a idade em que fosse feita a detecção, e na verdade poderia ser feita a revelação levando em conta o volume de pressão social ao qual o Aspie foi submetido, e a detecção do nível de angústia/depressão/auto rejeição que ele apresenta devido a estas pressões sociais externas.
O ideal é prepara-lo psicologicamente primeiro, trabalhando a auto estima, auto confiança, auto aceitação, para depois, quando for revelar, apresentar a Asperger como algo positivo e bacana, como uma Natureza, uma Identidade e valorizando as características contemplativas/isolacionistas/introspectivas, mostrando-as como positivas.
Isto certamente resultará em Aspies mais felizes e bem resolvidos, que poderão serem inseridos na sociedade com mais eficiência, pois terão mais sucesso em enfrentar as pessoas e suas pressões, aproveitando suas qualidades e talentos, inclusive profissionais e realizando seus sonhos.

Cristiano Camargo



domingo, 19 de fevereiro de 2017

Autismo: a vez da voz dos filhos !

Algo que me faz diferente de tantos outros ativistas pelo Autismo nas comunidades espalhadas pelo Face, é que procuro tentar ser muito mais a voz dos filhos do que a voz dos pais.E felizmente, outros filhos e filhas autistas tem seguido e trilhado este caminho também.Mas , por que?
Pais e mães de Autistas que falam pelos filhos e que expressam suas dificuldades, preocupações e angústias, já existem muitos, são a maioria absoluta que compõem as Comunidades de Autismo nas redes sociais.
Mas o principal motivo não é este.
É porque considero que é muito importante para os pais ouvirem a voz de seus filhos e dos filhos dos outros.Prestar atenção ao que os filhos autistas tem a dizer é muito importante, e muitas vezes o caminho para as superações dos filhos está nos recados a que eles tem a transmitir.Penso que é importante que os filhos autistas tenham suas vozes ouvidas, opinião própria e suas próprias hipóteses sobre o Autismo, afinal, ,como são autistas, podem falar do assunto com domínio e propriedade.
Claro que muita gente gostaria ou só se interessa em ouvir depoimentos e histórias de vida, e ficassem só nisto e não tivessem idéias próprias. Mas ei, pode estar nas idéias próprias dos filhos autistas a saída para as preocupações maternas e paternas, o caminho para uma aceleração do desenvolvimento, para as superações !
Então, por que não ouvi-las?
Eis que pois, muitos pais e mães não suportam nada que não for interpretado por eles/elas como apoio e incentivo, mas, alto lá, pais e mães são humanos,e como todo mundo, podem errar. Ou podem estar no rumo errado sem saber,e podem precisar que alguém lhes abra os olhos para lhes mostrar novos caminhos , novos rumos na educação dos filhos, que podem ser tomados.Mudar de idéia não é ter culpa. Mostrar novos caminhos não é culpar. Mostrar onde se está errando é um ato de amor.
Não é apontando os erros aos filhos que eles ensinam os filhos a não errar mais?Como vamos aprender a não errar, como aprenderemos com os nossos erros, se não soubermos que erros foram estes, sem saber onde erramos, e em quê?
E por que não os filhos apontarem os erros dos pais também?
Afinal, os filhos, especialmente depois de adultos, tem uma grande bagagem de experiência como filhos e sabem como foram criados (que nem sempre é como gostariam de terem sido) e sabem como gostariam de ser criados. E quem, antes de ser pai e mâe não tem mil planos de como vão educar os filhos como forem?Estes planos nasceram de suas experiências como filhos, pelo que viveram e pelo que observaram dos pais. E muitos não querem cometer os mesmos erros e repeti-los de geração a geração.Enquanto os pais criam, os filhos os observam e vão anotando tudo o que os pais fizeram que os filhos interpretaram como erros que poderiam ter sido corrigidos,e bolam soluções. São erros que os filhos não chamaram a atenção durante a criação por, em certos casos, excesso de severidade e autoritarismo (“-Não responda para mim !Me respeite!”), e aí, tolhidos de seus direitos ‘a opinião própria, não puderam ajudar os pais na época. Mas , se por um lado, ter pais muito severo não deixa que os filhos tenham sua voz para ajudar aos pais, para estes filhos ajudarem outros pais é bem mais tranquilo, pois deixa de ser uma relação de autoridades e comandados, o que confere aos filhos mais liberdade de ação e expressão.
Então, só elogios e apoios explícitos, rasgações de seda e alimentos para ao ego e a vaidade dos pais e mães pode não os estar ajudando, pode até estar atrapalhando, porque mascara os problemas e os erros. E muitas vezes, também a crítica pode ser um ato de amor, um ato de solidariedade, o importante neste caso é não ficar na simples crítica, mas mostrar soluções. E não há como mostrar soluções sem mostrar os erros.Acertos não ensinam nada, erros ensinam tudo a quem estiver disposto(a) a deixar o orgulho, o ego e a vaidade de lado e aprender.
Tem gente que vê nos apontamentos de erros, críticas e no apontar de soluções uma culpabilização dos pais? Tem, e muita ! Mas tem razão?
Não, por que não cabe culpa nas criações dos filhos, nem nos comportamentos de pais e mães.Buscar culpas não leva ninguém a nada de bom. Procurar culpas em críticas , idem.
Os filhos autistas não falam para acusar nem culpar ninguém. Falam para procurar ajudar aos demais pais e a outros filhos, o objetivo é sempre o desenvolvimento e as superações.
E um filho autista não fala por si só, representando apenas seu próprio caso, como muitos pais de autistas os acusam.
Muitos erros são comuns em muitas criações diferentes e precisam ser apontados. E , embora existam milhões de autismos diferentes, muitas coisas eles tem em comum entre si, ou não seria todos eles chamados de Autismo. Você pode ter muitas marcas de carros, sedans, peruas, picapes, esportivos, jipes, conversíveis, com “n” configurações diferentes de motores, etc, mas todos tem em comum quatro rodas, bancos, parabrisas, volante, etc. O mesmo se aplica ao Autismo, só que com uma variabilidade infinitamente maior e com a humanidade que uma máquina não tem, mas algumas coisas em comum todos tem, e estas formam sua Identidade, a Identidade Autística.
Então dá para um autista falar de tudo o que se refere a Identidade Autística falando por e para todos os demais Autistas. Por que isto, apesar de diferentes, eles tem em comum.
Então, por fim, é por tudo isto que sigo tentando ser uma voz de filho autista, e falar para os filhos.
E é por tudo isto que é importante não deixar só que os pais falem por seus filhos ou por todos os filhos, sozinhos. Os pais não estão sozinhos no mundo.E os filhos tem voz, querem e precisam se expressar e mostrar o que pensam , o que sentem, o que vivem.E acima de tudo, querem ajudar. Não só a eles, mas aos pais também.
Que tal ouvirem o que temos a dizer?

Cristiano Camargo


sábado, 18 de fevereiro de 2017

Manifesto Autista





Autistas não sofrem de Autismo.Sofrem do Preconceito da Sociedade.Sofrem do bullying covarde dos intolerantes e ignorantes.Sofrem desta Sociedade doentemente preconceituosa e exclusiva, que acha que incluir é uma frescura, um favor.Podem ter certeza, se a Sociedade os entendesse e respeitasse, seriam perfeitamente felizes, pois o Autismo em si não faz ninguém sofrer, e não é doença e sim uma diferença.
Porém, para a nefasta e elitista Sociedade atual,ser diferente é o grande pecado dos Autistas, e sabem porquê?
Porque esta Sociedade cruel e retrógrada, estúpidamente preconceituosa, sonha com uma Sociedade de pessoas pré-fabricadas, em massa,todas iguaizinhas, todas encaixadas direitinho em moldes pré-fabricados, específicos para atender os interesses da Sociedade, que não é o bem estar de seus cidadãos, mas sim o sustento das grandes corporações,gerando capital e trabalho, de cabeça baixa, enganada por espetáculos de pão e circo, como o futebol,para que não questionem, não tenham idéias, nem fazem revoluções.
A Diferença dos Autistas é o Terror para a Sociedade porque mostra que é possível ser diferente, ter opinião própria, personalidade própria, identidade pura,pendor para as Artes, sensibilidade, e, portanto, inteligência para denunciar e criticar os podres da Sociedade,mostra que é possível escapar dos padrões e explorar novos padrões que nem sempre podem vir de encontro aos interesses da Sociedade das elites e do Poder Corporativo Corrupto.
Pior ainda para os que vêem o Autismo como doença, pois passam a ver no Autismo a corrupção da Sociedade,sendo que na verdade os Corruptos são os que mandam na Sociedade e a dominam.Assim, os anjos pagam pelos demônios,numa total inversão de valores.
Charles Chaplin já mostrava visionáriamente nos anos 20 , em seu explêndido filme "Tempos Modernos"no que a Sociedade se tornaria e a estupidez de querer padronizar Seres Humanos e combater sua diversidade.
George Orwell mostrou claramente em sua magnífica obra "1984" as funestas consequencias que podem advir das tentativas de exterminação da diversidade e padronização humana, levando as Ditaduras 'as últimas consequencias.
É preciso que a Sociedade se humanize !Muitos avanços já foram conseguidos, 'a duras penas, mas o caminho é tão longo quanto a saga de Marcel Proust.Mas quem fica de fora, esperando Godot, se exime de reafirmar a peça teatral de Pirandello, deixando de enriquecer a sociedade com seu próprio ponto de vista, dificultando as mudanças na Sociedade que ela necessita para levar os autistas a uma posição digna e integrada na Sociedade, e também para purificar a Sociedade de sua inversão de valores , discriminação e corrupção, lembrando sempre que o próprio preconceito contra quem quer que seja é uma corrupção do Caráter e da Honra.
"Liberté,Igualité, fraternité", os ideais da revolução francesa ainda não foram cumpridos, e se aplicam muito bem aos Autistas, e é o que eles exigem da Sociedade.
Que os Robespierres da Sociedade parem então de cortarem cabeças com seus preconceitos afiados e que os velhos ideais não cumpridos venham 'a luz e se tornem Realidade !
Gostaria muito que vocês todos(as) refletissem sobre tudo isto !

Cristiano Camargo

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Vídeo: Minha palestra no CONAIPA !

Minha palestra no Congresso Virtual CONAIPA , no Ano passado:
https://youtu.be/w6rA3tLpAQg

Autistas são Maestros





Quem vê um Autista mergulhado fundo em seu Mundo Interno de Fantasia,especialmente os pais, pode ter a impressão de que a pessoa está alienada, perdida,infeliz, deprimida,e sobretudo, distante, e fica achando que esta pessoa pode não voltar nunca mais,e fica com vontade de "resgatá-la","salvá-la do abismo","trazê-la de volta"....rsss...o que não é não poder ver  o autismo do lado de dentro, estar de fora...
Na verdade, não há motivos para estas aflições, muito natural de quem cria e ama um(a) autista/Asperger.Não é este drama mexicano todo, nem motivo para tantas preocupações.E vou explicar por que:
Quando o autista/Asperger está em seu mundo interior, ele não está parado, num limbo vazio, perdido da vida.Tampouco está tão isolado assim.
Na verdade o que está ocorrendo de verdade, é que ele está altamente concentrado, lidando com uma enorme massa de informações e construindo seus mundos, suas fantasias, e isto absorve muito ,posto que extremamente complexo e trabalhoso,tempo e muita energia, e tudo está direcionado, com seus simbolismos e entrelinhas, a aprender a lidar com ambos os mundos, fantasia e realidade.Toda fantasia, em seu simbolismo, remete 'a uma realidade.É da realidade que partem as fantasias e quando se analisam os seus simbolismos,se descobre, na verdade, tentativas de interpretação e planificação futura e presente da realidade.
Mas ele(ela) não está 100% desconectado(a).Ele pode não manifestar reação, mas na realidade, ele está processando estas informações em sua mente e procurando, analisando, qua a melhor forma de reagir, e usando as fantasias como metáforas da realidade,buscando analisar se é melhor reagir ou não, analisando suas emoções,suas inseguranças, e o fator mais difícil de calcular e que leva mais tempo, e também que exige mais simulações internas mentais, é a imprevisiblidade humana.
A insegurança do autista/asperger imaturo em relação a isto, e sua inconformidade e surpresa, de certa forma, rejeição 'a esta imprevisibilidade é o que mais causa demoras e mais prolonga a estadia do autista/Asperger dentro de seu mundo interno de fantasia.
É preciso entender que este mundo mental, além de extremamente complexo,não serve apenas para distrair, proteger,e isolar o autista/asperger da Realidade, mas também para buscar soluções e planejar ações e reações, comportamentos, e decidir o que deve ser externado, inclusive verbalmente ou não, quais as prováveis consequencias, etc.Este isolamento é necessário para que ele/ela possa se concentrar o suficiente para  que o Mundo Interno de Fantasia, este mecanismo mental fantástico movido a imaginação e criatividade, possa exercer suas funções e tentar beneficiar o autista/Asperger.Mas isto tudo não significa necessáriamente que ele vá ficar entretido lá para sempre, direto.Ele precisa ir 'a realidade aplicar o que planejou, e mais cedo ou mais tarde, quando todo este processamento terminar, ele voltará a atuar na Realidade.
Claro que tudo isto supondo um Mundo interno de Fantasia sadio.
O que ocorre em muitos casos, é que traumas psicológicos devidos 'a rejeições, bullying,atos externos de hostilidade e agressividade, e mesmo doenças  físicas agressivas, com dores intensas e prolongadas,altamente traumatizantes, podem desencadear doenças no Mundo Interno de Fantasia e atrasar considerávlmente o Processo de Amadurecimento.Estes eventos podem criar um Fator Imobilizador ou Bloqueador, que bloqueia processos e impede estruturas de raciocínios, além de bloquear a imaginação e paralisar contruções de mundos e planos.Neste caso, corre uma profunda angústia, com o cérebro lutando para completar suas fantasias e mentalisações, os planos ,as estratégias, as metáforas da realidade,mas batendo de frente num muro espesso, que boqueia tudo isto: a dor do trauma, e no caso de doenças físicas e de bullyings violentos,a lembrança da dor física.Nestas horas, o Juiz interior, que todo(a) autista/asperger tem em sua mente, decreta:Proibido ultrapassar este ponto !
E aí sim, neste caso, a quantidade de energia necessária, o isolamento e  a concentração exigida aumentam muito mais, com o autista/asperger tentando desesperadamente passar por este juiz em cima deste muro, e em alguns casos, até ele conseguir, pode levar meses ou anos.Por isto certos retrocessos no Processo de Amadurecimento.Está havendo uma séria luta interna contra este bloqueio feroz,que este Juiz, como guardião deste muro que separa a angústia das soluções, impoõe.É este mesmo Juiz que o faz se auto reprimir e se auto restringir  em muitas ocasiões e ele é um inimigo difícil de ser vencido, mas claro, não impossível.
É preciso lembrar sempre que um aprofundamento do mergulho do autiosta/Asperger em seu Mundo Interno de Fantasia não ocorre a toa, do nada, alguma razão, especialmente emocional, houve.E é preciso investigar isto, para que possamos ajudar ao autista/asperger a vencer seu Juiz Interior, e o Muro de Bloqueio, e voltar a ser o Maestro de seu lindo e complexo Mundo Interior de Fantasia em toda a beleza de sua harmonia, quado este volta a ser saudável!

Cristiano Camargo