sábado, 11 de fevereiro de 2017

O mito do Terapeuta-Geladeira



Nas minhas conversas com mães de Autistas e Aspergers e também com outros Aspies,uma reclamação vinda deles tem sido muito comum: o psiquiatra,psicólogo, neuro e demais profissionais da área tem prestado serviços frios, insensíveis e distantes aos seus filhos ou aos próprios Autistas/Aspies.
Muitas vezes, segundo as reclamações que recebo,o profissional mal olha na cara da criança/adolescente/adulto e já vai entupindo-o de remédios psiquiátricos, ou, caso faça psicanálise, esta costuma ser fria e distante, insensível , sem oferecer esperanças, consolos ou apoio.
Profissionais que deveriam ter carisma com quem atende, e que deveria ter brincadeiras lúdicas a oferecer, limitam-se a serem sérios, frios e chatos,sem expressar qualquer emoção.
E no caso de crianças, ser simpático(a) , procurar agradar, conquistar a atenção e principalmente a confiança, é simplesmente fundamental para o sucesso do acompanhamento.
Se a criança não, digamos, "for com a cara " do/da profissional,o acompanhamento estará fadado ao fracasso e à interrupção ou crise, e o risco de aumentar a agitação e os sentimentos negativos, refletidos em seu comportamento, da criança, aumentam considerávelmente. A inépcia de um(a) mau(má) profissional pode ser desastrosa para a criança!
Também a apatia no atendimento, ou a má vontade também acabam piorando a situação na verdade famílias inteiras. O acompanhamento perde muito de sua efetividade ser não for humano e sensível.

Hora de revelar o Diagnóstico:

Igualmente comum é os profissionais subestimarem a criança e desesperançar os pais, colocando o quadro como catastrófico e os fazendo pensar num sentença de morte social,falando na cara, sem a menor sensibilidade, sem o menor jeito,numa falsa franqueza que magoa e machuca muito, especialmente as mães, especialmente na hora de revelar o diagnóstico. Falsa franqueza por que muitos profissionais colocam o diagnóstico dado por eles como algo perene, pétreo,fixo, e descartam qualquer possibilidade de superação, não deixando nenhuma esperança. Alguns pais e algumas mães, ainda que desenganados(as) pelos profissionais, não acreditam neles e vão a luta e conseguem as superações e acabam provando o erro da subestimação. Na área de atendimento a Autistas e Aspies, arrogância profissional é um erro capital!

Flexibilidade e Humanização do acompanhamento:

É preciso um certo jogo de cintura, uma certa consideração e humanidade dos profissionais tanto no trato dos pais como no dos autistas e aspies. E é preciso teoria da mente e ter a humildade de se colocar no lugar do paciente e dos pais para que o acompanhamento seja o mais bem sucedido possível.
Especialmente no caso de crianças pequenas, é preciso ter jeito com crianças, gostar de crianças, ter prazer na compania delas, para que se possa lidar com elas de maneira adequada.

Cuidando de não verbais:

No caso das não-verbais, mais ainda, pois elas necessitam de brincadeiras lúdicas para que se faça uma psicanálise indireta através da interpretação da simbologia dos gestos, das brincadeiras espontâneas da criança ,de seu comportamento, e caso ela goste de desenhar, da interpretação da simbologia de seus desenhos.
É preciso analisar enquanto se brinca com a criança, como se o(a) profissional fosse outra criança da mesma idade, anotando tudo mentalmente. Também ajuda muito se o (a) profissional,com a autorização dos pais, filmar as brincadeiras espontãneas da criança sem que ela perceba, sozinha ou acompanhada, e depois analisar as imagens e buscar interpretações dos gestos, atitudes e simbologias das brincadeiras infantis,assim se estará analisando a saúde do Mundo Interior de Fantasia da criança,mesmo que ela seja não verbal. Aliás, se os próprios pais também tiverem condições de filmarem o comportamento da criança e suas brincadeiras quando ela estiver isolada ou sozinha sem ela perceber e depois mostrar ao profissional para interpretar ,melhor ainda, pois no ambiente frio e pouco acolhedor, sem falar em não-familiar e desconhecido de um consultório ou laboratório acaba por correr o risco de inibir a criança ou fazer com que ela exiba um comportamento diferente do que ela exibiria em casa.

Ecolalia:

Algumas crianças autistas não são por enquanto completamente verbais, exibindo ecolalia. Elas repetem tudo o que se fala e às vezes usam expressões fora do contexto correto. Mas pode-se usar a própria ecolalia dela pra que ela desapareça.
Pode-se falar uma palavra, deixar a criança repeti-la, e depois ir acrescentando palavras à primeira para criança repetir e depois ir acrescentando novas palavras até formar uma frase inteira. Depois que a criança repetir várias vezes a mesma frase, gravando- na memória, é hora de associar a frase a uma ação .Por exemplo: "Eu vou dançar", e coloca-se uma música e dança-se um pouquinho.
Incentiva-se a criança a dançar com o profissional. Durante a dança,dizer:"Estou dançando". Depois de várias vezes a criança autista irá notar que o/a profissional só fala a frase durante a ação. Se ela falar a frase errada, deve-se ir tentando de novo a associação até esta estar bem aprendida. Com isto, a criança aprenderá frases inteiras e se acostumará a só dizê-las na ocasião correta. Frases interrogativas e/ou negativas podem ficar para um estágio mais avançado. A criança percebendo que está acertando e que está sendo bem recompensada com carinho ,sua auto estima e autoconfiança aumentará e ela se sentirá estimulada a falar com frequencia. Os acertos também devem ser premiados com olhar carinhoso e sorriso meigo e simpático, e os erros com convites pra novas tentativas também com sorrisos e olhares amigáveis.
Claro que muitas outras coisas poderiam ser feitas, mas aí este artigo ficaria longo demais, por isto aqui só expus o básico.

Atendimento a Aspies Adolescentes/Adultos

Alguns Aspies ,seja por terem passado a vida enfrentando Bullying sistemático, traumas não resolvidos ou passado por uma vida de rejeições contínuas, podem apresentar um quadro de angústia e depressão. Alguns aspies adultos ou adolescentes reclamam da frieza e distância dos terapeutas, que ao invés de palavras confortadoras e incentivos, recebem duras palavras que pioram mais ainda a sua baixa auto estima , depressão , angústia ,desânimo e descrença nas pessoas, o que só agrava o quadro. O/A profissional, a meu ver, deve demonstrar certa sensibilidade e escolher bem as palavras, levando o aspie a se sentir um pouco mais querido e mostrar que nem todas as pessoas são más ou tem más intenções. Não basta buscar as raízes do trauma durante a psicanálise, é preciso trabalhar a carência emocional/afetiva do/da Aspie e coisa bem simles podem ajudar muito!
Por exemplo:numa sessão depois de uma falta, dizer ao aspie:-Senti sua falta, eu gosto de ter você aqui no meu consultório e conversar com você!
Ou ainda, quando ele chega, dizer:-Que bom que você veio, é tão agradável conversar com você!
Outro exemplo é quando o Aspie começa a criticar a si mesmo, refutar com cordialidade:-Olha, desculpe, mas eu discordo, acho você uma pessoa muito interessante e que vale a pena as pessoas conhecerem !
Tudo isto e este tipo de frases ajudam muito a levantar a moral ,a auto estima, a combater a carência. É verdade que o profissional deve manter uma certa distância de seus pacientes, mas a gelada distãncia da impessoalidade desumana deve ser evitada. Tudo vai melhor e flui melhor quando o tratamento é humano e com calor humano, com sensibilidade e consideração, que não, não são perda de equilíbrio emocional nem demonstração de afetividade indevida ao paciente, é apenas ter consciência de que ali na frente não está só um paciente, um número, o próximo, ali tem gente, um ser humano, com emoções, sentimentos e uma carga negativa de todo um histórico de vida negativo, de más lembranças e traumas e não custa nada deixar de ser um robô bitolado, arrogante e insensível e ser gente, tratando gente como gente.
Novamente vem ao caso a questão do exercício da teoria da mente , do profissional, e a humildade de , pelo menos por alguns minutos, se colocar um pouco no lugar do paciente e ter alguma consideração.

Escolha do/da Profissional:

Deixo claro, no entanto que há ,claro, bom e maus profissionais em todas as áreas ligadas au Autismo /Aspeger, e que existem sim bons(boas) profissionais com tato e sensibilidade para acompanhar autistas e aspies com a devida humanidade e ternura,assim como existem as excessões.
Assim , recomenda-se na hora da escolha de um(a) profissional para acompanhr seu/sua autista, não apenas sua competência técnica e clínica, seu currículo Latte, seus títulos e diplomas, seu renome, mas o jeito com que ele/ela trata a criança durante a sessão e aos pais também . Se não tiver o carisma e a sensibilidade, humanidade, consideração necessárias, recomenda-se procurar outro/a profissional, pois este(a) poderá acarretar problemas aos filhos e pais, ou simplesmente, não dar resultados.
Alguns pais e mães de autistas severos muitas vezes se dizem descrentes de que seus filhos amadureçam, evoluam, progridam, mas, será que isto muitas vezes não se deve também a um(a) mau/má profissional, que não tem o tato, a sensibilidade necessárias? Já vi casos de autistas severos que progrediram muito depois de mudar de profissionais !
Só a técnica não basta,humanidade também faz a competência- e a eficiência também !

Cristiano Camargo

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