quarta-feira, 5 de julho de 2017

Representatividade Cênica do Autismo nas Mídias





Me perguntam o que eu acho da personagem "autista" da novela Malhação, da Globo. Bom, eu não assisto a Globo, então estou por fora.Porém, a grande dificuldade de se fazer uma personagem Autista/Asperger, é que somos tão variados, que um só personagem não conseguiria nos representar.Outra questão é a de que a maioria dos personagens pretensamente Autistas/Aspergers é pautada sendo representada e sendo representante, de estereótipos ligados ao tema, e a mídia, na hora de fazer as apresentações, sempre escolhe uma abordagem patologizante , espectrista e reducionista, qdo não infantilizante,das personagens Autistas/Aspergers, com aquela mentalidade doentia midiática de "quem de ter algum problema, precisa mostrar algum problema, alguma doença, para o público aceitar".Por isto, não acredito que a Grande Mídia seja capaz de fazer uma representação mais realística, muito menos positiva.É preciso muito tato e sensibilidade para compor uma personagem Autista/Asperger, e o ideal seria um programa ou novela, onde várias personagens fossem Autistas/Aspergers, e fossem bem diferentes entre si, justamente para mostrar nossa diversidade, não uma só, uma só é muito limitada. E ideal seria uma atriz ou um autor que fossem Autistas/Asperger, para melhor representar, pq é difícil demais uma pessoa neurotípica representar com fidelidade, de modo não caricato, uma personagem Autista/Asperger.,e se o roteirista fose Autista/Asperger, seria mais representativo e fiel ainda! Não posso falar por ninguém, mas posso citar meu caso: as personagens Autistas/Aspergers de meus livros são extremamente diferentes entre si em comportamento ,personalidade e visão de vida: A Lune é muito diferente da Felícia, que é muito diferente do Damian, que é muito diferente do Takeo, e por aí vai, para não me estender muito.Falta diversidade na representação cênica do Autismo, e , penso eu, é errada esta abordagem da mídia (e da espectativa das Comunidades de Autismo em geral sobre isto) , de tentar representar o Autismo e/ou os Autistas na tela com uma só personagem, pois não existe um Autista/Asperger padrão, nem 3, existem milhões de Autismos/Aspergers diferentes, completamente diferentes entre si, de um modo que nunca uma novela, um programa, um filme, vai representar a todos os Autistas/Aspergers, mesmo que tenha uma dezena de personagens assim, muito menos com um só- por isto que a maioria das pessoas não sentem-se representadas, e muitas mães sentem seus filhos representados, nestas novelas- é impossível representar todos os Autistas/Aspergers com uma só personagem, ou poucas.E é isto que as pessoas precisam ter em mente antes de criticar a falta de representatividade das novelas.Sim, as novelas erram, e muito, e o primeiro erro está em querer representar tudo com um só, outro é querer mostrar uma caricatura de Autista e outro é a abordagem patologizante, sob a mentalidade estilo "ela é uma gracinha e vence as dificuldades APESAR de ser Autista". É o "apesar" que dói, que discrimina, que mostra o preconceito, a hipocrisia de uma falsa inclusão-tentar incluir inferiorizando perante as demais personagens.O dia em que as pessoas libertarem os Autistas do "Apesar", poderemos começar a falar em inclusão de verdade !

Cristiano Camargo


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