sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Asperger: A Arte da Introspecção




“Vá, viajor, Siga o vento,
Aproveita este fugaz momento,
Consuma-o de modo lento,
Para saborear suas memórias
Ao relento,

Ao fazer da Introspecção,
Uma arte,
Colores um quadro que reflete,
Qual espelho da Alma,
Que pintas com uma aquarela de sentimentos,
Um retrato da Realidade,
Posto que sonho,
Deixas levar-te,
Por tua Jornada de emoções,
Que outros tem por inexistente!”

Quando Hans Asperger descobriu aquilo a que seu sobrenome veio a nomear para o mundo e para a Ciência,
Ele nem tinha na verdade uma idéia da profundidade que
aquilo significava.
Muito abaixo do que a Ciência descobrira do iceberg de conhecimentos que é esta área, jazia um novo mundo de conhecimentos ainda hoje pouco explorado.
Tem sido senso comum à muitas pessoas ver a Introspecção como um defeito, algo ruim, algo a ser combatido, algo a servir de objeto para intervenções clínicas e sobretudo, como algo que faça a pessoa infeliz e prejudique ou mesmo impeça a sua sociabilidade.
Com isto as pessoas deixam de perceber as belezas e vantagens da introspecção.
Como puderam perceber, hoje estou falando especificamente da Asperger. E vou me aprofundar nesta questão.
“-Belezas e vantagens da introspecção? Como assim?”
Vocês podem estar se perguntando. Como gosta de falar
um amigo meu, vem comigo que no caminho eu explico !
O Asperger é um viajante de si mesmo, um explorador de seu próprio inconsciente. Enquanto outras pessoas são levadas por este vasto e incontrolável componente da mente humana, o Asperger nele viaja e profundamente o explora.
Ele faz da introspecção uma Arte, ao pintar um quadro da realidade de si mesmo, com talento ímpar pintando com uma aquarela de emoções, nas cores vívidas dos mais profundos e sinceros sentimentos, não um quadro qualquer, abstrato, mas um quadro que reflete qual espelho, uma miríade de percepções da Realidade na forma de experiências sensoriais minimalistas, em sofisticados, intrincados e até intrigantes detalhes, na forma de uma profunda busca por si mesmo, de identidade de seu Ser, de questionamentos filosóficos, existencialismo levado às raias do autoconhecimento em que mergulha profundamente, questiona o que está dentro e fora de seu ser, viaja por sua natureza, e nela encontra belezas que outros não puderam perceber, com detalhes e nuances potencialmente infinitos, que nas profundezas do Inconsciente mergulha, para depois emergir, trazendo para a superfície chamada Consciência, uma vasta coleção de percepções da Realidade, tanto de si mesmo, como de seu Mundo Interior de Fantasia, como da Realidade, passando a vê-la mais além do que com olhos de águia, enxergando com os olhos do Inconsciente, percebendo detalhes que ninguém se importou em ver antes.
O Asperger então, é um viajante, um peregrino como todo autista, um explorador, mergulhador de águas profundas das águas da alma humana, tendo como armas apenas sua sensibilidade, e sua visão de mundos mais completa, posto que complexa. Ele não apenas viaja por mundos, ele os explora em profundidade e o que ele vê em si mesmo reflete com espelho a realidade que vive, a realidade que tem dentro de si também, e neste sentido, podemos dizer: Todo Asperger é um artista, 1as vezes, inclusive sem perceber.Paradoxal? Incongruente? Contraditório?
Não, apenas...humano! Como seres duais que somos, a intrigante  e misteriosa natureza humana , se vista aos olhos da Consciência e da lógica parece cair em contradição com frequencia, mas ,ei, como se exigir lógica daquilo que há de mais ilógico e emocional que existe, que é este vasto oceano chamado Inconsciente?
Eis que pois, por surpreendente que pareça, alguns aspies podem correr toda esta jornada interna, que reflete dentro de si uma jornada externa, posto que traz para dentro de si e internaliza todos os detalhes do que ocorre na Realidade e ficarem tão entretidos dentro de si mesmos, absortos por tão complexa e abissal concentração de atenção voltada para dentro, que de vez em quando nem se dão conta da jornada maravilhosa que estão realizando.
Em suas peregrinações pela Realidade e Fantasia, absorvem as sensações e fatos da primeira para a segunda, onde tudo isto é destrinchado, meticulosamente dissecado, colocado em detalhes , percebido e  incorporado.
Alguns podem achar que Realidade e Fantasia sejam estanques e bem separadas uma da outra , numa relação dicotômica tão provável quanto a possibilidade de duas linhas paralelas se encontrarem.
Bom, é assim que outras pessoas fazem, e por isto não conseguem entrar na mente dos Autistas, dos Aspergers, e sem conseguir esta chave para entrar, não conseguem entender, e fazem do Autismo, da Asperger, um quebra cabeças cheio de mistérios. Então o que é para eles tão misterioso, complexo, intrigante ou até chocante, para nós é simples, tão simples que fica difícil explicar para eles em termos que eles sejam capazes de entender. Por quê?
Por que ambos tem, e vivem, experiências mentais diferentes entre si. As outras pessoas não vieram ao mundo com estas pontes e estradas ligando a Realidade à Fantasia e vice versa. Sim, vice e versa, por que enquanto uns separam dicotomicamente, outros veem uma relação dialética intensa de interação entre Realidade e Fantasia, em que uma não tem predomínio sobre a outra, o que nos permite não apenas ter uma vivência mais abrangente e completa, e mais feliz, por que não?
Afinal, temos, embutida na nossa Natureza, como item “de fábrica” uma poderosa válvula de escape que é acionada a cada vez que a Realidade(ou a Fantasia também) se torna dura demais, insuportável, enquanto que nas outras pessoas este “item” é opcional, ou não “vem” nem  “por encomenda”...rssss
Justamente pela falta desta válvula de escape da Realidade, muita gente recorre às drogas, alcoolismo, etc. Especialmente as pobres almas que ficam crentes de que Fantasia é sem importância ou mesmo prejudicial e deveria ser combatida- estes são os que mais sofrem com suas próprias limitações, pois só enxergam metade do quadro mental que nós pintamos. Ao contrário de nós, estas pessoas pintam um quadro superficial, feio , em tons de cinza nada sensuais, em que se vê só a tinta, e em que a transparência do espelho autista, Asperger, não está em absoluto presente. Na verdade, certas pessoas não-autistas
 na verdade, estão tão profundamente mergulhadas na realidade, com os pés tão firmemente enraizados no chão duro de seus pessimismos depressivos ao mesmo   tempo tanto assim superficiais(olha a contrariedade humana de nov aí, gente !) , que tem medo de encarar este espelho e olhar para o que estão pintando, ou só olham de soslaio,commedo de enfrentarem-se a si mesmos enquanto nos dizem para enfrentar a realidade para a qual eles mesmos não veem solução, mas que nós muitas vezes já a vislumbramos, pois somos beneficiados pela criatividade que eles não tem.
Então dá-lhe chamar a Introspecção de “déficit de Sociabilidade”, e “fuga da Realidade” o que na verdade é um superávit de percepções, eis que pois mais abrangente e complexa, de duas, e não apenas uma dimensão, e na verdade é um encontro com uma visão de si integrada e indissociável da realidade de si com a realidade do mundo.
A Sociabilidade começa com o enfrentamento e a boa relação da pessoa com si mesma. Se ela não for capaz de se relacionar bem com si mesma, não terá uma experiência de Sociabilidade feliz. Por isto muitas pessoas sociáveis são infelizes, por que fogem de si mesmas, procurando inconscientetemente por si mesmas em outras pessoas, transformando a experiência sensorial e emocional da Sociabilidade num inferno para suas vidas.
Aspergers se bastam a si mesmos por que encontram em si um oásis, e quando decidem buscar outras mentes, outros inconscientes a explorar, explorando a intrincada selva das relações sociais, o fazem em seu espírito de aventura, de buscar o novo, da ânsia de buscar e explorar novos mundo, oh, esta infinita curiosidade !
E como toda nova aventura, esta pode ser proveitosa e/ou sofrida, pois é um tempo de aprendizado, e nenhum saber é legítimo se não for sofrido, pois só se amadurece sofrendo.
Eis que pois, a Introspecção é bela e tem suas vantagens. Todas as pessoas, autistas ou não, tem seus momentos ou fases inteiras de introspecção. É algo natural, faz parte da essência de se ser um Ser Humano, e  faz  as pessoas mais sensíveis, lhes acrescenta beleza de coração e alma.
Mas, pelo visto, é uma particularidade, uma singularidade nossa, fazer da Introspecção uma Arte. E as grandes descobertas e as maiores obras de arte, aliás, são todas frutos da Introspecção. É necessário se isolar para criar, pois só assim, as portas para dentro de nós mesmos se abre para iniciarmos nossa bela jornada ao infinito de nós mesmo, indo de encontro à beleza humana !

Cristiano Camargo


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