sexta-feira, 24 de março de 2017

Autismo: A questão do Toque e do Abraço



Autismo: A questão do toque e do Abraço

Muitos pais e mães ficam frustrados(as) por seus/suas filhos(as) Autistas muitas vezes rejeitarem o abraço ou mesmo o toque deles. E não só deles: de outros parentes, visitas, vizinhos, colegas, outros(as) crianças/adolescentes/adultos também, e ficam se perguntando: Por quê?
A resposta muito por decerto não será uma só, padronizada, como muita gente gostaria, mas muitas, pois o Autismo é imensamente variável e em consequência, os Autistas, idem, ou seja, não é possível, nem desejável, generalizar, pois nenhuma resposta será, honestamente, aplicável a absolutamente todos os casos.
Mas podemos sim aventar algumas hipóteses baseadas na Neurodiversidade e na Visão Positiva do Autismo e na vivência autística, mas é preciso lembrar  novamente que são apenas algumas  de inúmeras possibilidades e que certamente existem muitas outras, que não devem ser descartadas.
Uma delas se refere ‘as questões da Natureza do Mundo Interno de Fantasia  dos Autistas (abreviatura:M.I.F. em especial ‘ uma característica comum e universal do MIF:  A Previsibilidade.
O MIF dos Autistas é um mundo totalmente previsível, por que é o próprio Autista que o constrói como quer, de acordo com sua vontade,ele que define as formas e cores de tudo, ele que define as regras e leis que regem o mundo dele, e ele que define as personalidades dos personagens que habitam este mundo. Então, a previsibilidade lhe dá sensação de segurança e conforto. Só que a Realidade, pelo contrário, é, em muitos pontos, totalmente imprevisível, em especial, o comportamento humano. Esta imprevisibilidade, que se comporta de maneira diversa da que o Autista planejou para ela,é assustadora, posto que desconhecida, e suas consequências potenciais são ainda mais assustadoras, também por serem imprevisíveis e desconhecidas.
Assim sendo, o ato do abraço ou do toque, são , na interpretação do Autista,  imprevisíveis, especialmente se ocorrem de repente, quando ele está distraído, imerso em seus pensamentos ou no seu MIF, ou em alguma atividade que lhe agrada, onde está fortemente concentrado. E as consequências, também na interpretação dele, imprevisíveis, portanto, assustadoras, dado que tudo o que é desconhecido, é assustador.
A tendência será então o susto e a rejeição, a insegurança do que pode vir a acontecer depois.
Então fica a sugestão aos pais e mães de, antes de tentar tocar ou abraçar seu/sua filho/filha autista, caso se note que ele/ela rejeita o toque /abraço,primeiro procurar , na frente dele/dela, abraçar outras pessoas e/ou crianças (os irmãos dele/dela, por exemplo) na frente dele/dela, e combinar com a pessoa abraçada, de ambas as pessoas que se abraçam reagirem ao abraço sempre da mesma forma, e procurem repetir estes abraços na frente dele no dia a dia. Com o passar do tempo e das repetições, ele/ela gravará na mente tais reações, verá que o gesto do abraço é previsível, se sentirá mais seguro por saber exatamente o que esperar do abraço, e tenderá a  ele/ela mesmo(a) espontaneamente pedir o abraço e se deixar abraçar, lembrando sempre que, neste caso, deverá se reagir ao abraço dele/dela exatamente como foi feito com as outras pessoas antes.
Em outros casos, Autistas podem simplesmente não gostar do toque/abraço ou mesmo o considera-lo desagradável. Se for este o caso, o melhor é respeitar e não ficar tentando forçar toques e abraços, ou a insistência, especialmente se sitemática, o/a poderá levar a entrar em crise.
Outra possibilidade é a de o toque /abraço estarem interrompendo/atrapalhando a concentração dele/dela no meu MIF , nos seus pensamentos, nas atividades que ele gosta, o que o poderá deixar irritado. Então, nada de “grude”, vamos deixar que o “grude” seja espontâneo da parte dele para então corresponder, e vamos evitar de ficar abraçando, tocando e beijando quando ele/ela estiver visivelmente muito concentrado/a em alguma coisa, nestes momentos, o que o/a Autista quer , é ser deixado(a) em paz, sem interrupções, especialmente frequentes.
Então é isto, espero que estas dicas lhes possam ser úteis !

Cristiano Camargo !

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