A importãncia da Infraestrutura familiar para o desenvolvimento dos Autistas

Autistas variam entre si,na velocidade  de seu desenvolvimento e  de seu Processo de Amadurecimento, e muito, mas fica a pergunta:Porquê?

Por que o filho da fulana desenvolveu mais e mais rápido do que o meu, ou mais devagar que o de Ciclana?

Bom, isto envolve múltiplos fatores, mas um muito importante é o que abordarei  neste artigo:

A importância da infra estrutura familiar no desenvolvimento e maturidade dos autistas!

Muita gente me pergunta como me desenvolvi tão bem e cheguei no ponto de maturidade em que estou agora, se muitos ainda não chegaram.Vamos então analisar como se deu este desenvolvimento em relação 'a infra estrutura familiar que tive e tenho a meu favor.

Senão vejamos: eu sou filho de um cientista com formação médica e de uma socióloga/professora.

Eu tive pais que me deram uma educação voltada para a Ciência, Arte e Cultura desde muito cedo, e desde muito cedo fui incentivado a ler e escrever, e também ainda criança tive, através de meus pais, contato com a música clássica, o Jazz, a MPB.

Quando ainda menino, eu tinha com meu pai, discussões filosóficas que ele propunha, então aprendia "filosofar" com 8/9 anos de idade.

Algo que meu pai também fazia, que contribuiu muito para o meu desenvolvimento posterior foi me colocar diante do som da sala e colocar uma música clássica e me pedir para fechar os olhos e imaginar uma estória ouvindo a música e depois contar a estória para ele.

Isto abriu as portas do meu Mundo Interno de Fantasia para mim, e me incentivou a ser criativo , ao mesmo tempo que me levou mais tarde a escrever as estórias que eu inventava, me ajudou a entender e interpretar textos, a lidar com metáforas e perceber duplos sentidos e me concentrar no abstrato e me abstrair.

Sendo desafiado pelo meu pai com questões filosóficas como "É possível pensar o Impensável?" desde muito pequeno,aprendi rápidamente a raciocinar lógicamente e aperfeiçoar meus argumentos, buscando o raciocínio perfeito, estimulando muito, assim, a minha inteligência.Fui desenvolvendo, a partir daí, técnicas de raciocínio cada vez mais sofisticadas e complexas.

E minha mãe?

Eu desde bem pequeno presenciava as conversas dela com a amiga dela, chamada Dóris, sobre filosofia, história, política,literatura,sociologia, e a tudo escutava, intensamente interessado.Aquilo não apenas me fez adquirir cultura e conhecimentos, mas me fez adquirir espírito crítico e a sempre examinar as coisas mais profundamente de todos os lados, antes de opinar.Se hoje tenho um olhar crítico da História e da Sociedade, devo isto 'a minha mãe!

Outra coisa importante foi a atitude de meu pai de tratar a todos os três filhos da mesma maneira, sem fazer diferenças,sem superproteção, nem tratamento especial, sem dó ou condescendências tipo "coitadinho dele".

Isto também no fim me fez muito bem, porque ajudou a manter a minha auto estima para cima e estimulou a minha determinação, ao ser desafiado a me virar sozinho.

Na minha casa na velha vila dos professores universitários do campus da USP/Ribeirão Preto, onde cresci, não tinha desta de "-aqui, filhinho, tó aqui seu presentinho, aqui para você, que legal"...e sim:

-"Quer?Tem que fazer por merecer!Aqui não se ganha nada de graça, sem esforço!"

Outro fator foi justamente eu ter crescido num ambiente universitário, tendo como vizinhos, amigos e colegas outros filhos de professores universitários, com o mesmo grau de infra estrutura sócio-econômica-cultural que o meu, o que me incentivou a compartilhar da minha cultura com eles e aprender também.

Tendo vivido toda a minha vida na classe Média (até hoje) ,eu nunca passei fome na vida, nunca morei numa favela e nunca me vi no meio de um tiroteio, ou do tráfico de drogas, e meus pais sempre tiveram condições econômicas para manter-me vivendo sem preocupações financeiras , preocupações com sobrevivência ou subsistência, podendo eu me dar ao luxo de não me preocupar com estas coisas e me dedicar 'a literatura, e desenvolver meus potenciais artísticos e autodidatismo espontãneamente.

Mas infelizmente muitos autistas não tem a felicidade de ter pais tão esclarecidos, com capacidade sócio-econômica para sustentar tanta despreocupação com a vida e tenho sérias dúvidas  se eu teria desenvolvido tanto se tivesse nascido numa favela ou cortiço e tivesse tido que trabalhar num trabalho braçal desde pequeno.Provável que não e não teria recebido a cultura e o incentivo 'a cultura que recebi.

Então o nível sócio-econômico -cultural faz sim, muita diferença no desenvolvimento e no amadurecimento dos Autistas.

Autista bem incentivado 'a cultura, arte, ciência, filosofia desenvolve mais rápido e melhor !

Tenho a certeza, no entanto, que muitas das coisas que meus pais fizeram comigo quando criança custam pouco e são muito eficientes e dá para se usar com os filhos mesmo nos lares mais humildes, afinal, bibliotecas públicas, por exemplo, são de graça e um sonzinho simples e alguns CD´s de música também não custam tão caro.Os próprios pais lerem mais e aumentarem ainda mais cultura e passá-las para os filhos também não custa muito, mas ajuda muito.E pode ser a diferença entre desenvolver mais rápido ou demorar mais !

Só tenho a agradecer a meus pais o arcabouço e os incentivos que me proporcionaram, e penso que o exemplo deles pode ser útil, muito útil para quaisquer pais e mães de autistas !

Cristiano Camargo !