terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Aspergers e Diagnóstico





Muito se debate sobre a questão da chegada do diagnóstico para Aspergers, se “precoce” ou “tardio”, qual seria melhor ou pior, etc.
As palavras precoce e tardio foram colocadas entre aspas por que para a Neurodiversidade, estas palavras simplesmente não fazem sentido, e não fazem porque são baseadas no conceito patologizante/espectralista/reducionista de desenvolvimento neurotípico como se fosse o único existente. E não é.
O Processo de Amadurecimento e Desenvolvimento Autista/Asperger é completamente diferente do neurotípico, com outros eventos distintos, velocidade e ritmo muito variáveis sim, mas muito diferentes do que se observa no Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento Neurotípico. Então não é possível aplicar o Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento Neurotípico a Autistas, sem que haja danos potencialmente graves a seu desenvolvimento e sua saúde mental.
Em vista disto, a idade com que se deve diagnosticar a Asperger é muito variável e relativa.
Psiquiatras e Neuros costumam detectar o Autismo até desde a fase da primeira infância (na contagem neurotípica) sendo que eles convencionam que a idade mínima para detecção mais precisa seja por volta dos sete/oito anos de idade. Muitos Aspies podem ser diagnosticados bem mais tarde, já adultos, já com vinte a cinquenta anos de idade ou até mais.
No entanto, porém, em muitos casos, diagnosticar mais tarde pode trazer grandes benefícios ao Autista.
Quando a detecção ocorre muito cedo, costuma ser muito imprecisa, e o risco de ser confundida com outras coisas completamente diferentes é bem grande.
Devido ao fato de que a maioria dos terapeutas terem uma visão patologizante/espectrista/reducionista do Autista, muitos deles já entram com remédios psiquiátricos pesados desde muito cedo, o que a longo prazo potencialmente pode trazer grandes malefícios ao Aspie.Muitas vezes se entram com terapias das mais diversas, que, na sua mentalidade, tem como objetivo tentar transformar o comportamento autístico em neurotípico, tentando convencer o Aspie a imitar o comportamento neurotípico e exercendo uma violenta pressão desde muito cedo para aumentar sua sociabilidade/socialização.
Isto pode levar o Aspie a grandes angústias, frustrações e depressões, além de causar baixa auto estima, pois ele se vê pressionado a rejeitar sua Asperger e seu jeito de ser, ir contra sua própria Natureza e Identidade e rejeitá-las, o que trará prejuízos psíquicos graves a longo prazo. Neste processo, outra atitude comum nestas terapias costuma ser a desvalorização e rejeição de sua Mundo Interno de Fantasia, pregando sua extinção, algo que também a longo prazo pode acarretar como consequência a loucura pura e simples.
Ou seja, os procedimentos pós-detecção estão completamente equivocados, na direção contrária da que deveria ser.
Diante deste quadro, é mais saudável retardar-se a detecção, pois o Aspie será obrigado a se esforçar para se superar sozinho, e quando a detecção chegar, ele já estará maduro para recebê-la e entendê-la.
No caso do autor deste artigo,  a detecção somente aos 41 anos de idade foi bastante salutar, saudável e fez muito bem.  Quando foi detectada a Asperger, quase tudo já tinha sido superado.
Entretanto, nos anos 60 não haviam tantas pressões por sociabilidade como hoje em dia, mas já na época, ninguém saber que se era Aspie ajudou a não passar por estigmas, preconceitos e discriminações. Eis que pois, nos dias de hoje, detectar cedo pode atrair preconceitos ,estigmas e discriminações sociais mais cedo.
Devido ao fato de que nas três últimas décadas, a pressão social em cima dos Diferentes cresceu exponencialmente, muitos aspies mais novos de trinta anos de idade ou mais novos, se sentem angustiados,deprimidos e com uma sensação de rejeição social, sentindo-se verdadeiros ET´s sociais, sentindo-se destoar da sociedade, levando-os a conflitos com suas Naturezas e Identidades, predominantemente isolacionistas, contemplativas e introspectivas, tentando combate-las, geralmente sem sucesso e caindo na armadilha do círculo vicioso da auto rejeição/angústia/depressão/queda na auto estima e auto confiança.
E quando vem a detecção, e os médicos e a sociedade passam a chama-lo de doente, já que para estes a detecção nada mais foi do que a confirmação de suas convicções patolozizantes/espectrantes/reducionistas, portanto, uma autorização para a confirmação de um exercer impune e justificado de preconceitos/discriminações/estigmas sociais/intolerâncias, ao invés de apoiar e orientar o Aspie por seu Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento Autista/Asperger, e procurar elevar sua auto estima, auto confiança e auto aceitação de sua Natureza/Identidade, só agravam as coisas, tentando fazer com que ele se “normalize-se” e tente ser neurotípico, ou seja, quem ele não é. Pressionando-o selvagemente de todas as formas para ter amigos e se sociabilizar, desrespeitando assim seu processo  de desenvolvimento diferente, sua natureza, sua identidade, seu jeito de ser, tentando destruir seu Mundo Interno de Fantasia.
O que está errado então não é tanto a idade com que se detecta, mas sim o que se faz ao detectar e depois que se detecta.
Se os procedimentos pós detecção fossem guiados pelos preceitos da Neurodiversidade, da Visão Positiva do Autismo, dos Conhecimentos do Lado de Dentro do Autismo e respeitando e seguindo o Processo de Amadurecimento/Desenvolvimento Autista/Asperger, tanto faria a idade em que fosse feita a detecção, e na verdade poderia ser feita a revelação levando em conta o volume de pressão social ao qual o Aspie foi submetido, e a detecção do nível de angústia/depressão/auto rejeição que ele apresenta devido a estas pressões sociais externas.
O ideal é prepara-lo psicologicamente primeiro, trabalhando a auto estima, auto confiança, auto aceitação, para depois, quando for revelar, apresentar a Asperger como algo positivo e bacana, como uma Natureza, uma Identidade e valorizando as características contemplativas/isolacionistas/introspectivas, mostrando-as como positivas.
Isto certamente resultará em Aspies mais felizes e bem resolvidos, que poderão serem inseridos na sociedade com mais eficiência, pois terão mais sucesso em enfrentar as pessoas e suas pressões, aproveitando suas qualidades e talentos, inclusive profissionais e realizando seus sonhos.

Cristiano Camargo



Nenhum comentário:

Postar um comentário