sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O intrigante paradoxo da Inclusão que exclui




O que é a Inclusão Social?
Incluir, no sentido social.pode ser interpretado como admitir, deixar entrar.Como, por exemplo, um dos integrantes de uma rodinha de amigos, apresentar um novo amigo e eles permitirem que o novo amigo faça parte do grupo.Mas num contexto mais amplo,a Inclusão social significa admitir, em seu interior, aqueles que, por algum motivo, estavam 'a margem da Sociedade.E por quê estavam 'a margem?
No caso do Autismo e da Asperger , é o preconceito contra o Diferente, a intolerância para com o Diverso, a incompreensão e a má vontade de entender(ou falta de vontade mesmo) para com o Peculiares.
Isto faz com que seja negada aos Autistas/Aspergers, a entrada na Sociedade como Cidadãos de Direito, mais ou menos como o Leão de Chácara, que impede a entrada de quem não pode pagar, numa festa ou restaurante.De certa forma, podemos interpretar este "não poder pagar", como sendo não consumir, não gerar renda e lucros para grandes empresas, não ser explorado por empresas e pelos Governos através dos impostos,não ser mão de obra a ser explorada.O ingresso é consumir e gerar lucros, seja na compra de mercadorias e serviços, seja pelo pagamento de impostos.Se tem alguém pagando por ele, geralmente os pais,ele não gira a roda do mercado e a sociedade o vê como um elemento estranho e inútil.Assim só os pais são admitidos, mas os filhos ficam de fora, especialmente após a adolesc~encia, e mais especialmente ainda se eles ainda não tiverem conquistado sua independência financeira!
Para a Sociedade em que vivemos, não somos pessoas , mas objetos a serem comprados e vendidos, números, estatísticas,consumidores e pagantes.A beleza de coração e alma ,a sensibilidade, a inteligência, se não forem negociáveis e lucrativas,não interessam, não tem valor e são considerados dispensáveis pela Sociedade.Para a Sociedade , os autistas são fontes consumidoras de remédios para seus pais,e como controlam, através de certos profissionais, a manutenção de sua dependência dos pais dopando os autistas com remédios contínuamente e os mantendo dependentes também dos remédios,asseguram-se manter os autistas a continuar fora do sistema, pois a Sociedade não quer que eles amadureçam e superem, pois aí deixariam de comprar remédios, o que vai contra os interesses da Sociedade.Tampouco valorizam o autista se os pais deixam renda para ele ao falecer, pois aí a Sociedade o considera um parasita do Estado, que se vê obrigado a sustentá-los e por isto os desprezarão como desprezam os aposentados.
No caso da inclusão escolar,o capitalismo vê a educação não apenas como um negócio, mas além,como centros de formação de mão de obra e preparação para a vida de consumo,onde as crianças tem de sair como futuras geradoras de lucro, consumo e mão de obra a ser explorada econômicamente.
Uma criança Autista/Asperger, sob o ponto de vista dos donos de escolas e dos governos,não pode e não deve ser incluída e admitida, por que não a vêem como uma futura geradora de lucros, consumo ou mão de obra, e sim como crianças doentes, que após a morte dos pais precisarão serem amparadas pelos governos e dependerem deles, ou seja, darão prejuízo para a Sociedade, que terá de arcar com seus "custos".E estas pessoas também justificam seu preconceito e sua intolerância nos argumentos onde, segundo eles, autistas seriam geradores de custos extras para as escolas, que os pais não tem como admitir o repasse para eles.Então seriam geradores de prejuizos.
A Lei Berenice Piana foi uma grande conquista das Comunidades Autistas, sem dúvidas.Porém tem de conviver com grandes distorções: poucas vagas por classe para autistas, abaixo da demanda necessária, e despreparo das escolas e professores e até dos próprios demais alunos!
A despeito da valentia e dedicação dos Professores, especialmente das redes estaduais e municipais, que sobrevivem com tão esqueléticos salários e são tão desvalorizados por nossa Sociedade,poucos são os professores que se interessam em aprender a lidar com Autistas e fazer cursos de reciclagem neste sentido(mesmo quando são gratuitos).
Isto sem falar no fenômeno do Bullying, mais desenfreado e incontrolado do que nunca!
Então, o que vemos?
Vemos poucas escolas admitindo autistas e se dizendo inclusivas, sendo que para ser uma escola realmente inclusiva, só colocar o Autista para dentro de suas dependências não basta!
De que adianta colocar para dentro e deixar estudar lá, se uma vez lá dentro o Autista irá apanhar e ser humilhado diáriamente por colegas, alguns funcionários e até mesmo alguns professores e  diretores?
Se certos alunos, funcionários, professores e diretores os isolam e os acusam de serem agressivos (aham, quem é que sofre bullying mesmo???) e sempre cedem aos pais dos agressores, que alegam que não podem deixar os seus filhos estudar numa escola onde tem um autista agressivo!
Resultado: o Autista é duplamente punido sem ter culpa de nada!Uma vez no Bullying e uma segunda vez por ter sido vítima de Bullying, e se ele reagir, se revoltar e bater em que o bateu, será punido uma terceira vez e considerado mais agressivo ainda!
Ninguém pensa que, na maioria dos casos em que Autistas foram considerados agressivos, estas agressões foram resultado de traumas, isolamentos, rejeições, humilhações, injustiças ,incompreensões e bullying promovido seja por colegas, por funcionários, professores ou até mesmo diretores.
Cabe aqui ressaltar que não estou acusando as classes de funcionários de escolas,professores e diretores, e sim mostrando que uma parcela deles faz isto, mas claro que a maioria não faz.
Assim, fica clara a proibição velada do direito do Autista reagir aos mal tratos que outras pessoas lhe impõe.  A Sociedade considera que o Autista tenha o dever de sofrer e de sofrer calado e de cabeça baixa e ser o saco de pancadas humilde e bobo da Sociedade.É proibido reagir, superar, amadurecer !
Para esta mesma Sociedade, a idéia de ter uma escola realmente inclusiva, com gente que queira e se interesse em ajudar o Autista se auto incluir na Sociedade, amadurecer e superar, é, infelizmente, um modelo de prejuízos financeiros e inviável para seus interesses.É preferível  então manter a falsa imagem de Escola Inclusiva,mantendo o incrível paradoxo da Inclusão que Exclui !
E é preciso refletir também, que existem várias outras inclusões  antes da criança autista estar pronta para a inclusão escolar:
A primeira inclusão é a da própria família. Com certeza existem muitas mães e pais valorosos e dedicados, que lutam com afinco pela inclusão, independência e educação de seus filhos, mas existe uma parcela de famílias que não aceitam o diagnóstico e tem preconceito contra o próprio filho,não o aceitando como ele é e tentando transformá-lo em neurotípico.Há famílias em que a mãe se dedica e devota ao filho com carinho, e o pai o rejeita e mal trata,humilha e tenta trátá- lo como se ele fosse neurotípico, com as mesmas exigências.Filhos destas famílias citadas já chegam na escola se sentido rejeitados, vítimas de preconceitos e já chegam revoltados e agressivos, por que não tiveram o apoio incondicional de um ou ambos os pais, e esta revolta foi se acumulando com o tempo, aí o bullying e a rejeição sofridos são apenas a última gota de água que faltava para que explodissem!
Outra inclusão é a periférica: crianças e pais neurotípicos vizinhos  ou de parentes ou colegas precisam aceitar o autista em seu meio e incluí-lo e não excluí-lo mais de festas de aniversário, ou outros eventos.Todos que lidam com  o autista precisam aprender a lidar com ele, não apenas os pais.
Por fim vem a Inclusão escolar, sobre a qual já discorri aqui.
Mas de nada adianta uma inclusão escolar eficiente e de verdade, se depois ele não tiver uma inclusão efietiva e verdadeira no mercado de trabalho, pois toda a inclusão tem de ter como objetivo inserir o autista no mercado de trabalho e conseguir a indendência e autonomia dele.Inclusive porque nossa Sociedade não admite como cidadãos quem não trabalhe, consuma e pague impostos por si só, não com alguém ou o Estado pagando por ele.
O Autista deve ser incluido na Sociedade pela admiração de suas qualidades, não por dó ou solidariedade para com um coitadinho necessitado.
E as pessoas precisam aprender que não é preciso apenas que o Autista supere, é preciso que as outras pessoas superem também o preconceito e o acolham por admiração e mérito.A Superação é uma via de mão dupla,interativa,um superando ,faz o outro superar também, e vice-versa; é necessário que as outras superem para que o autista também supere as barreiras que a própria Sociedade colocou na vida dele.
Qiais as soluções?
Toda a Comunidade Autista agora precisa se unir e lutar para conquistar a Inclusão Plena, familiar, periferica, escolar e de trabalho, e no caso específico da escolar,lutar para que a Lei Berenice Piana seja complementadas com leis e  práticas que tornem realidade a segunda parte deste tipo de inclusão:a extinção do bullying, e a preparação das escolas como um todo para receber os autistas e os manter dentro delas com justiça e igualdade de condições e tratamento em relação aos demais alunos,para que todos tenham chances iguais!

Cristiano Camargo

  

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