sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O papel do Pai na educação do Asperger









"Não existe um atleta vencedor sem um bom treinador!"

Como um pai deve ver seu(sua) filho(a) Asperger e qual a direção a tomar na hora de educar sua criança?
Bom, não posso, como sempre generalizar,nem falar por todos os filhos Asperger, já que cada caso é um caso e existem muitos fatores influenciantes.
Mas posso citar meu caso como exemplo, que é o que conheço mais profundamente, mesmo por que não cabe a mim julgar como os pais em geral criam seus filhos, mesmo por que isto seria um completo absurdo.
Quando digo, para horror de alguns(algumas) que o diagnóstico tardio em muitos casos pode ser benéfico e até fundamental para a superação em alguns deles,é por que minha experiência de vida como Asperger e filho me autorizam e me dão embasamento para afirmar isto.
Hoje em dia acredito que um dos fatores do sucesso de minhas superações foi justamente o fato de que, desde quando eu era criança meu pai sempre ter me tratado exatamente do mesmo jeito que os meus irmãos, com o mesmo rigor, severidade e exigências naturais de um pai, afinal, amor de pai não é um amor incondicional como de mãe, mas um amor exigente, que impôe limites e ensina valores. Nem por isto é menos amor, nem tem menos valor,ou menos válido, pelo contrário,é fundamental para a criança amadurecer.
Na época o diagnóstico sequer existia e ele sabia que de alguma forma eu era diferente, desconfiava de algum tipo de autismo, mas decidiu-se a tratar-me exatamente como os meus dois outros irmãos e a não fazer diferenças.E hoje penso, após amadurecer:será que eu teria superado tudo o que superei se tivesse sido tratado como um coitadinho, sendo super protegido e poupado de todos os traumas possíveis?Se tivesse sido tratado com condescendência, mimos e privilégios, ou até sem limites?
Para mim a resposta é clara:Não !
Penso que o Asperger precise de desafios,limites, barreiras e obstáculos para poder crescer, amadurecer, superar, aprender.
Isto é claro que impõe sofrimentos, angústias e depressões, mas também gera gana, garra, força de vontade para superar e vencer.
Se tudo for dado a ele de bandeja,ficará um ócio, um vazio, uma falta de sentido em sua vida, pois faltará um objetivo a alcançar, que lhe fará muito mal e ainda corre o risco de ele se acomodar eternamente naquela situação.E ele também não conhecerá limites de valores e comportamentais, o que pode gerar distorções e problemas comportamentais sérios, difíceis de tratar depois.
Algumas vezes não fazer diferença é fazer a diferença!
Então , para que o Asperger(e diria até o neurotípico também) poder crescer, aparecer, evoluir, aprender, superar, é necessário uma base sólida em cima da qual se apoiar,pois ninguém se levanta sem um chão para se firmar.E este solo não pode ser pantanoso, movediço.
A partir desta base firme e confiante, segura de si,que é o papel do pai que ele deve excercer na vida de sua criança,é com a própria criança, que deve decidir seus próprios caminhos,e cabe a ela,em consequência,reagir ou se deixar derrotar.Mas cabe ao pai apoiar, só que não acariciando a cabeça e consolando, mas agir como um treinador exigente para com seu atleta e incentivá-lo com entusiasmo, persistência e rigor, e é assim que ele vai ajudar o filho a se levantar , sacudir a poeira e dar a volta por cima, superar , vencer !
E isto não tem limite de idade para acontecer, pai e filho serão pai e filho a vida toda em que conviverem juntos.É uma linda ligação que nunca se desfaz!
Então penso que no fim, só tenho que reconhecer que ele , na vida dele, tomou as decisões corretas,que podem não ter sido as mais mimadas ,doces e superprotetoras(nem fáceisnem um pouco, nem para mim nem para ele),mas que foram eficientes a longo prazo.Demorei a entender e cooperar com elas, é verdade, mas nem cabe culpa a ninguém.Tive o privilégio desta base sólida e deste Treinador para a Vida rigoroso, que hoje sei que não são todos que tem ou tiveram, e só tenho a agradecer, afinal, mais do que tudo, valeu a pena, afinal, aqui estou de pé, e continuo a subir e escalar a Montanha da Vida,com determinação, lembrando sempre que o sentido de subir não é chegar ao topo, pois ele não existe, mas subir o quanto puder e vislumbrar lá do alto, contemplar a paisagem do passado e o horizonte do futuro , e me sentir tão alto quanto a montanha,sentindo os ventos do sucesso no rosto e no coração; e sinceramente espero que quando este dia chegar, eu não esteja contemplando sozinho, mas abraçado com meu pai diante de mais um por do Sol!



Cristiano Camargo

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